segunda-feira, 2 de julho de 2012

A ideia de Espanha está se esfiapando, assim como a economia do país



Envolvidos em reajustes, cortes, resgates, taxas de risco e outras situações horrendas, não percebemos como a Espanha está se esfiapando e, sobretudo, a ideia de Espanha. Há pouco tempo falávamos da deterioração das instituições nacionais e o assédio que estavam sofrendo. É um assédio geral do qual não se salvam nem as mais solenes. E naturalmente um país sem instituições sólidas e respeitadas pela maioria é um país destinado a uma crise política tão iminente quanto grave.
Agora se acrescenta um rompimento do próprio conceito de nação espanhola, que não parece soldar-se nem com os êxitos da seleção de futebol. “Qual a novidade?”, perguntará algum leitor farto de tanta literatura sobre a coesão territorial, o mercado único interno ou a solidariedade entre as regiões. Pois sim, senhores, há novidade, embora seja procedente de algo tão indiscutível quanto as pesquisas, mas não temos outro sistema de auscultar a opinião pública.
E essa opinião acaba de lançar duas mensagens, que vou citar por ordem de entrada em cena. Em primeiro lugar, a intenção de voto no País Basco. Somados os que querem votar em Bildu e no PNV dão três quartos da população. Os partidos que defendem a unidade do Estado espanhol só seduzem uma minoria. E, de acordo com pesquisa do CEO sobre o apego dos catalães à nação espanhola, pela primeira vez são maioria os que querem a independência.
Não é preciso viver na Catalunha para perceber essa inclinação há tempos. O que mais surpreende o visitante é comprovar como a palavra "independência" é valorizada pelos setores mais jovens como sinônimo de modernidade. Dirigentes como Sánchez-Camacho o comunicaram também assim à direção do Partido Popular.
E o mais impressionante não é a porcentagem de cidadãos que votariam sim na independência da Catalunha, mas o baixíssimo índice dos que claramente votariam em continuar na Espanha: 21,1%.
Por que se chegou a essa situação deve ser interpretado pelos sociólogos. Para um cronista político, é o dado mais negativo que já vi sobre a consistência da Espanha como nação. Começou pelo famoso desapego, passou pela frívola denúncia de que a Espanha rouba a Catalunha, avançou pela identificação da Espanha com a crise, se temperou com a necessidade de separar as contas e desemboca na vontade de sair.
É aí, senhores governantes, onde sangra a chamada marca Espanha. Monta-se todo um esquema político e empresarial para recuperar prestígio no exterior, porque é onde estão os negócios e a possibilidade de exportar. Muito bem, é preciso fazê-lo. Mas, diante dos dados, este cronista se permite sugerir que o déficit mais grave da marca Espanha, o que faz mudar a história e não os mercados, começa a estar no interior. E é isso que desfia uma nação. O deficit mais grave da marca Espanha, o que faz mudar a história, começa a estar no interior.
Texto de Fernando Ónega.


Tradutor:
 Luiz Roberto Mendes Gonçalves


Do La Vanguardia, reproduzido no UOL.


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