Continuidade golpista
RIO DE JANEIRO - Com cláusulas democráticas na maioria dos tratados regionais, os golpes na América Latina agora vêm embrulhados em aparência de legalidade. Mas existe uma continuidade clara entre o que aconteceu no Paraguai e intervenções militares do passado.
Os golpes da Guerra Fria, saudados na região pelas marchas "com Deus pela liberdade", ocorreram, em última instância, para evitar a democratização da propriedade, por meio das reformas agrária e urbana.
O anticomunismo tinha bases reais, mas aqui justificou o veto a medidas distributivas que já vigoravam nos países avançados e que -para vencer a batalha ideológica da época- os americanos impuseram ao Japão depois da Segunda Guerra.
Sob ditaduras concluiu-se a "modernização conservadora" regional, preservando a estrutura de antigas sociedades rurais. Por isso, boa parte do campo brasileiro continua sendo uma teia de grilagens e irregularidades, semelhante à que os brasiguaios que apoiaram a deposição de Fernando Lugo pretendem preservar.
Um estudo publicado neste ano pela ONG britânica Oxfam, com dados do Banco Mundial e da OCDE (clube de países industrializados), mostra com números a situação defendida pelas forças que depuseram Lugo, por sua vez inepto e fraco demais para promover mudanças.
As pequenas propriedades rurais são 83,5% do total no Paraguai, mas ocupam só 4,3% das terras cultivadas. Num país com mais de 50% de pobres, carente de políticas sociais, a carga tributária é de 13,7% do PIB -é de 35% no Brasil e de cerca de 20% na média dos latino-americanos.
O sistema tributário paraguaio é regressivo ao extremo. Pessoas físicas não pagam Imposto de Renda e dois terços do que o governo arrecada vêm de taxas sobre consumo. Os negócios agropecuários -cerca de 30% da economia- contribuem com apenas 1% dos impostos pagos.
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