Colombiano lembra que relatos históricos são narrativa
Juan Gabriel Vásquez, que lança "História Secreta de Costaguana", debate tema com espanhol Javier Cercas
DE SÃO PAULO
Numa passagem de "História Secreta de Costaguana", recém-lançado no Brasil, o colombiano Juan Gabriel Vásquez brinca com os que documentam a história.
"Porque no meu país estavam a ponto de suceder coisas do tipo que os historiadores sempre acabam registrando em seus livros, perguntando-se entre sonoros pontos de interrogação como foi possível que chegássemos a isto e em seguida respondendo eu sei, eu tenho a resposta."
O romance mescla fabulação e história. Pela voz de um compatriota expatriado queixoso de ter sido usurpado por Joseph Conrad (que lhe roubou a ideia para escrever "Nostromo"), Vásquez passeia pela Colômbia dos séculos 19 e 20, de quando o Panamá ainda pertencia ao país (1820 a 1903), incluindo a saga da construção do canal.
Elogiada por Vargas Llosa, Carlos Fuentes e Vila-Matas, a obra deste bogotano de 39 anos tem em conta que a história é também uma criação.
"Um dos temas que exploro no romance é o de como é necessário recordar sempre que a história é um relato, só a conhecemos porque a contou um narrador, com preconceitos, com agenda política, pontos de vistas e conhecimentos limitados", diz Vásquez à Folha por telefone de Barcelona, onde vive.
"Recordar constantemente que a história é só uma das versões possíveis nos permite seguir sendo céticos. Essa é uma ética muito necessária para um romancista, que é alguém sempre em constante tensão com a história oficial."
É justo sobre esse tema que o autor conversa hoje na Flip, às 17h15, com o espanhol Javier Cercas, cuja obra aborda questões semelhantes, na mesa "Ficção e História".
Vásquez deixou a Colômbia em 1996, numa época em que o país vivia uma fase aguda da guerra contra o narcotráfico. Teve amigos assassinados, escapou de bombas por minutos. Nega ter saído só por isso, mas diz que a violência facilitou a decisão.
Na Europa, à distância, virou um "investigador obsessivo" do seu país, que considera ainda "obscuro, muito difícil de entender".
Conrad, um dos autores favoritos de Vásquez, de quem já escreveu uma pequena biografia por encomenda, abriu os olhos do autor para como escrever sobre a Colômbia.
"Achava que meu país era uma zona obscura e isso me dificultava. Ele me fez ver que o fato de não entender o país era a melhor razão para escrever sobre ele." (FABIO VICTOR)
HISTÓRIA SECRETA DE COSTAGUANA
AUTOR Juan Gabriel Vásquez
TRADUÇÃO Heloisa Jahn
EDITORA L&PM
QUANTO R$ 42 (264 págs.)
AUTOR Juan Gabriel Vásquez
TRADUÇÃO Heloisa Jahn
EDITORA L&PM
QUANTO R$ 42 (264 págs.)
Texto publicado na Folha de São Paulo, de 5 de julho de 2012.
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