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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Brasileiros reconstituem rosto pré-inca

Brasileiros reconstituem rosto pré-inca

PHILLIPPE WATANABE
DE SÃO PAULO

Um cadáver repousa sobre uma placa de ouro. O corpo está junto a um capacete que forma uma meia-lua. Na tumba, estão presentes ainda dois guardas, enterrados junto ao esqueleto. Esse é o Senhor de Sipán, governante, entre os séculos 2 e 3, de uma civilização peruana pré-Inca, os Moches.
Os restos do esqueleto foram descobertos em 1987.
Paulo Miamoto, professor de odontologia da Faculdade São Leopoldo Mandic, e Cícero Moraes, vice-coordenador da Ebrafol (Equipe Brasileira de Antropologia Forense e Odontologia Legal), usando somente um smartphone e seu potencial de processamento, conseguiram reconstituir em 3D como seria a aparência do governante.
A utilização de um smartphone para fotografar o crânio foi especificamente pensada para mostrar como o processo pode ser reproduzido por outras equipes sem a necessidade de aparelhos caros e sofisticados. Da mesma forma, a reconstituição foi feita com um software gratuito de código aberto.

SENHOR DE SIPÁN

Com o estudo da ossada, foi possível, determinar que se tratava de um homem entre 35 e 50 anos. Os restos são mantidos no acervo arqueológico do Museu Tumbas Reais de Sipán, em Lambayeque, no Peru.
Quando pensamos em governantes de eras pré-Estado Moderno, é possível imaginar mortes sangrentas, conspirações pelo trono e traições.
Contudo, pelo menos a parte da violência ficou de fora da morte do Senhor de Sipán, ainda que sua causa exata não seja conhecida. O crânio acabou esmagado pela ação do tempo e pelo peso do solo acumulado sobre a tumba.
Os restos do governante colocaram em evidência, na região da descoberta, a importância da preservação da cultura e da história. "As pessoas da zona rural, pelas poucas fontes de renda, estavam saqueando sítios arqueológicos", afirma o professor Miamoto.

ATUALIDADE

Miamoto é também coordenador da Ebrafol e pesquisa identificação humana. Ele afirma que, além de contribuir para preservação da história, estudos como a reconstituição realizada têm objetivos forenses.
"Quando existe uma ossada e não há ninguém procurando por ela, alguém pode reconhecer a reconstrução do rosto e entrar em contato", diz Miamoto.
"Pode melhorar a produção da prova pericial."
O pesquisador afirma que o próximo desafio, já em negociação, é fazer a reconstituição facial de duas múmias egípcias.


Reprodução da Folha de São Paulo

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Conheça a bizarra história do suposto 'evangelho da mulher de Jesus'

Conheça a bizarra história do suposto 'evangelho da mulher de Jesus'


REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


O "Evangelho da Mulher de Jesus" –um misterioso fragmento de papiro de 1.300 anos de idade no qual o próprio Cristo afirma ser casado– provavelmente é uma fraude, admitiu a historiadora da Universidade Harvard (EUA) responsável por publicar o texto pela primeira vez.
Revelações sobre o proprietário do papiro, Walter Fritz, um empresário alemão radicado na Flórida, vieram a público num artigo que estará na edição de julho da revista americana "The Atlantic". A investigação da revista revelou fortes indícios de que Fritz tinha tanto capacidade técnica quanto motivação para forjar o texto.
"Ele basicamente mentiu para mim", declarou à publicação Karen King, especialista em história do cristianismo primitivo que concordou em analisar o fragmento a pedido do empresário, sob a condição de não revelar o nome dele, e que divulgou seu conteúdo durante uma conferência em Roma, em 2012.
Como era de se esperar, o "Evangelho da Mulher de Jesus" chamou a atenção de milhões de pessoas mundo afora. Em copta, o idioma nativo do Egito na época do Império Romano, o texto (do tamanho de um cartão de crédito) continha frases como "Jesus disse a eles: 'Minha mulher'" e "Quanto a mim, habito com ela". Com base em outros textos cristãos antigos, especulou-se que a mulher seria Maria Madalena.
Parecia ser um manuscrito tardio demais para trazer informações relevantes sobre a figura história de Jesus, tendo sido escrito centenas de anos depois de sua morte. Mesmo assim, Karen defendia que a existência do fragmento poderia influenciar o debate sobre sexualidade e celibato nos primeiros séculos do cristianismo.
Para ela, o papiro era um indício de que ao menos algumas correntes cristãs não viam incompatibilidade entre casamento (e sexo) e liderança religiosa.
Logo que imagens do fragmento vieram a público, porém, especialistas questionaram sua autenticidade. Havia esquisitices na caligrafia e no aspecto "limpo" do papiro. E trechos pareciam ter sido simplesmente copiados de outro manuscrito copta famoso, o Evangelho de Tomé, que contém enigmáticos ensinamentos atribuídos a Jesus.
Em 2014, essas dúvidas receberam um golpe quando a Universidade Harvard anunciou o resultado de testes de carbono-14 (método padrão de datar matéria orgânica antiga, o que inclui o papiro) e de análises da tinta. O papiro em si teria sido produzido por volta do ano 750 da Era Cristã, e a tinta era semelhante à encontrada em manuscritos típicos da época entre os anos 400 e 800 d.C.
Isso, porém, não calou os críticos: não seria impossível que um falsificador tivesse comprado um papiro antigo e criasse uma tinta caseira com características semelhantes às usadas entre o fim da Antiguidade e o começo da Idade Média para tentar enganar os especialistas.

COPTA E PORNÔ

Disposto a desfazer o mistério, o repórter Ariel Sabar, da "Atlantic", passou a rastrear como o papiro teria sido passado de mão em mão ao longo das décadas, e o resultado foi uma trama bizarra envolvendo egiptologia, misticismo e pornografia caseira que parece ter saído do best-seller "O Código da Vinci".
Walter Fritz dissera ter comprado o papiro de seu conterrâneo Hans-Ulrich Laukamp, dono de uma pequena fábrica de peças automotivas que também se mudara para os EUA. Laukamp, por sua vez, teria mostrado o fragmento, nos anos 1980, a dois egiptologistas da Universidade Livre de Berlim, que assinaram cartas dizendo ter identificado trechos de antigos textos cristãos no papiro.
Acontece que Fritz não guardou os originais de nenhum desses documentos – só cópias ou fotografias. Além disso, ele declarou à historiadora que era só um colecionador curioso e que não tinha ligações com a comunidade acadêmica.
Não era verdade, descobriu o repórter do "Atlantic" após viagens para a Alemanha e para a Flórida. Fritz fizera mestrado em egiptologia na Universidade Livre de Berlim (poderia, portanto, forjar o texto).
Laukamp, suposto dono original, era um sujeito simples que nunca se interessou por antiguidades ou cristianismo primitivo, segundo seus parentes –mas foi sócio de Fritz, que poderia ter forjado a assinatura do ex-sócio no contrato de venda.
Como se não bastasse, a mulher de Fritz é autora de um livro de "escrita automática" no qual afirma receber revelações místicas de anjos, e os dois mantiveram durante anos um site pornô caseiro no qual o alemão exibia filmes dela fazendo sexo com outros homens (cerimônias com sexo grupal teriam sido parte das tradições de antigos grupos cristãos não ortodoxos, segundo seus detratores).
Em entrevista à "Atlantic", Fritz alegou ter sido abusado sexualmente por um padre na infância e defendeu que os Evangelhos gnósticos –que costumam dar papel de destaque a Maria Madalena– seriam historicamente mais confiáveis do que os da Bíblia, opinião que quase nenhum especialista adota hoje. Fritz ainda convidou o repórter da revista a escrever um romance no estilo de "O Código da Vinci" em parceria com ele.
Tudo isso levou Karen King a admitir que "a balança agora pende a favor da ideia de falsificação", já que Fritz omitiu todas as informações relevantes sobre si mesmo. "Nunca mais concordarei em fazer esse tipo de estudo com base num doador anônimo. Aprendi minha lição", declarou ao jornal "Boston Globe".
Para o frei Jacir de Freitas, franciscano que é um dos principais especialistas do Brasil em textos cristãos apócrifos –que não foram incluídos na Bíblia–, o aparecimento de falsificações desse tipo é natural, considerando o imenso interesse do público sobre o que teria realmente acontecido durante a vida de Jesus.
Por outro lado, isso não altera o fato de que a participação das mulheres na Igreja primitiva provavelmente foi muito intensa, lembra. "Certamente havia mulheres com papel de liderança ativa, e Maria Madalena se tornou uma espécie de símbolo para elas", afirma.


Reprodução da Folha de São Paulo

terça-feira, 17 de maio de 2016

Mergulhadores acham estátuas e moedas da época romana em Israel

Um conjunto de estátuas, moedas e outros objetos com 1.600 anos de antiguidade foi encontrado na área do antigo porto de Cesareia, na mais importante descoberta do tipo em 30 anos, anunciaram as autoridades israelenses.
Os israelenses Ran Feinstein e Ofer Raanan encontraram por acaso objetos de bronze quando praticavam mergulho em abril, informou a Autoridade de Antiguidades de Israel.
Os dois alertaram o governo e outros mergulhos permitiram encontrar vários objetos do período romano tardio, vestígios da carga de um navio mercante que aparentemente transportava metal destinado a ser reciclado ou derretido.
Foram encontrados no porto mediterrâneo uma lâmpada de bronze com a imagem do deus Sol, uma estátua da deusa Lua, uma lâmpada com a efígie de um escravo africano, fragmentos de estátuas de bronze e peças com o formato de animais, assim como âncoras e diversos objetos de navegação. A carga também contava com antigas peças de moeda que pesam 20 kg.
Estas peças têm a imagem do imperador Constantino, que reinou primeiro na parte ocidental e depois em todo o império romano até sua morte no ano 337, e a de Licínio, seu rival que reinou na parte oriental e foi derrotado em 324.
Jacob Sharvit, diretor da unidade marítima da Autoridade de Antiguidades, afirmou que o navio aparentemente foi surpreendido por uma tempestade na entrada do porto. Depois ficou à deriva até bater contras as rochas e o dique, após uma tentativa de usar as âncoras, que se romperam pela força das ondas e do vento.
"Não encontramos em Israel uma carga marítima como esta há 30 anos", afirmaram Jacob Sharvit e seu auxiliar Dror Planer, citados em um comunicado. "As descobertas de estátuas de metal são raras porque na Antiguidade eram derretidas", destacam.
Cesareia foi construída pelo rei da Judeia, Herodes, no século I antes de Cristo. Seus importantes vestígios das épocas romana e medieval fazem desta localidade uma das grandes atrações de Israel.


Reprodução da Folha de São Paulo

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Unesco denuncia saque arqueológico em escala industrial na Síria

Unesco denuncia saque arqueológico em escala industrial na Síria

Estado Islâmico realiza tráfico de objetos antigos para financiar jihadismo

Síria um saque arqueológico em escala industrial, denunciou nesta quarta-feira a Unesco, ressaltando a necessidade de lutar contra o tráfico de objetos de arte que servem para financiar o jihadismo.

As imagens de satélite e o fluxo de objetos antigos observado nos mercados clandestinos são a prova de um "saque em escala industrial", através de "milhares de escavações arqueológicas ilegais", ressaltou a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, em uma coletiva de imprensa em Sofía.

"Limitar o tráfico de objetos de arte é neste momento a prioridade número um", especialmente porque "serve para o financiamento dos extremistas", disse Bokova, convocando os países da UE, em particular, a "consolidar sua legislação para frear" este fenômeno.

Paralelamente às destruições de caráter ideológico dos sítios antigos, o EI realiza tráfico de objetos antigos, escavados sem cerimônia neste país que é rico em patrimônio histórico. Imagens de satélites da ONU mostraram no dia 1 de setembro adestruição pelos jihadistas do templo de Bel, tesouro da cidade antiga de Palmira, um "crime intolerável contra a civilização", segundo a Unesco.

Reprodução do Correio do Povo

domingo, 23 de agosto de 2015

Chacina neolítica

Chacina neolítica

Há 7.000 anos, ataque na Europa deixou 26 torturados e mortos, reforçando a noção de que violência é indissociável da vida tribal e da história humana
RICARDO MIOTOEDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"

Foi uma chacina. Antes de morrerem, as 26 vítimas foram torturadas. Primeiro, tiveram as pernas quebradas, para que não fugissem. Depois, foram agredidas na cabeça e em outras partes do corpo. Havia crianças, que apanharam do mesmo jeito.
Aconteceu há 7.000 anos.
Os corpos foram despejados sem cuidado em uma vala comum. Só não restaram ossos de mulheres jovens, que provavelmente foram tomadas para fins sexuais.
A história foi contada por pesquisadores alemães que analisaram um sítio arqueológico a 20 quilômetros de Frankfurt. O estudo foi publicado na revista "PNAS".
A vala foi encontrada por operários que abriam uma rodovia. Eles chamaram os arqueólogos, que ficaram impressionados. "Poucas vezes se viu em um sítio violência tão extrema e generalizada", diz Christian Meyer, da Universidade de Mainz.
Os danos nas ossadas permitem saber que foram utilizados tanto porretes quanto flechas e, pelo caráter sistemático do estrago, que tudo foi feito de forma deliberada.
Os ossos não permitem saber isso, mas os pesquisadores acreditam que o episódio tenha seguido o modelo padrão dos ataques em sociedades tribais. Não há "fair play": as ações são sempre de surpresa, em geral de noite, quando as vítimas, já dormindo, estão mais indefesas.
Como os agrupamentos humanos de então agregavam não mais do que algumas dezenas de pessoas, em geral aparentadas, é de se imaginar que essa comunidade tenha sido exterminada.
Não se sabe quem são eles –curiosamente, na arqueologia a história é contada pelos perdedores, que deixam seus cadáveres–, mas é possível que fossem até vizinhos. A convivência entre os grupos primitivos tende a ser tensa, e a linha que divide a simpatia da emboscada é tênue, apontam os autores do estudo.
No caso desses povos da Europa do neolítico, período final da Idade da Pedra em que os humanos começam a ficar sedentários e a plantar, arqueólogos têm encontrado com frequência restos de humanos vítimas de violência.
"Tem ficado muito evidente que a aniquilação de unidades sociais inteiras em massacres foi característica crucial da vida pré-história. Era, aliás, a estratégia de guerra mais poderosa", escrevem os autores.

CONSEQUÊNCIAS

Se os arqueólogos estiverem certos, há impactos na história e até na filosofia.
No primeiro caso, seria errado o senso comum de que o mundo nunca foi tão violento. Mesmo com guerras mundiais e bombas atômicas, a taxa de homicídios seria bem mais elevada em sociedades tribais –pense que, se dez pessoas são mortas em um grupo de 50, proporcionalmente é como se 40 milhões de brasileiros morressem de uma vez.
Na filosofia, estaria errada a ideia de Rousseau (1712 - 1778) de que o homem é naturalmente bom, mas acaba degenerado pela sociedade. "O conceito de bom selvagem não é científico", diz Meyer à Folha. "Temos firme evidência de que a violência sempre foi parte do repertório humano."
Também argumentam nessa linha pesquisadores como Napoleon Chagnon (autor de "Nobres Selvagens", publicado neste ano pela Três Estrelas) e Steven Pinker ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza", Companhia das Letras, 2013).
Arqueólogos vivem encontrando, entre resquícios de povos primitivos, armas como porretes, pouco úteis para a caça, mas muito adequados para bater no outros.
"Por décadas, 'antropólogos da paz' negaram que humanos já tivessem sido canibais, mas indícios em contrário se acumulam", escreve Pinker, citando proteína humana encontrada em cacos de panela. "Condenação certa."
Desse ponto de vista, a pergunta não é o que leva as pessoas a atacarem as outras –ficam assim absolvidas a televisão, os jogos violentos, a decadência moral, a sociedade opressora. A questão é o que faz com que as pessoas não se agridam. Afinal, de alguma forma os terríveis vikings acabaram dando nos bonzinhos dinamarqueses e suecos.
Pinker sugere que a resposta passa pela maior quantidade de redes de reciprocidade, como o comércio, que tornam os outros humanos mais úteis vivos do que mortos –ou seja, não há mudança "moral", mas de interesses.
Ele cita ainda que, em uma sociedade sofisticada, a violência é menos eficiente. Se mato meu colega de trabalho, não fico com seu dinheiro, sua casa nem sua mulher –e ainda vou perder o emprego e provavelmente ser preso.
Ser preso: "Quando eu era adolescente no pacífico Canadá, nos românticos anos 1960, ridicularizava a ideia dos meus pais de que o caos ocorreria se o governo abrisse mão das armas", escreve Pinker.
"Mas, quando a polícia de Montreal entrou em greve em 17 de outubro de 1969, já de manhã um banco foi roubado, ao meio-dia as lojas fecharam por causa de saques e taxistas incendiaram uma locadora de limusines que competia com eles no aeroporto. Tiveram de chamar o Exército."
O psicólogo cita Winston Churchill, que sucedeu a Neville Chamberlain, pacifista primeiro-ministro britânico que fez concessões a Hitler: "A história humana é a guerra. Exceto por breves e precários intervalos, nunca houve paz; bem antes de a história começar, o conflito assassino era universal e interminável".


Reprodução da Folha de São Paulo

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

EI decapitou ex-diretor do sítio de Palmira, diz Síria

Khaled al-Assad teria sido morto porque era o responsável pelos 'ídolos' da cidade
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O diretor de Antiguidades e Museus da Síria, Maamum Abdelkarim, disse nesta quarta (19) que a milícia Estado Islâmico decapitou Khaled al-Assad, 81, ex-chefe de antiguidades de Palmira entre 1963 e 2003.
Famosa por suas ruínas do Império Romano, a cidade foi dominada pelo grupo em maio passado. A morte foi noticiada pela imprensa estatal e pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos.
Assad, que não tem parentesco com o ditador Bashar al-Assad, era um dos principais arqueólogos da Síria.
Abdelkarim diz que ele foi capturado em julho, com o filho, Walid, atual diretor de antiguidades de Palmira.
Funcionários do serviço de arqueologia acreditam que os terroristas o mataram porque o ex-diretor não teria revelado onde foram escondidas as antiguidades da cidade antes da chegada da milícia.
Dias depois, Walid foi liberado pelo EI porque sofria de uma doença crônica.
A mídia estatal e o Observatório Sírio dizem que Assad foi decapitado diante de dezenas de pessoas.
Imagens obtidas por ativistas da oposição síria, cuja autenticidade não foi comprovada, mostram o corpo que seria de Assad ao lado de uma das colunas da cidade.
Nas imagens também aparece um cartaz em que os extremistas o acusam de ser um partidário do regime sírio, por ter ido a reuniões no exterior "com infiéis", e de ser o diretor de "ídolos" de Palmira.
Formado em história e pedagogia pela Universidade de Damasco, Assad escreveu vários livros e artigos sobre Palmira. Na cidade, descobriu diversos cemitérios antigos, incluindo um nos jardins do museu da cidade.


Reprodução da Folha de São Paulo

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Mastodontes sumiram antes da chegada do homem ao Alasca, afirma estudo

Os mastodontes, os gigantescos primos dos mamutes e dos elefantes, provavelmente desapareceram do Alasca e de Yukon (território do extremo noroeste canadense) muito antes da chegada dos humanos ao longo do estreito de Bering, vindos da Ásia, afirmaram cientistas nesta segunda-feira (1).

Antes se acreditava que os mastodontes tivessem perambulado pelo Ártico lado a lado com os primeiros colonos humanos, de 13.000 a 14.000 anos atrás, mas novas evidências sugerem que eles desapareceram dezenas de milhares de anos antes e não foram caçados até entrar em extinção.

Agora, os cientistas acreditam que os mastodontes provavelmente só viveram no Ártico por um curto período, cerca de 125 mil anos atrás, quando existiam ali florestas e pântanos e as temperaturas eram mais quentes.

"A residência dos mastodontes no norte não durou muito", afirmou o principal autor do estudo, Grant Zazula, paleontólogo do Programa de Paleontologia de Yukon.

"O retorno às condições frias, secas e glaciais, junto com o advento das geleiras continentais, por volta de 75 mil anos atrás, acabou com seus hábitats", prosseguiu.

Depois de muito pensar sobre como os mastodontes, conhecidos por comer brotos e folhas, sobreviveram no gelado Ártico, os cientistas reexaminaram 36 ossos e dentes de mastodontes em coleções em museus.

Usando novas técnicas que eliminaram o potencial de contaminação de materiais modernos preservados, os cientistas descobriram que todas as amostras eram muito mais antigas do que se pensava anteriormente.

Os cientistas informaram em artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences que a maioria superou os 50 mil anos, segundo datação com rádio-carbono.

O mastodonte americano viveu em uma era conhecida como Pleistoceno tardio, entre cerca de 10.000 e 125.000 anos, em toda a América do Norte, na costa ártica do Alasca e até na tropical Honduras.

"Os dentes do mastodonte eram eficientes em desfolhar e esmagar brotos, folhas e caules de arbustos e árvores. Então, seria improvável que tivessem conseguido sobreviver nas regiões cobertas de gelo do Alasca e de Yukon, no primeiro período glacial total, como sugeriam as datações de fósseis anteriores", afirmou Zazula.

As descobertas indicam que os seres humanos não teriam sido os responsáveis pela extinção das criaturas há 75 mil anos atrás, uma vez que ainda não tinham cruzado o estreito de Bering.


Reprodução do UOL Ciências.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Bilhetes mostram cotidiano medieval russo


Bilhetes mostram cotidiano medieval russo

Por DAVID M. HERSZENHORN

VELIKY NOVGOROD, Rússia - O bilhete era o tipo de lista rotineira de compras. Na Rússia do século 14, foi gravada na casca de uma bétula e enrolada para formar um rolo.
"Mande-me uma camisa, uma toalha, calças, rédeas e, para minha irmã, mande tecido", escreveu um pai chamado Onus a seu filho, Danilo. As letras de forma do idioma antigo novgorodiano, precursor do russo, foram gravadas na madeira. Onus concluiu a carta com um toque de humor. "Se eu estiver vivo, pagarei pelas coisas", escreveu.
Esse e uma dúzia de outros rolos de casca de bétula estão entre as descobertas da temporada de escavações arqueológicas deste ano, somando-se a mais de mil documentos descobertos em Veliky Novgorod depois de passarem centenas de anos soterrados na lama. "Novgorod está para a Rússia como Pompeia está para a Itália", disse Pyotr G. Gaidukov, do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências. "Só que Novgorod continua viva."
Escritos em linguagem coloquial, os documentos de casca de bétula formam uma espécie de trilha sonora humana aos outros artefatos encontrados na região. Há registros de transações comerciais, inventários de bens, cartas trocadas entre familiares e até cartas de amor.
"Case-se comigo", escreveu um homem chamado Mikita a uma mulher chamada Anna, numa carta escrita em casca de bétula entre 1280 e 1330. "Eu quero você e você me quer."
Arqueólogos dizem que, depois de decifrados por linguistas, os documentos infundem vida a todas suas outras descobertas.
"Para nós, eles abrem um caminho, uma janela sobre o cotidiano e as relações das pessoas", comentou Sergei Yazikov, que comandou uma escavação na rua Bolshaya Moskovskaya.
Situada numa curva do rio Volkhov, Veliky Novgorod teria sido fundada pelo chefe varegue Rurik em 859. Foi um lugar onde a democracia reinou, onde príncipes benévolos governaram com o consentimento de um Parlamento formado pelas elites, onde feiras e o comércio internacional fervilhavam de atividade e onde as mulheres participavam dos negócios e de outros aspectos da vida pública.
Entre os mais comoventes dos documentos inscritos nos rolos de casca de bétula estão os escritos de um menino chamado Onfim, que se acredita que tivesse 6 ou 7 ano. Datados de cerca de 1260, incluem exercícios feitos para a escola e rabiscos. Em um destes, Onfim se imagina um guerreiro, escrevendo seu nome ao lado de uma figura a cavalo.
Escavações arqueológicas pontilham a cidade e seus arredores. Os primeiros rolos de casca de bétula foram encontrados em 1951. Especialistas dizem que o solo argiloso úmido que existe por baixo de Novgorod e contém pouco ou nenhum oxigênio possui a qualidade química incomum de preservar tanto artefatos duros, feitos de metal, quanto objetos feitos de materiais mais macios, como o couro.
Na escavação enorme da rua Bolshaya Moskovskaya, Yazikov desceu uma rampa, mergulhando em centenas de anos de história russa.
Pedaços de papel marcavam as camadas correspondentes aos diferentes séculos. Na Rússia, Novgorod é o lugar onde estudantes de arqueologia buscam fazer seus aprendizados e profissionais procuram fazer carreira.
Jos Schaeken, diretor do Leiden University College em Haia e professor de línguas eslavas e bálticas, disse que Novgorod não recebeu do Ocidente a atenção que merece. Disse que ela é "revolucionária, na medida em que possibilita conhecer intimamente uma cidade medieval que tinha laços internacionais com o Oriente e o Ocidente, vendo seu funcionamento, organização e como as pessoas se comunicavam".


Reprodução de reportagem do The New York Times, na Folha de São Paulo

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Arábia teve reinado cristão antes do Islã

Arábia teve reinado cristão antes do Islã
Escavação feita no Iêmen revela palácio com a imagem de monarca que usava cruz cristã e tinha vestes bizantinas
Soberano pode ter sido rei fantoche dos etíopes, aliados dos romanos, que já tinham adotado cristianismo
REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Poucas décadas antes do nascimento de Maomé, a Arábia era o lar de um rei que usava a cruz cristã como símbolo de seu poder.
Escavações feitas por arqueólogos da Universidade de Heidelberg, Alemanha, trouxeram à tona a parede monumental de um palácio no qual a imagem do monarca (cuja identidade é incerta) foi gravada, provavelmente pouco antes de 550 d.C.
Em tamanho natural --cerca de 1,70 m de altura--, com uma longa túnica e um cetro encimado por uma cruz, a imagem lembra mais os imperadores bizantinos que os atuais xeiques do deserto.
A análise desse retrato e a estimativa de datação estão em artigo na revista científica "Antiquity", assinado por Paul Yule, do Departamento de Línguas e Culturas Orientais de Heidelberg. Yule e seus colegas acharam a imagem em alto-relevo nas ruínas da antiga cidade de Zafar, no Iêmen.
Zafar foi, por séculos, capital do reino de Himyar, cujo poderio chegou a se estender por 2,5 milhões de quilômetros quadrados (pouco mais de um quarto do Brasil).
Textos da época do Império Romano, bem como algumas inscrições nativas, trazem dados sobre a história de Himyar, mas muito do que aconteceu nesse reino perdido continua misterioso.
Sabe-se que a região era estratégica para o comércio de especiarias, perfumes e objetos de luxo no oceano Índico, em um quadrilátero comercial que envolvia também Etiópia, Índia e Roma.

CRISTÃOS VERSUS JUDEUS

Quando os romanos adotaram o cristianismo no século 4º d.C., seus aliados e parceiros comerciais começaram a considerar se valia a pena adotar a nova fé. Na Etiópia, o reino de Axum (principal potência africana da época), seguiu esse caminho, mas a nobreza de Himyar decidiu agir de forma independente.
"Na época, como agora, religião e política estavam fortemente ligadas", diz Yule. Tudo indica que, para marcar a posição não subordinada aos romanos e entrar no "clube" dos povos que adoravam o suposto "Deus verdadeiro", os nobres de Himyar se converteram ao judaísmo.
Parecia uma solução politicamente brilhante, mas o xadrez geopolítico da região se complicou. O Império Romano do Oriente, governado a partir de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), resolveu aliar-se aos etíopes para impor seu controle, inclusive religioso, sobre Himyar. Motivo: a área também era considerada estratégica no confronto entre Constantinopla e os persas, seus arqui-inimigos. Por carta, o imperador romano Justino 1º exigiu que os aliados etíopes atacassem "aquele hebreu abominável", o rei Yusuf (José), de Himyar.
Yusuf foi derrubado do trono em 525 d.C. A descoberta dos alemães sugere que o ataque deu frutos políticos, e que o trono passou a ser ocupado por um rei fantoche dos etíopes. A hipótese é reforçada pelos detalhes da coroa e das vestes do soberano, que imitam retratos reais etíopes e bizantinos da época.
"Os contatos com o reino de Axum parecem ter sido o elemento mais importante nessa transição", diz Paul Freedman, professor da Universidade Yale (EUA).
"Com os dados atuais, não há dúvidas sobre a instalação de um regime cristão no sudoeste da Arábia entre os anos 525 e 560", diz Glen Bowersock, historiador de Princeton (EUA).
Tudo indica que esse reino entrou em colapso logo depois, e a cidade de Zafar foi abandonada. A região voltou a ser dominada por grupos tribais até a ascensão do islamismo a partir do ano 622.
Pode-se dizer que o Islã seguiu estratégia parecida com a dos reis de Himyar antes da invasão etíope: adotou elementos tanto do cristianismo (veneração a Jesus e Maria) quanto do judaísmo (associação com Abraão), mas com características locais que davam independência à fé.


Reprodução da Folha de São Paulo

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Escavação sugere início multicultural da civilização maia


Escavação sugere início multicultural da civilização maia
Sítio arqueológico na Guatemala mostra origens do estilo de construção que se tornou a marca dessa sociedade
Cidade tinha pirâmide em 800 a.C.; maias sofreram influência mudança cultural na região, indica achado

Assim como toda redação escolar tem começo, meio, e fim", as civilizações também costumam se adaptar à regra.
No caso dos maias da América Central, o começo e o fim são ainda misteriosos.
Sete anos de escavações em Ceibal, na Guatemala, coordenadas pelo casal de pesquisadores Takeshi Inomata e Daniela Triadan, ambos da Universidade de Arizona, produziram uma nova versão para esse início.
Os resultados do estudo sugerem que múltiplos contatos sociais e culturais entre vários povos da região deram a partida na civilização maia.
De acordo com Inomata, essa visão difere das duas principais correntes na quais os arqueólogos se dividem quanto a essa questão.
Segundo ele, um grupo argumenta que a civilização maia se desenvolveu sob a influência da civilização olmeca, a partir do sítio arqueológico de La Venta.
"O outro grupo alega que a civilização maia se desenvolveu de forma independente", declarou ele em uma entrevista coletiva disponibilizada pela revista científica americana "Science", em cuja edição de hoje a pesquisa está descrita.

RITUAL

Nos centros urbanos da América Central pré-colombiana, o lugar mais importante é o chamado "complexo de ritual público".
A equipe demonstrou, por meio de análises do material encontrado e de datações físico-químicas, que Ceibal tinha um desses complexos duzentos anos antes de outros lugares, notadamente o sítio olmeca de La Venta.
O complexo incluía tradicionalmente praça pública, montes artificiais e plataformas eventualmente transformadas em pirâmides.
Ceibal já tinha algo assim em 1000 a.C., tornando o sítio o mais antigo na região maia na planície; em 800 a.C. já havia ali uma pirâmide.
"O local foi ocupado por cerca de 2.000 anos, e os edifícios mais antigos estão enterrados debaixo de 7 a 18 metros de construções posteriores. Tivemos que desenvolver estratégias de escavação que abordavam esses desafios", disse a pesquisadora Daniela Triadan.

COLAPSO

Os maias produziram a mais misteriosa e a mais importante das civilizações da América pré-colombiana.
O mistério se deve ao fato de o seu período áureo ter acontecido bem antes da chegada dos conquistadores espanhóis, terminando em colapso em torno do ano 900, e também de sua escrita só recentemente ter sido decifrada. Pior, a maior parte dos textos maias foi destruída.
Então como terminou a coisa? Um estudo publicado no ano passado na revista científica "PNAS" sobre o sítio da mais importante cidade maia, Tikal, dá pistas.
"O colapso envolveu diferentes fatores [climáticos, sociais e militares] que convergiram como uma tempestade perfeita'. Nenhum fator isolado poderia tê-los derrubado", disse Vernon Scarborough, da Universidade de Cincinnati, à Folha então.
"Os maias não estão mortos. A população agrícola que permitiu à civilização florescer ainda é viva na América Central. O que entrou em colapso foi o seu nível de complexidade social."

Reportagem de Ricardo Bonalume Neto, para a Folha de São Paulo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Esqueleto achado em Leicester é de Ricardo III


O esqueleto encontrado em um estacionamento de Leicester (centro da Inglaterra) é do rei Ricardo III, morto em 1485 no campo de batalha e imortalizado por Shakespeare, anunciaram especialistas nesta segunda-feira.
"A conclusão acadêmica da Universidade de Leicester é que, além de qualquer dúvida razoável, o indivíduo exumado em Greyfriars, em setembro de 2012, é efetivamente Ricardo III, o último rei da Inglaterra da casa Plantageneta", afirmou o arqueólogo Richard Buckley, que coordenou a investigação, desencadeando aplausos do público.
Os restos mortais do soberano serão sepultados na catedral da cidade, informou a universidade.
Até o momento se sabia que o monarca, de reputação polêmica, faleceu em 1485 com armas nas mãos na batalha de Bosworth Field, perto de Leicester. Sua morte encerrou a Guerra das Rosas.
Mas seu corpo nunca havia sido encontrado. Segundo alguns textos, o rei estava em uma capela franciscana, destruída no século XVI. Segundo outros rumores, o corpo teria sido jogado em um rio.
No final de agosto, especialistas do Departamento de Arqueologia da Universidade de Leicester iniciaram as buscas no subsolo de um estacionamento do centro da cidade.
No início de setembro encontraram um esqueleto bem conservado de um homem, que apresentava indícios surpreendentes: uma coluna vertebral deformada e ferimentos que poderiam ser similares às agressões letais infligidas ao rei no campo de batalha.
O "mistério do rei do estacionamento" atraiu a comunidade científica e provocou a festa da imprensa sensacionalista.
William Shakespeare imortalizou Ricardo III como um tirano corcunda que matou os dois sobrinhos que impediam seu acesso ao trono da Inglaterra, entrando assim para a história com uma péssima reputação.
Os cientistas esperam que a descoberta possibilite uma nova visão sobre seus dois anos de reinado.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Austeridade coloca antiguidades em risco


Austeridade coloca antiguidades em risco

Por RANDY KENNEDY

KYTHIRA, Grécia - Cortes profundos estão sendo feitos nos orçamentos culturais, como parte das medidas de austeridade impostas à Grécia pelas potências europeias. Os efeitos dos cortes na cultura já estão sendo sentidos pelo público. Galerias e museus estão fechando suas portas.
Mas arqueólogos e curadores gregos e internacionais avisam que as consequências reais dos cortes levarão anos para aparecer plenamente e serão muito mais graves no caso de artefatos da antiguidade e estudos históricos. Nos últimos seis meses, dezenas dos arqueólogos mais experientes a serviço de órgãos públicos -os que têm mais anos de serviço e recebem os maiores salários, € 1.550 mensais, ou um pouco menos de US$ 2.000- foram obrigados a se aposentar precocemente, por causa de um plano de redução de 10% da força de trabalho do Ministério da Cultura e do Turismo. Graças às aposentadorias regulares e aos atritos ocorridos nos últimos dois anos, a equipe de arqueólogos encolheu ainda mais, de 1.100 para 900 profissionais, segundo o sindicato que representa a categoria.
Num momento em que impostos estão sendo elevados, aposentadorias e pensões sofrem cortes e o desemprego chega a mais de 21%, esse êxodo de arqueólogos do país não se destacou em meio à paisagem econômica sombria. Mas acadêmicos dizem que os cortes estão levando ao sumiço de antiguidades. Os culpados principais disso não são ladrões de museus ou saqueadores de sítios de antiguidades, mas as intempéries do vento e da chuva e as máquinas de empresas de construção.
Num leito seco de rio na ilha de Kythira, numa manhã de abril, Aris Tsaravopoulos -arqueólogo antes a serviço do governo, mas que foi obrigado a deixar seu emprego em novembro- apontou para um trecho do leito do rio que desabara numa tempestade, alguns meses antes. Pedaços de cerâmica minoica se espalhavam pelo leito do rio, em sua maioria do segundo milênio a.C..
Tsaravopoulos, que dirigiu projetos arqueológicos e supervisionou escavações estrangeiras na ilha por mais de 15 anos, disse que o sítio pode fazer parte de um túmulo ou ser um lixo da antiguidade. Alguns dos artefatos já tinham sido carregados pela água. Enchendo os bolsos de cacos de cerâmicas maiores para datar e armazenar, Tsaravopoulos disse: "A próxima chuva grande vai carregar mais pedaços e em breve não restará nada."
No passado, Tsaravopoulos teria organizado uma escavação de emergência num local como esse. Agora, explicou, a única coisa que pode fazer é alertar colegas do serviço arqueológico estatal, que já estão sobrecarregados de trabalho. São poucas as chances de um trabalho de resgate ser realizado em tempo hábil.
Em Messênia, na península do Peloponeso, foram interrompidos os trabalhos de escavação de um templo do século 6 a.C., no alto de uma montanha, descoberto em 2010. Xeni Arapogianni, a arqueóloga do Estado responsável pela região e que dirigiu a escavação inicial do templo descoberto recentemente, foi obrigada a se aposentar precocemente no ano passado, antes de completar as pesquisas para publicações sobre a descoberta.
Outra repercussão dos cortes de despesas é o cancelamento das licenças de arqueólogos do governo para fazer pesquisas.
É claro que sítios arqueológicos foram perdidos ou mal conservados antes da crise econômica atual, em parte devido à imensidão da tarefa. É possível que haja dezenas de sítios não explorados em Kythira. A Grécia possui 19 mil sítios arqueológicos declarados, além de 210 museus.
"Creio que este ministério poderia dobrar ou triplicar o número de arqueólogos que emprega e ainda assim não teria profissionais em número suficiente", disse Pavlos Geroulanos, que foi ministro da Cultura e do Turismo da Grécia até as eleições de 6 de maio. "Há tanta coisa aí fora e tanto trabalho a ser feito!" lamentou ele.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

BETTY MEGGERS (1921-2012)


BETTY MEGGERS (1921-2012)

'Mãe' da arqueologia amazônica

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

A "mãe" da arqueologia amazônica, Betty Meggers, morreu na última segunda-feira aos 90 anos nos EUA.
A arqueóloga revolucionou o conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil antes de Cabral ao realizar, a partir de 1948, as primeiras escavações sistemáticas na ilha de Marajó (PA).
Trabalhando com o marido, Clifford Evans, a cientista da Smithsonian Institution mostrou que os povos da foz do Amazonas desenvolveram uma cultura material complexa, com cerâmicas elaboradas. Isso provavelmente era resultado de ocupações densas, diferentes da baixa densidade demográfica das aldeias indígenas atuais.
Meggers, porém, propôs que essa relativa complexidade era resultado de migrações dos Andes, que fracassaram por causa da pobreza do ambiente amazônico.
Essa tese, que Meggers delineou em 1971 no livro "Amazônia: A Ilusão de um Paraíso", dominou a antropologia amazônica até os anos 1980.
Foi quando uma conterrânea, Anna Roosevelt, então na Universidade de Chicago, começou a escavar em Marajó e outras áreas do Pará. E propôs que a complexidade social amazônica tinha surgido lá mesmo. O debate durou até a morte de Meggers.
"Ela perdeu essa guerra de corações e mentes por causa de sua rigidez", diz o arqueólogo Eduardo Neves, da USP.
Pesquisas nos últimos anos têm sugerido que algumas das ideias de Meggers sobre o povoamento da Amazônia não estavam tão erradas assim. Também lhe pareciam injustas acusações feitas por brasileiros de que sua pesquisa era neocolonialista.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Obra revela quase 60 sítios arqueológicos

Obra revela quase 60 sítios arqueológicos

Construção de rodovia na Baixada Fluminense trouxe à tona múltiplas camadas da ocupação do Rio de Janeiro
Resquícios do passado vão da pré-história, há 6.000 anos, aos séculos do Brasil Colônia, com índios, negros e europeus

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

A construção de 70 quilômetros do Arco Metropolitano, grande obra rodoviária do Rio de Janeiro, revelou 58 sítios arqueológicos que, aos poucos, trazem detalhes sobre a história da ocupação da Baixada Fluminense.
Técnicos do IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira) já encontraram mais de mil cachimbos, louças chinesas, urnas funerárias da cultura tupi-guarani e sambaquis -depósitos primitivos, formados principalmente por conchas, que apontam para a ocupação humana há 6.000 anos.
No total, são quase 50 mil peças inteiras ou fragmentos. O instituto teve de erguer um novo prédio para abrigar os artefatos descobertos.
O arco liga Itaguaí a Itaboraí cortando oito municípios da baixada, a fim de desafogar o trânsito na avenida Brasil, no Rio. O trecho no qual os vestígios estão sendo encontrados compreende cinco municípios (Duque de Caxias, Itaguaí, Nova Iguaçu, Japeri e Seropédica).
A história da região era conhecida basicamente por relatos de viajantes dos séculos 16, 17 e 18, principalmente do bispo José Caetano Coutinho, que descrevia fazendas da Baixada e seus proprietários.
MISCIGENAÇÃO
O resgate dos sítios revela uma ocupação sobreposta. No mesmo local foram encontrados cachimbos de cerâmica indígena, com cerca de 2.000 anos, bem como outros de louça europeia e com motivos africanos esculpidos.
"Isso prova que o europeu ocupou os mesmo lugares já usados pelos índios. Ele acreditava que, como havia gente no local, era sinal de que a terra era boa. Tirava essa terra dos índios e se instalava", diz a arqueóloga Jandira Neto, coordenadora do projeto.
Num local onde o grupo identificou um antigo porto (aterrado ao longo dos anos) foram encontrados relógios solares, bilhas para armazenar azeite e mais cachimbos, alguns com vestígios de fumo, todos trazidos por europeus recém-chegados.
Relatório no início da obra, em 2008, apontava que havia a expectativa de seis sítios perto da rodovia. Em um ano, o número subiu para 22, chegando aos atuais 58.
A maioria é descoberta durante a passagem das máquinas das empreiteiras. Arqueólogos percorrem a área e, quando algo é identificado, a obra é paralisada.
Em alguns casos, porém, a descoberta é feita por operadores de máquinas. Uma ferraria do que se acredita ter sido uma base de tropeiros foi achada após ter o teto atingido pela pá de um trator.
PATRIMÔNIO
Para evitar que situações assim aconteçam, todos os funcionários passam por capacitação para identificar eventuais sítios -a chamada educação patrimonial.
"O operador bateu numa pedra e notou que ela era trabalhada. Embaixo encontramos uma bigorna e instrumentos de uma ferraria", relata Jandira.
O que é motivo de felicidade para arqueólogos causa calafrios para engenheiros da Secretaria Estadual de Obras. A rodovia, cuja conclusão estava prevista para 2011 com custo de R$ 965 milhões, teve o prazo estendido para o fim de 2013 pelas paralisações ligadas às descobertas.
"Faz parte da obra. Temos de respeitar a história e a legislação", disse o secretário estadual de Obras, Hudson Braga. Os achados estão na sede do IAB em Belford Roxo. Já foram mostrados em exposição itinerante na Baixada e poderão ser também expostos no Rio.


Notícia da Folha de São Paulo, de 12 de abril de 2012