"O morro hoje está triste, sorriso não existe. Mais uma mãe que chora".
O refrão do rap foi cantado em homenagem ao músico Laércio Grimas, 33, o DJ Lah, durante o velório dele, no cemitério dos Jesuítas, em Embu das Artes (Grande São Paulo).
Ontem, foi dia de mais mães chorarem na zona sul. Além do DJ Lah, rapper do grupo Conexões do Morro, mais seis vítimas da primeira chacina do ano na cidade foram enterradas.
Amigos e vizinhos do rapper, morador do Jardim Rosana, na região do Campo Limpo (zona sul paulistana), afirmaram estar tensos e temendo novos ataques.
Na noite de sexta-feira, ao menos 14 homens encapuzados promoveram uma matança em um bar do bairro. Sete homens morreram e outros dois foram baleados.
Ontem, a Folha entrevistou 17 moradores do bairro, que só aceitaram falar sob a condição de não terem seus nomes divulgados. Todos foram unânimes em dizer que, para eles, os assassinos das sete pessoas tinham ligações com a Polícia Militar.
Isso porque, dois meses atrás, na mesma rua da chacina, um cinegrafista amador flagrou cinco policiais militares matando a tiros um suspeito que estava desarmado e rendido. A filmagem foi divulgada pela TV Globo.
A polícia chegou a dizer que o autor do vídeo estava entre os mortos. Depois, afirmou que não havia indícios de que ele fosse uma das vítimas.
Dois dias após a chacina, moradores do Jardim Rosana dizem que estão com medo de sair de casa à noite. "Vamos ficar vegetando em casa", disse a prima de uma das sete vítimas.
'OPRESSÃO'
Amigo do DJ Lah e um dos principais escritores da periferia paulistana, Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, acompanhou o enterro e disse que a população da região sul está no "limite da opressão".
"Estamos em uma ditadura, no limite da opressão. Nos bairros ricos a polícia dá bom dia, dá boa tarde. Aqui, ela mata", disse no velório.
Para ele, está clara a participação de PMs no crime. "Só o governador [Geraldo Alckmin] não quer enxergar", disse. O rapper Mano Brown, do Racionais MCs, também esteve no velório do DJ Lah.
Amigos e familiares fizeram uma "vaquinha" para pagar o enterro de R$ 1.800.
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