Às vésperas das eleições em Israel, se intensifica o debate sobre questões básicas que dividem a sociedade, como a situação de 1,5 milhão de cidadãos árabes do país, que são 20% da população. Um dos partidos que representam os cidadãos árabes, o Balad (Aliança Nacional Democrática) defende a transformação de Israel: de Estado judaico para um Estado de todos os cidadãos.
O Balad tem três deputados (entre 120) no Parlamento atual e espera aumentar sua bancada para quatro no pleito previsto para o dia 22 deste mês. O líder do partido, Jamal Zahalka, esteve em Tel Aviv nesta segunda-feira para conversar com um público de jovens israelenses de esquerda.
O bar CorD'uroy, no centro da cidade, estava lotado quando Zahalka chegou. O deputado ficou surpreso ao ser recebido por dezenas de jovens judeus que foram ao local especialmente para ouvi-lo.
Cena inusitada
Foi uma cena totalmente inusitada nas circunstâncias politicas atuais, nas quais o Balad é o partido mais odiado pelos governistas, que inclusive tentaram impedir que concorresse às eleições, argumentando que o partido "se opõe à existência de Israel como Estado judaico e defende o terrorismo".
Foi uma cena totalmente inusitada nas circunstâncias politicas atuais, nas quais o Balad é o partido mais odiado pelos governistas, que inclusive tentaram impedir que concorresse às eleições, argumentando que o partido "se opõe à existência de Israel como Estado judaico e defende o terrorismo".
"Em meio a essa onda de incitamento racista, há mais abertura para ouvir o que o Balad tem a dizer", disse a atriz Einat Weizman. Aos 39 anos, ela é uma profissional conhecida da TV israelense e uma das organizadoras do evento em Tel Aviv.
"As pessoas do meu circulo de amizades são de esquerda e muitas delas vão votar no Balad em reação à onda de incitamento contra o partido. O programa do Balad se baseia nos principios mais elementares de democracia, que significa que todos os cidadãos têm direitos iguais e que o Estado pertence a todos, mas para muitos israelenses é dificil abrir mão de seus privilégios por serem judeus", disse a atriz.
Depois de uma conversa animada sobre os direitos dos cidadãos árabes, o conflito israelense-palestino e a Primavera Árabe, o deputado Zahalka disse que o encontro foi "extraordinário". "Sei que esses jovens representam uma minoria na sociedade israelense, mas o encontro foi bom, a conversa foi direta e senti que eles me ouviram", afirmou.
Protesto contra o racismo
"Nestas eleições esperamos um aumento do número de votos por parte do público judaico, justamente por causa do incitamento racista contra nós, conduzido pelos partidos de direita", disse. "Judeus de esquerda vão votar no Balad em sinal de protesto contra o racismo", concluiu.
"Nestas eleições esperamos um aumento do número de votos por parte do público judaico, justamente por causa do incitamento racista contra nós, conduzido pelos partidos de direita", disse. "Judeus de esquerda vão votar no Balad em sinal de protesto contra o racismo", concluiu.
A editora literária Yael Lerer, 45 anos, é candidata do Balad. "Como judia israelense, tenho orgulho de pertencer ao Balad desde sua fundação, em 1995", disse Lere. "O Balad é o único partido verdadeiramente democrático e secular em todo o mapa politico israelense", afirmou, "pois defende uma separação total entre Estado e religião".
"Nosso partido propõe também a separação entre a cidadania e a identidade nacional, um Estado que não seja nem judaico nem árabe, mas sim de todos os cidadãos que aqui vivem, e no qual a identidade cultural e étnica de cada grupo seja preservada e respeitada".
"Com base nesses princípios defendemos não só os direitos da minoria árabe-palestina em Israel, mas também os direitos da minoria judaica no Oriente Médio", acrescentou Lerer, que dirige a Editora Andalus, que traduz literatura árabe para o hebraico.
Menos cordialidade
Há alguns dias, Lerer teve uma experiência bem menos cordial, quando foi convidada a falar perante 500 estudantes na cidade de Nethania, ao norte de Tel Aviv.
Há alguns dias, Lerer teve uma experiência bem menos cordial, quando foi convidada a falar perante 500 estudantes na cidade de Nethania, ao norte de Tel Aviv.
Ela participou de um debate juntamente com candidatos de outros partidos, mas quando chegou sua vez de falar, centenas de estudantes se levantaram e começaram a gritar, exigindo que ela se retirasse do palco. "Foi uma experiência bastante assustadora e me senti fisicamente ameaçada", disse Lerer.
Segundo as últimas pesquisas, nas eleições da próxima terça-feira, o atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, deverá ser reeleito. O bloco de partidos de direita, de extrema-direita e ultraortodoxos deverá obter cerca de 67 cadeiras (das 120) no Parlamento. Os partidos de centro, de esquerda e os três partidos que representam a população árabe de Israel (entre eles o Balad) deverão obter 53 cadeiras.
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