Hollywood é uma fábrica de tensão.
Espalha mentiras nos seus filmes sobre as mais puras instituições americanas.
Inventou que houve tortura de informantes na busca do esconderijo do terrorista Bin Laden. Uma terrível injustiça que precisava ser corrigida.
Houve apenas a aplicação de “métodos reforçados”.
O diretor da CIA à época dos fatos veio a público tranquilizar o mundo:
“Para dar uma simples bofetada no rosto de um preso, os oficiais da CIA tinham que obter uma autorização por escrito de Washington”, afirmou.
Culpa, obviamente, dos malas dos Direitos Humanos.
Nada disse sobre a possibilidade de uma única autorização permitir milhares de bofetadas de acordo com um cálculo prévio das necessidades da obra.
Onde já se viu tanta burocracia?
Ele explicou os passos dessa metodologia made in USA:
“Os presos tinham a possibilidade de cooperar. Se fossem reticentes – e havia razões para acreditar que eles escondiam informações importantes -, eram submetidos, com o aval de Washington, a técnicas reforçadas, como prisão pelo pescoço, privação do sono ou, em raras ocasiões, simulação de afogamento.”
Os Estados Unidos não consideram isso tortura.
Seria tortura se fosse praticada em prisões da Venezuela ou do Burundi.
Rodriguez, com extrema sinceridade e senso de responsabilidade, reconheceu que três dos “piores terroristas do planeta” foram submetidos a simulações de afogamento, com o uso de “pequenas garrafas d’água”.
Hollywood mentiu: mostrou um balde em vez de pequenas garrafas.
Erro grave. Intolerável.
Eu admiro os Estados Unidos, país que sempre visito com alegria.
É verdade que lá acontecem coisas curiosas e com as quais não posso concordar em razão do meu elevado senso de moralidade: um deputado saía diariamente da prisão domicilar, de tornozeleira, para ir às sessões da Câmara.
Como é que a tornozeleira não interferia nos microfones?
Estranhamente, que eu saiba, esse fato não chegou ao conhecimento do correspondente da Veja nem mereceu as páginas amarelas da revista.
Ah, se fosse no Brasil!
Não aceitaríamos tamanha desfaçatez.
O STF não permitiria.
Nossa Constituição, embora mal escrita e contraditória, é mais rigorosa.
Especialmente quando bem lida pelos que sabem ler constituições: Joaquim Barbosa, a oposição, a mídia e o Ministério Público, todos adeptos, com sobradas razões e argumentos, da teoria do domínio do fato.
Como dizia Balzac, para a imprensa tudo o que é provável é verdadeiro.
Elio Gaspari citou o caso assim com sua linguagem característica: “O terceiro, Jay Kim, em 1998 foi condenado a um ano de prisão domiciliar por ter embolsado US$ 250 mil pelo caixa dois. Como era deputado, o juiz colocou-lhe uma pulseira eletrônica no tornozelo e ele só podia sair de casa para ir ao Congresso. Foi cassado pelos eleitores, nas prévias de seu partido”.
Eu nunca imaginei que houvesse caixa dois nos Estados Unidos.
Achava que só existia corrupção no Terceiro Mundo.
Outros dois deputados americanos foram reeleitos estando na prisão.
As celas foram suas células de campanha.
Como é que a corte suprema não lhes cassou os mandatos?
Por lá, paisinho atrasado, só as casas legislativas cassam mandatos.
Isso é que é democracia imperfeita!
Ao menos não tem tortura.
Só simulação de afogamento.
Hollywood precisa ser mais honesta em relação à CIA.
Ou o mundo vai preferir filmes iranianos.
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