Vítimas tiveram fichas checadas antes da morte, diz delegado-geral
'Isso é muito emblemático', afirma chefe da Polícia Civil, que vê 'ações de extermínio' na Grande SP
Declaração foi dada após Grella Vieira assumir a Segurança prometendo respeitar os direitos humanos
DE SÃO PAULO
DO “AGORA”
O
delegado-geral Marcos Carneiro Lima, chefe da Polícia Civil paulista,
disse ontem que parte das vítimas da recente onda de assassinatos na
Grande São Paulo teve suas fichas criminais pesquisadas
horas antes da morte.
Há
cerca de um mês, a região vive escalada de homicídios, com quase dez
casos por dia contra média de seis ocorrências até setembro.
Entre
a noite de anteontem e a madrugada de ontem foram dez assassinatos,
três em uma chacina, a sexta nos últimos sete dias no Estado.
"Em
vários crimes, nós detectamos que as vítimas, antes de serem mortas,
tiveram seus atestados de antecedentes pesquisados pela polícia. Isso é
muito emblemático."
A
declaração foi dada no Palácio dos Bandeirantes, logo após a posse do
novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira.
O
novo secretário disse que é possível conciliar combate ao crime e
respeito aos direitos humanos. A secretaria investiga se parte dos
crimes foi cometida por PMs em retaliação à morte de colegas.
Com o assassinato de um sargento anteontem na Praia Grande, foi a 96 o número de PMs mortos neste ano em SP.
Um
caso citado por Carneiro é o "comboio da morte" em junho em Osasco,
quando oito foram mortos em um raio de 4 km. Um sargento e um ex-PM
foram detidos e soltos.
"Muitas vezes, não dá para identificar o policial porque alegam que são feitas milhares de pesquisa", disse.
Para
ele, há ações de extermínio, mas não dá para dizer que existam grupos
de extermínio, principalmente de PMs. "Não admitimos que tenham
policiais que queiram fazer justiça com as mãos."
Disse também que a sociedade compactua com a morte de pessoas nas periferias.
"A
gente nunca teve chacina nos Jardins [bairro nobre da capital]. Por
quê? Por que é tão fácil matar pobre na periferia? Porque há uma grande
parcela da sociedade que acha que matar pobre é
matar o marginal de amanhã."
À
noite, em entrevista à TV Globo, ele atenuou suas declarações e disse
que não há indicativo da participação de policiais nos crimes recentes.
Cotado
para deixar o cargo com a mudança na pasta, Carneiro teve atritos com o
ex-secretário Antonio Ferreira Pinto após ele tirar a Corregedoria da
Polícia Civil e levá-la para o seu gabinete.
A
corporação que Carneiro chefia tem também um histórico de atritos com a
PM, situação que se agravou durante a gestão de Ferreira Pinto.
Carneiro
se desgastou também com denúncia contra ele feita pela Promotoria sobre
irregularidades no uso de pátios como depósitos irregulares de veículos
e caça-níqueis. Ele nega.
(AFONSO BENITES, RICARDO GALLO E RAFAEL ITALIANI)
Reportagem da
Folha de São Paulo, de 23 de novembro de 2012.
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