terça-feira, 6 de novembro de 2012

Porto com gestão chinesa na Grécia


Porto com gestão chinesa pode ser lição para a crise da Grécia

Por LIZ ALDERMAN

PIREUS, Grécia - Do seu elegante escritório com vista para o porto, o capitão sorriu ao ver imponentes guindastes erguerem contêineres de um gigantesco navio, enquanto veículos robotizados transferiam a carga para embarcações menores, que a distribuiriam pelo Mediterrâneo.
O volume de carga triplicou no porto em dois anos, desde que o capitão Fu Cheng Qiu foi nomeado pela Cosco, gigante global da navegação pertencente ao governo chinês.
Num acordo de 2010 que colocou US$ 647 milhões nos esvaziados cofres do governo grego, a Cosco arrendou metade do porto de Pireus e rapidamente transformou uma atrasada estatal grega em um viveiro de produtividade.
A outra metade do porto continua estatal. O fato da parte estatal ter resultados inferiores aos da Cosco pode ser um exemplo de como regras trabalhistas arraigadas e os salários relativamente altos tolheram o crescimento econômico da Grécia.
Sob muitos aspectos, a reformulação total que a Cosco está impondo a Pireus é o que a própria Grécia deveria aspirar se quiser restaurar sua competitividade.
Quando o governo grego cogita privatizar seu patrimônio para ajudar a pagar suas dívidas, é tentador alugar ou mesmo vender o resto do porto para a China. No entanto, se o exemplo da Cosco é representativo, as concessões -que acarretam uma forte redução nos custos trabalhistas e nas regras de proteção ao emprego- podem ser inaceitáveis para muitos gregos.
Fu afirma que a Grécia tem muito a aprender com empresas como a dele. "Os chineses querem ganhar dinheiro com trabalho", disse. Para ele, muitos europeus estão mal acostumados com os confortos e as proteções existentes desde a Segunda Guerra Mundial. "Eles quiseram uma boa vida, mais feriados e menos trabalho", diz.
A operação da Cosco está gerando cerca de mil empregos para trabalhadores gregos -contra cerca de 800 no lado grego das docas.
Na área da Cosco, o tráfego de cargas mais do que duplicou no último ano, chegando a 1,05 milhão de contêineres. E, embora as margens de lucro ainda sejam mínimas -US$ 6,57 milhões no ano passado, com faturamento de US$ 94,2 milhões-, isso ocorre porque a empresa chinesa está reinvestindo no porto.
A Cosco está gastando mais de US$ 388 milhões para modernizar seu cais, para que ele possa receber até 3,7 milhões de contêineres no ano que vem, tornando-se um dos dez maiores portos do mundo. Além disso, um segundo píer começou a ser construído.
O lado sob gestão grega, que sofreu uma série de greves debilitantes nos três anos prévios à chegada da Cosco, foi forçado pela concorrência chinesa a também se modernizar. No entanto, a manipulação de cargas ainda representa apenas cerca de um terço das suas atividades. O restante vem do tráfego de passageiros, que é mais lucrativo.
Os salários de alguns funcionários chegavam a US$ 181 mil por ano, incluindo horas extras -a Cosco geralmente paga menos de US$ 23,3 mil. No lado grego, as regras sindicais exigem nove pessoas para operar um guindaste tipo pórtico, a Cosco usa quatro.
"Os empregados geralmente pensam duas vezes sobre greves e ações trabalhistas agora", disse Stavros Hatzakos, diretor-geral da Autoridade Portuária de Pireus. Também reduções salariais têm ocorrido.
Fu disse que adoraria que a Cosco gerisse Pireus inteiro, se o governo colocar o porto à venda. Tal expansão consolidaria o domínio chinês sobre um dos mais estratégicos terminais portuários para o acesso aos Bálcãs e ao sul da Europa.
Mas a aquisição enfrentaria forte oposição de sindicatos gregos e de funcionários da Autoridade Portuária, que criticam a atuação trabalhista da Cosco.
Thanassis Koinis, vice-diretor da entidade, acusou a Cosco de usar agências de emprego para contratar trabalhadores avulsos, não sindicalizados e desqualificados para explorá-los pagando baixos salários.
Babis Giakoymelos, conselheiro do Sindicato dos Estivadores, disse que a Cosco também está economizando em segurança. "Eles estão trazendo padrões trabalhistas de Terceiro Mundo para a Europa", afirmou.
Fu argumentou que a Cosco tem a preocupação de não parecer uma invasora. Por isso, a companhia contratou empresas gregas para construir o píer e supervisionar a força de trabalho de acordo com as leis gregas.
"No começo, os gregos temiam que os chineses pudessem chegar aqui e tomar conta", disse Fu.
Para ele, a Cosco representa uma oportunidade para os trabalhadores gregos -e para o próprio país. "A Cosco é o futuro deles", afirmou. "Estamos aqui para ficar."
Colaborou Dimitris Bounias



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