Documentário mostra a provação de Ai Weiwei
Por LARRY ROHTER
No verão de 2006, tendo acabado de se formar na Universidade Brown, em Rhode Island, e sentindo grande desejo de viajar, Alison Klayman foi para a China. Chegou lá sem falar chinês, com apenas um contato e com ideias vagas sobre aprender uma nova língua e encontrar emprego como jornalista.
O resultado de sua aventura é um documentário premiado intitulado "Ai Weiwei: Never Sorry". Klayman topou por acaso com uma das histórias mais fascinantes na China nos últimos anos: a transformação do artista plástico de vanguarda Ai Weiwei em um dos dissidentes políticos chineses mais conhecidos e sem papas na língua.
"Tive muita sorte", falou Klayman, hoje com 27 anos e falando mandarim com fluência. "Não sei o que eu pensava que aconteceria com o filme quando comecei, mas com certeza não imaginei que chegaria ao festival de Sundance ou seria lançado nos cinemas."
Capturar o enigmático Ai Weiwei seria um desafio mesmo sob circunstâncias normais. Mas na época em que Klayman começou a filmar, o artista começou a fazer críticas abertas ao Partido Comunista chinês. No ano passado, quando Klayman estava editando "Never Sorry", ele foi detido no aeroporto de Pequim, mantido incomunicável por 81 dias e então posto em prisão domiciliar por um ano e acusado de "crimes econômicos" -todos fatos que Klayman precisou se apressar para levar em conta. No último 20 de julho, um tribunal chinês confirmou uma multa de US$ 2,4 milhões imposta a Ai por sonegação fiscal. A polícia impediu o artista de estar presente à audiência.
Klayman capta o Estado chinês no que ele tem de mais arbitrário e despótico, desrespeitando as leis e as convenções internacionais de direitos humanos do qual é signatário. As autoridades em Xangai, por exemplo, convidam Ai a construir um estúdio na cidade e então demolem o estúdio quando Ai cai no desagrado do governo. Ai reage promovendo uma festa no local da demolição.
Nas imagens que talvez sejam as mais surpreendentes do filme, fornecidas pelo próprio Ai Weiwei, a polícia de Sichuan invade seu quarto de hotel no meio da noite e o espanca com tanta violência que ele tem que passar por cirurgia na Alemanha para estancar uma hemorragia craniana. Quando ele presta queixa, a polícia diz que ele deve ter batido nele próprio.
Esses vislumbres em close-up sugerem o que acontece com outros dissidentes quando ninguém está olhando. "Não parti com uma ideia predeterminada de como retratar o Estado", disse Klayman. "Mas acho que as autoridades escreveram seu papel no filme."
"Never Sorry" também trata das origens e motivações pouco conhecidas de Ai Weiwei, mostrando sua devoção a seu pai, o poeta Ai Qing. Figura importante na literatura chinesa do século 20, Ai Qing foi encarcerado primeiramente pelo Kuomintang, anticomunista, e depois por Mao Tse-tung na campanha antidireitista de 1957, o ano em que Ai Weiwei nasceu, sendo enviado para Xinjiang, no extremo oeste do país.
"O que Ai Weiwei viveu em seus primeiros 17 anos de vida?" Klayman tentou imaginar. "Viu seu pai, uma figura cultural internacionalmente conhecida que tinha andado com Neruda e estudado em Paris, limpando privadas repudiado como inimigo do povo."
Inicialmente, na China, Klayman fez trabalhos diversos. Mas então sua colega de quarto, que trabalhava numa galeria de Pequim, perguntou a ela -que tinha acabado de comprar uma câmera- se estaria interessada em fazer um vídeo para acompanhar uma exposição das fotos de Ai.
Depois da abertura da exposição, em 2009, Klayman continuou a filmar. Nesse ano e no seguinte, ela continuou, com o incentivo do artista.
Quando o produtor Adam Schlesinger, cujos créditos incluem o documentário "God Grew Tired of Us", viu o filme, ficou fascinado e o levou ao Festival Sundance de Cinema, onde ele recebeu um prêmio especial do júri. "Considerando que foi o primeiro filme de Klayman e que seu tema estava em constante movimento, foi realmente impressionante", disse Schlesinger.
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