terça-feira, 14 de agosto de 2012

Islâmicos que controlam norte do Mali cortam mãos de criminosos

Os grupos jihadistas que controlam as três regiões do norte de Mali tem aplicado nos últimos dias uma interpretação radical da xariá, ou lei islâmica. Depois de ter apedrejado um casal, o grupo islâmico Movimento para a Unidade da Jihad na África Ocidental (Muyao) amputou na semana passada a mão de um ladrão na localidade de Ansongo. Essas medidas estão se chocando, porém, com a resistência da população, que chegou a se enfrentar com os extremistas na cidade de Gao.

Em Ansongo, os islâmicos cortaram a mão do suposto ladrão de uma motocicleta, na praça do povo e diante de dezenas de pessoas. "É a lei de Deus. (...) Aplicamos a xariá em Ansongo, a mão de um ladrão foi cortada", disse Mohamed Ould Abine, chefe local do Muyao, à agência France Presse. "Em alguns dias faremos o mesmo em Gao. Ninguém pode impedi-lo."

Medidas restritivas como a proibição de jogar futebol na rua, beber álcool ou fumar, assim como os castigos corporais (chicotadas), começaram a ser aplicados no norte de Mali desde o final de março, quando grupos de terroristas e islâmicos radicais - do Muyao, da Al Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI) e Ansar Dine (Defensores da Fé) - tomaram o controle das principais cidades, em colaboração com os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA). Depois do confronto no final de junho entre terroristas e rebeldes tuaregues, que terminou com a expulsão destes últimos do norte de Mali, os jihadistas, novos senhores do norte, levaram ao extremo a aplicação da xariá.

Em 29 de julho passado, um homem e uma mulher foram apedrejados até a morte na localidade de Aguelhok por terem dois filhos sem ser casados. O castigo foi contemplado por cerca de 200 pessoas, que viram o casal ser colocado em dois buracos cavados no solo e os carrascos os apedrejarem até sua morte, segundo relataram testemunhas oculares.

Poucos dias depois, o líder do Muyao, Abdul Hachim, anunciou pela rádio que no dia seguinte em Gao seria amputada a mão de um membro do próprio movimento, porque havia roubado armas e munições para revendê-las. Hachim convidou a população a contemplar a aplicação do castigo. No entanto, centenas de jovens de Gao se concentraram na praça cantando o hino nacional de Mali para impedir a amputação. A determinação dos jovens fez que os membros do Muyao suspendessem a mutilação, mas nessa mesma tarde houve distúrbios quando os terroristas deram uma surra em um jornalista de uma rádio local por divulgar a notícia da revolta juvenil.

Reportagem de José Naranjo, para o El País.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves.

Reproduzido do UOL.

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