terça-feira, 7 de agosto de 2012

Viciados e consumidores


Viciados e consumidores

SÃO PAULO - Humanos parecem se sentir atraídos por estados alterados da mente. Nem todos, é verdade, mas a transformação de recursos da natureza em poções que descerram as cortinas de paraísos -e infernos- artificiais é uma atividade milenar, observável nas mais diversas sociedades.
Ao longo dos séculos, algumas drogas se tornaram mais populares ou mais aristocráticas, outras foram eleitas por artistas e intelectuais, outras por místicos e pacifistas.
O proibicionismo começou em finais do século 19, sob influência norte-americana. Chegou-se, nos EUA, a banir bebidas alcoólicas, mas a Lei Seca, como sabemos, não deu certo.
Consolidou-se, então, no chamado mundo moderno, uma situação em que o álcool é a droga oficial, com direito a anúncio, colunas especializadas nos meios de comunicação e ampla comercialização. A mensagem subliminar é: vai fundo porque se fizesse mal seria proibido.
É o caso da maconha, antes vista como droga de negro, que continuou vetada e é tratada enganosamente como substância muito mais nociva do que o álcool, o que justificaria a irracional mobilização de recursos vultosos e de forte aparato policial-militar para combatê-la.
Pesquisa divulgada anteontem diz que o Brasil teria 1,3 milhão de "viciados" em cannabis -número que parece subestimado. Os que usam álcool não são em geral tratados como viciados, mas "consumidores".
Levantamentos indicam que cerca de 80% de jovens entre 18 e 24 anos já consumiram álcool e que cerca de 20% são dependentes. Muitos adolescentes também.
A hipocrisia que cerca o tema só atrapalha. Droga é um negócio perigoso. Pode ser consumida dentro de limites razoáveis ou levar à ruína material e moral. Seria ingênuo crer que a humanidade caminha para um mundo sem drogas. A melhor política é a liberação progressiva, mas controlada, com forte investimento em educação e esclarecimento.



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