Lavouras de tabaco voltam a prosperar
Por LYDIA POLGREEN
HARARE, Zimbábue - Na década de 1990, os recintos de leilão de tabaco nesta cidade eram locais tranquilos. Alguns fazendeiros brancos, cada um vendendo centenas de fardos, chegavam em utilitários esportivos e se hospedavam nos melhores hotéis enquanto esperavam para pegar seus vultosos cheques.
Neste ano, uma cena diferente foi vista na casa de leilões Bock Tobacco Auction Floor. A cada dia, centenas de agricultores chegavam em micro-ônibus e nas caçambas de picapes, muitos com esposas e filhos a tiracolo e inundavam o barulhento espaço do pregão para vender sua safra. O lugar ficava animado e lotado; duas mulheres pariram em pleno pregão. A diferença mais óbvia, porém, estava na cor dos seus rostos: todos eles eram negros.
"Você só costumava ver rostos brancos por aqui", disse Rudo Boka, que dirige o estabelecimento. "Agora é para todos. É uma visão bonita."
Antes de o governo do Zimbábue desapropriar as terras dos brancos, em 2000, menos de 2.000 agricultores produziam tabaco, o cultivo mais lucrativo do país, e os brancos eram maioria entre eles. Hoje, existem 6.000 fumicultores, a vasta maioria deles negros e muitos trabalhando em pequenas glebas que lhes foram entregues em meio às turbulências fundiárias.
O confisco das fazendas dos brancos foi um desastre para o Zimbábue sob muitos aspectos. A economia, uma das mais robustas da África, deixou de crescer, a inflação disparou, e a fome e o desemprego aumentaram. Pessoas próximas do presidente Robert Mugabe ganharam enormes extensões de terras, embora muitos as tenham deixado ociosas. Uma crise política sobreveio e violentas represálias das forças de segurança causaram centenas de mortes.
Mas dezenas de milhares de pessoas receberam pequenas glebas na reforma agrária e nos últimos anos muitos desses novos agricultores superaram as dificuldades iniciais e estão se saindo bastante bem. Sua produção não se compara à dos fazendeiros brancos, antigos proprietários das terras, mas não é o desastre que muitos previam.
O resultado é uma ampla -embora dolorosa- transferência de riqueza dos latifundiários brancos para pequenos produtores negros. Juntos, estes venderam no ano passado US$ 400 milhões em tabaco, faturando uma média de US$ 6.000 cada, quantia expressiva para a maioria dos zimbabuanos.
"O dinheiro que era partilhado entre 1.500 grandes produtores agora é partilhado entre 58 mil produtores, a maioria deles de pequena escala", disse Andrew Matibiri, diretor do Conselho da Indústria e Comércio do Tabaco do Zimbábue.
Stuart Mhavei, 40, recebeu há vários anos uma pequena lavoura a 130 km de Harare. Ele tem melhorado consistentemente a qualidade, o volume e a renda da sua produção. Na atual safra, já faturou mais de US$ 10 mil.
"Por que um branco deveria ter tudo isto?", perguntou ele, apontando o campo verde e ondulado. "Isto aqui é o Zimbábue. Os negros devem vir em primeiro."
Charles Taffs, presidente da União dos Agricultores Comerciais, disse que o setor teria meios para incluir mais agricultores negros de forma menos destrutiva.
"A tragédia com o tabaco é que essa expansão, se houvesse políticas corretas, poderia ter sido feita na década de 1990 em conjunto com o setor comercial", disse Taffs. Em vez disso, centenas de milhares de trabalhadores perderam seus empregos e o país sofreu enormes prejuízos econômicos.
O custo pessoal para os fazendeiros brancos foi imenso. Um fumicultor branco do norte do Zimbábue, cuja família havia adquirido suas terras após a independência, descreveu a lenta e dolorosa erosão dos meios de subsistência da sua família.
"Agora que estamos reduzidos a menos de 200 hectares não há renda suficiente para sustentar todos", disse o fazendeiro, que pediu para não ser identificado por temer uma desapropriação ainda maior. "Empregamos pessoas, cuidamos dos nossos trabalhadores. É realmente doloroso ver isso acontecer no nosso país."
A produção de tabaco -de 150 mil toneladas neste ano- está bem abaixo do recorde de 236 mil toneladas em 2000.
Mas Tendai Murisa, pesquisador da fumicultura, disse que julgar a reforma agrária pelas cifras da produção é deixar de lado um ponto crucial.
"Ninguém jamais argumentou que esta é uma forma de cultivo mais produtiva", disse Murisa. "Mas ela distribui a riqueza de forma mais equitativa? Ela dá uma sensação de dignidade e propriedade às pessoas? Essas coisas também têm valor."
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