terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Irã, encruzilhada Oriente-Ocidente


Irã, encruzilhada Oriente-Ocidente

O governo de Teerã voltou com força ao temário internacional com a divulgação do relatório da Agência Internacional de Energia Atômica. O documento aponta a intenção do regime teocrático de desenvolver armamentos, o que alimentou as suspeitas daqueles que desconfiavam do caráter militarista do programa nuclear iraniano.
A questão do Irã insere-se no bojo de complexa geometria tridimensional na geopolítica do Oriente Médio, envolvendo difusos interesses de Arábia Saudita, EUA e Israel.
À sombra das pressões internacionais, a Arábia Saudita é o Estado mais interessado numa possível intervenção contra o país persa.
O poder militar, político e econômico do Irã ampliou-se substancialmente nas últimas décadas e já desafia a hegemonia saudita no golfo Pérsico. Em curso, encontram-se nesses Estados teocráticos duas concepções divergentes do islamismo e de suas proliferações políticas.
As fissuras diplomáticas entre Riad e Teerã foram expostas no âmbito da revolução bareinita, que se transformou no laboratório desse embate conceitual entre xiismo e sunismo. No Bahrein, o destino da monarquia de Al Khalifa, minoria sunita, está ligado a temas políticos cruciais, como a manutenção das bases militares dos EUA no país e a estabilidade política da monarquia de Al Saud na Arábia Saudita.
Em termos geoestratégicos, o Irã representa ameaça mais direta aos sauditas do que a Israel. Uma agressão iraniana ao Estado judeu seria recebida pela comunidade internacional como uma ação suicida.
Mas a confrontação retórica com Teerã é importante para o governo Netanyahu elevar seu prestígio político interno e para dissipar o isolamento internacional de Israel, ocasionado por sua caótica diplomacia. A hipótese de ataque preventivo israelense contra instalações nucleares do Irã tem caráter inócuo.
Tal conflito vai arrastar a região para uma escalada militar fora de controle. Reações desmedidas se estenderão desde o leste do Mediterrâneo até a península Arábica.
Já os EUA tendem a acentuar a pressão contra Teerã com a proximidade das eleições presidenciais de 2012. Direcionar o foco da campanha contra a figura de um Estado inimigo, que represente uma ameaça aos valores democráticos, é um discurso plausível e de forte aceitação dentro dos EUA.
O envolvimento de Rússia e China é outro elemento tangencial e que pode, inclusive, recriar uma bipolaridade entre Ocidente e Oriente. Essa hipótese calca-se no valor daquilo que o Estado persa estará disposto a oferecer a russos e chineses e no nível de disposição das duas potências em arriscar suas relações com os EUA e com a Europa em prol do regime de Teerã.
A invasão ao Iraque, as tensões com as potências ocidentais e a ação da Otan na Líbia reforçaram a convicção iraniana de que o domínio pleno do ciclo nuclear é a única via para resguardar sua segurança e defender sua integridade territorial. Por isso, o isolamento e as ameaças belicistas contra o Irã não terão efeito. Resta a opção do diálogo.
HUSSEIN ALI KALOUT, cientista político, especialista em Oriente Médio, é professor de relações internacionais e secretário de relações internacionais do Superior Tribunal de Justiça.


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