segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Hora de se preparar para o tranco econômico


Seria importante que o governo Dilma montasse um gabinete de guerra para definir as estratégias brasileiras para enfrentar o tsunami que se avizinha.
Nem precisa mudar os atores. Há analistas competentes na Fazenda, Banco Central, Planejamento, MDIC e MCT, entre outros. O fundamental é conferir sentido de urgência aos estudos e medidas.
O primeiro passo é ignorar de vez os tais economistas de mercado. Acabou o jogo de fliperama em torno da Selic, as formulações vazias em torno do oco, essa dança macabra de fingir que os analistas acreditam que o BC acredita nas análises que fazem sobre inflação e Selic.
O jogo, agora, é para gente grande. O que está em questão é algo muito mais profundo: não só as medidas para poupar o país dos efeitos da crise, mas a estratégia interna e externa para se situar no momento atual.
O segundo passo é parar com fantasias. Dadas as condições atuais, o país não irá crescer de 4 a 5% no próximo ano.
As razões são objetivas:
  1. Há risco concreto da recessão mundial deprimir preços de commodities e produtos manufaturados. Há risco concreto de deflação na Europa.
  2. Com os níveis atuais de juros e câmbio, um eventual aumento no consumo pressionará fortemente as importações, anulando os efeitos sobre a produção interna e aumentando a vulnerabilidade das contas externas,
  3. Meta de inflação é problema menor, quando a economia mundial pode estar caminhando para a deflação. O problema é outro: qualquer nível de taxa de juros acima da inflação significará uma enorme transferência de renda para os mais ricos, pressionando contas públicas e consumo em um momento de esforço de guerra.
  4. Há desafios significativos para o futuro, como ampliar o prazo das operações no país, contando com o concurso do capital externo. Mas a prioridade no momento é outra: impedir que o real continue apreciado.
Por tudo isso, deve-se acelerar a redução da Selic, trabalhar pela desvalorização do real, tirar os resquícios de indexação da economia, para melhor se preparar para o tranco externo que ainda vem por aí.


Texto de Luis Nassif

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