Desistentes e mastigadores de dados
Em Hollywood, diz a lenda, os estudantes nota 10 recebem ordens dos
nota 7. Uma situação semelhante existe na costa do Pacífico, onde Apple,
Microsoft, Twitter e Facebook são apenas algumas das gigantes de
tecnologia dirigidas por desistentes da faculdade,
muitos deles conhecidos pelo pensamento intuitivo e anticonvencional.
Mas a maioria das empresas busca estudantes com bases empíricas nas
principais faculdades de administração, enquanto contam com um volume
cada vez maior de dados concretos para apoiar suas decisões.
Qual modo é o "melhor"?
Deixar Harvard talvez não seja a melhor prescrição para todo
empresário, mas o autor Michael Ellsberg praticamente incentiva o
abandono dos estudos.
"As empresas novatas são um empreendimento criativo por definição",
ele escreveu no Times. "Mas nossas classes atuais, preparadas para fazer
testes sobre assuntos acadêmicos estreitamente definidos, sufocam a
criatividade. Se um jovem retém espírito criativo
suficiente para começar uma empresa ao se formar, ele o faz apesar dos
estudos, e não por causa deles."
Não admira que John Lennon -cuja empresa, The Beatles, teve uma dose
razoável de sucesso- concluiu quando adolescente que seus professores
eram idiotas. Seu raciocínio? Eles não conseguiam ver que ele era um
gênio.
Um dos maiores fãs de Lennon, Steve Jobs, um desistente do Reed
College, teria simpatizado. Walter Isaacson, biógrafo de Jobs, afirmou
que Jobs não era excepcionalmente inteligente, pelos padrões
convencionais.
"Na verdade ele era um gênio", escreveu Isaacson. E acrescentou:
"Seus saltos imaginativos eram instintivos e mágicos. Eles eram
provocados pela intuição, e não pelo rigor analítico".
Os anúncios de Jobs diziam para os consumidores: "Pense diferente". E
Albert Einstein, outro gênio anticonvencional e intuitivo que apareceu
em alguns anúncios da Apple, disse certa vez: "A imaginação é mais
importante que o conhecimento".
Mas na maioria das empresas hoje o rigor analítico reina.
Alguns executivos mastigadores de dados são influenciados pelo livro
"Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game" [Bola de dinheiro: a arte
de ganhar um jogo injusto], de Michael Lewis. Moneyball faz a crônica
de como um time de beisebol subfinanciado,
os Oakland Athletics, prosperou explorando dados e uma analítica
intensa. Este ano a história foi transformada em filme estrelado por
Brad Pitt (desistente da faculdade) e produzido por Scott Rudin (nunca
frequentou).
No mundo dos negócios, Moneyball "transformou muitos em evangélicos empíricos".
Steve Jobs se gabava de que sabia intuitivamente o que os
consumidores queriam, mesmo que os consumidores ainda não o soubessem.
Mas outras empresas, como a IBM e a HP, estão investindo milhões para
transformar os desejos dos clientes em métrica quantificável.
Estudantes de administração também estão sendo mergulhados nas
estratégias de Moneyball. Na escola de administração de Yale, um curso
chamado "Matletismo" ensina os alunos a aplicar às empresas a análise de
dados comum nos esportes.
Desistentes e analistas empíricos podem concordar que até executivos
demitidos de companhias falidas saíram com bônus surpreendentes nos
últimos anos.
Fossem guiados pela inspiração mágica ou pela métrica quantificável, esses executivos sabiam que não podiam perder.
KEVIN DELANEY
Texto publicado no
New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 21 de novembro de 2011.
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