Uma busca genuína pela paz
Cairo
Cairo
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, foi convidado pelos republicanos para discursar em maio ao Congresso dos EUA.
Trata-se de uma honra que deveria ser retribuída com postura de estadista. Mas será que o líder israelense é capaz de qualquer coisa além de um cálculo de curto prazo?
O histórico recente sugere que não. Eu conversava outro dia com um decepcionado diplomata americano que teve amplos contatos com Netanyahu.
Quase todas as sugestões que o diplomata fez mereceram a seguinte resposta: "O que eu ganho em troca?" E a troca precisava ser imediata. Eis um líder que habita um universo puramente tático.
As táticas para desviar a atenção têm sido infindáveis. Houve um tempo em que a ameaça do Irã era apresentada como tão imediata e avassaladora que se tornava impossível abordar qualquer outro assunto -como o processo de paz com os palestinos. Ultimamente, Netanyahu tem ficado bem mais quieto a respeito do Irã, uma potência fanfarrona, mais tigre de papel do que ameaça existencial.
Então, tivemos o minueto do Estado judeu, uma repentina insistência para que os palestinos não somente reconheçam Israel -algo que a Organização para a Libertação da Palestina já fez há mais de uma década- como também admitam a sua natureza judaica. Uma exigência no mínimo incomum: pode-se reconhecer Estados, não a sua natureza.
O novo bordão é o da "deslegitimação", um termo esquisito, usado para descrever os esforços dos opositores de Israel para questionar a própria legitimidade do país e prejudicar sua economia -especialmente os interesses empresariais dos assentamentos na Cisjordânia- por meio de boicotes.
Não estou sugerindo que Israel não tenha o direito de se preocupar com tais questões.
Seria bacana se o Irã fosse tão simpático com Israel como demonstrava ser na época do xá, se os palestinos se manifestassem sobre o caráter judaico de Israel, e se ninguém achasse que a implacável ampliação dos assentamentos israelenses abala a sua legitimidade.
Mas essas seriam, afinal de contas, questões secundárias diante da busca genuína pela paz, caso Netanyahu e seu gabinete de centro-direita assim desejassem.
Oportunidade existe. Faz quase dois anos que Salam Fayyad, o primeiro-ministro palestino, vem desenvolvendo o primeiro programa sério de construção de um Estado na Cisjordânia.
O foco de Fayyad tem sido a não violência, o desenvolvimento econômico, a construção de estradas e escolas, e a substituição da retórica vazia por responsabilidade.
Os resultados vêm sendo consideráveis. Infelizmente, Israel ajuda aqui e ali de forma relutante -alguns postos de controle removidos, umas poucas regulamentações aliviadas-, em vez de incentivar ativamente.
A atual convulsão regional já derrubou um autocrata em quem Israel podia confiar, o egípcio Hosni Mubarak, mas demonstrou também que muitos jovens árabes foram além da questão palestina e estão preocupados com temas como democracia, responsabilidade pública, transparência e Estado de direito.
Essas tendências podem ser muito positivas para Israel se o país conseguir se livrar do encolhimento defensivo que vê inimigos por toda parte.
É hora de Netanyahu dizer o que a paz significa para ele, se é que significa algo.
Onde ele imagina que ficará a fronteira israelense? Estará ele disposto a frear a expansão dos assentamentos? Medidas provisórias não vão satisfazer os palestinos, que aprenderam que, no fim das contas, só Israel ganha com elas.
Em troca de um Estado viável, os palestinos devem assegurar a Israel a sua segurança dentro das fronteiras de 1967, aceitar que os refugiados regressem para o novo Estado da Palestina, e não para Israel, e superar suas divisões. Os Estados árabes devem honrar o compromisso de reconhecer Israel, desde que Israel se retire da Cisjordânia para as linhas pré-1967, com trocas territoriais mutuamente aceitas.
Somente os EUA podem mediar tal acordo. O presidente Barack Obama disse, em setembro passado, que a ONU deve estar em condições de acolher um novo Estado, a Palestina, até setembro deste ano.
Se ele está falando sério, deve convencer Netanyahu de que manobras táticas não vão tirar Israel do atual impasse.
Isso, por sua vez, exige que o presidente Obama vá a Jerusalém e tranquilize pessoalmente os israelenses, convencendo-os de que sua segurança estará mais bem servida por dois Estados que libertem dois povos, e não por um Estado que acabe por aprisionar ambos.
Trata-se de uma honra que deveria ser retribuída com postura de estadista. Mas será que o líder israelense é capaz de qualquer coisa além de um cálculo de curto prazo?
O histórico recente sugere que não. Eu conversava outro dia com um decepcionado diplomata americano que teve amplos contatos com Netanyahu.
Quase todas as sugestões que o diplomata fez mereceram a seguinte resposta: "O que eu ganho em troca?" E a troca precisava ser imediata. Eis um líder que habita um universo puramente tático.
As táticas para desviar a atenção têm sido infindáveis. Houve um tempo em que a ameaça do Irã era apresentada como tão imediata e avassaladora que se tornava impossível abordar qualquer outro assunto -como o processo de paz com os palestinos. Ultimamente, Netanyahu tem ficado bem mais quieto a respeito do Irã, uma potência fanfarrona, mais tigre de papel do que ameaça existencial.
Então, tivemos o minueto do Estado judeu, uma repentina insistência para que os palestinos não somente reconheçam Israel -algo que a Organização para a Libertação da Palestina já fez há mais de uma década- como também admitam a sua natureza judaica. Uma exigência no mínimo incomum: pode-se reconhecer Estados, não a sua natureza.
O novo bordão é o da "deslegitimação", um termo esquisito, usado para descrever os esforços dos opositores de Israel para questionar a própria legitimidade do país e prejudicar sua economia -especialmente os interesses empresariais dos assentamentos na Cisjordânia- por meio de boicotes.
Não estou sugerindo que Israel não tenha o direito de se preocupar com tais questões.
Seria bacana se o Irã fosse tão simpático com Israel como demonstrava ser na época do xá, se os palestinos se manifestassem sobre o caráter judaico de Israel, e se ninguém achasse que a implacável ampliação dos assentamentos israelenses abala a sua legitimidade.
Mas essas seriam, afinal de contas, questões secundárias diante da busca genuína pela paz, caso Netanyahu e seu gabinete de centro-direita assim desejassem.
Oportunidade existe. Faz quase dois anos que Salam Fayyad, o primeiro-ministro palestino, vem desenvolvendo o primeiro programa sério de construção de um Estado na Cisjordânia.
O foco de Fayyad tem sido a não violência, o desenvolvimento econômico, a construção de estradas e escolas, e a substituição da retórica vazia por responsabilidade.
Os resultados vêm sendo consideráveis. Infelizmente, Israel ajuda aqui e ali de forma relutante -alguns postos de controle removidos, umas poucas regulamentações aliviadas-, em vez de incentivar ativamente.
A atual convulsão regional já derrubou um autocrata em quem Israel podia confiar, o egípcio Hosni Mubarak, mas demonstrou também que muitos jovens árabes foram além da questão palestina e estão preocupados com temas como democracia, responsabilidade pública, transparência e Estado de direito.
Essas tendências podem ser muito positivas para Israel se o país conseguir se livrar do encolhimento defensivo que vê inimigos por toda parte.
É hora de Netanyahu dizer o que a paz significa para ele, se é que significa algo.
Onde ele imagina que ficará a fronteira israelense? Estará ele disposto a frear a expansão dos assentamentos? Medidas provisórias não vão satisfazer os palestinos, que aprenderam que, no fim das contas, só Israel ganha com elas.
Em troca de um Estado viável, os palestinos devem assegurar a Israel a sua segurança dentro das fronteiras de 1967, aceitar que os refugiados regressem para o novo Estado da Palestina, e não para Israel, e superar suas divisões. Os Estados árabes devem honrar o compromisso de reconhecer Israel, desde que Israel se retire da Cisjordânia para as linhas pré-1967, com trocas territoriais mutuamente aceitas.
Somente os EUA podem mediar tal acordo. O presidente Barack Obama disse, em setembro passado, que a ONU deve estar em condições de acolher um novo Estado, a Palestina, até setembro deste ano.
Se ele está falando sério, deve convencer Netanyahu de que manobras táticas não vão tirar Israel do atual impasse.
Isso, por sua vez, exige que o presidente Obama vá a Jerusalém e tranquilize pessoalmente os israelenses, convencendo-os de que sua segurança estará mais bem servida por dois Estados que libertem dois povos, e não por um Estado que acabe por aprisionar ambos.
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