Gerônimos
A RÁPIDA REVIRAVOLTA na versão oficial que não durou mais de 30 horas, sobre as circunstâncias da morte de Bin Laden, é um fato raro e nos leva a uma dívida promissora: a única explicação para as sucessivas correções, por diferentes integrantes do governo dos EUA, é uma decisão imposta pelo temor ou a certeza de que os meios de comunicação terminariam por desmoralizar as palavras oficiais. Inclusive as do próprio presidente Barack Obama. WikiLeaks e uma pequena parte do jornalismo merecem o crédito.
Não única, essa causa provavelmente maior não nega a disposição de Obama, implícita na reconsideração, de preferir a honra pessoal ao cinismo com que George Bush se valeu de mentiras, mesmo depois de demonstradas como tais a seu país e ao mundo. Mas nega a tradição histórica, muito praticada pelos Estados Unidos desde seus primórdios, da falsificação de motivos por governos, e respectivos comandantes militares, para os seus atos de imoralidade bélica.
Exemplo ressaltado pela história é a anexação da Áustria pela Alemanha de Hitler, em represália a uma inventada provocação na zona de fronteira. O pequeno Vietnã do Norte foi massacrado pelos bombardeiros B-52 durante anos em represália a um ataque seu, inexistente, a navio da marinha americana no Golfo vietnamita de Tonquim. Ou, ainda inacabada, a invasão do Iraque com a mentira da arma nuclear de Saddam Hussein, mesmo que já negada pela inspeção da própria agência especializada da ONU.
O nome-código dado a Bin Laden para a comunicação de sua morte à Casa Branca -Gerônimo- não suscitou curiosidade até agora. Mas sua escolha tem significações ricas.
Não é nome de brancos nem de negros americanos, em tempo algum. É nome indígena. Foi o nome de um dos mais ou o mais bravo chefe a resistir, e vencer muitas vezes, às tropas que conquistavam terras da América do Norte para os colonizadores com o genocídio dos habitantes originais. Gerônimo foi transformado em objeto de ódio branco que lhe deu lugar destacado na história das guerras dos Estados Unidos listadas pelo Departamento de Defesa.
Chamar Bin Laden de Gerônimo foi injustiça com o dono autêntico do nome, mas o conceito de justiça parece aplicar-se, no episódio atual, apenas às afirmações de Obama e de Bush, segundo os quais a morte do terrorista fez justiça. A Comissão de Direitos Humanos da ONU, entre outros pronunciamentos relevantes, não concorda: "As Nações Unidas enfatizam que todos os atos contra o terrorismo devem respeitar o direito internacional". À parte direitos humanos, a ação dos Estados Unidos está acusada de numerosas violações do direito internacional.
Sem ir mais longe, por desnecessário, o que fizeram as entidades internacionais e potências responsáveis pela aplicação do direito internacional quando, por exemplo, a URSS invadiu o Afeganistão, e os Estados Unidos invadiram o Iraque, o Panamá, Granada, o Vietnã, o Laos, sem dar confiança à ONU e em violação flagrante do direito internacional? Entre as nações dominantes, o direito internacional é matéria de transações. Acontece mais uma vez. E assim será, não se imagina até quando.
A RÁPIDA REVIRAVOLTA na versão oficial que não durou mais de 30 horas, sobre as circunstâncias da morte de Bin Laden, é um fato raro e nos leva a uma dívida promissora: a única explicação para as sucessivas correções, por diferentes integrantes do governo dos EUA, é uma decisão imposta pelo temor ou a certeza de que os meios de comunicação terminariam por desmoralizar as palavras oficiais. Inclusive as do próprio presidente Barack Obama. WikiLeaks e uma pequena parte do jornalismo merecem o crédito.
Não única, essa causa provavelmente maior não nega a disposição de Obama, implícita na reconsideração, de preferir a honra pessoal ao cinismo com que George Bush se valeu de mentiras, mesmo depois de demonstradas como tais a seu país e ao mundo. Mas nega a tradição histórica, muito praticada pelos Estados Unidos desde seus primórdios, da falsificação de motivos por governos, e respectivos comandantes militares, para os seus atos de imoralidade bélica.
Exemplo ressaltado pela história é a anexação da Áustria pela Alemanha de Hitler, em represália a uma inventada provocação na zona de fronteira. O pequeno Vietnã do Norte foi massacrado pelos bombardeiros B-52 durante anos em represália a um ataque seu, inexistente, a navio da marinha americana no Golfo vietnamita de Tonquim. Ou, ainda inacabada, a invasão do Iraque com a mentira da arma nuclear de Saddam Hussein, mesmo que já negada pela inspeção da própria agência especializada da ONU.
O nome-código dado a Bin Laden para a comunicação de sua morte à Casa Branca -Gerônimo- não suscitou curiosidade até agora. Mas sua escolha tem significações ricas.
Não é nome de brancos nem de negros americanos, em tempo algum. É nome indígena. Foi o nome de um dos mais ou o mais bravo chefe a resistir, e vencer muitas vezes, às tropas que conquistavam terras da América do Norte para os colonizadores com o genocídio dos habitantes originais. Gerônimo foi transformado em objeto de ódio branco que lhe deu lugar destacado na história das guerras dos Estados Unidos listadas pelo Departamento de Defesa.
Chamar Bin Laden de Gerônimo foi injustiça com o dono autêntico do nome, mas o conceito de justiça parece aplicar-se, no episódio atual, apenas às afirmações de Obama e de Bush, segundo os quais a morte do terrorista fez justiça. A Comissão de Direitos Humanos da ONU, entre outros pronunciamentos relevantes, não concorda: "As Nações Unidas enfatizam que todos os atos contra o terrorismo devem respeitar o direito internacional". À parte direitos humanos, a ação dos Estados Unidos está acusada de numerosas violações do direito internacional.
Sem ir mais longe, por desnecessário, o que fizeram as entidades internacionais e potências responsáveis pela aplicação do direito internacional quando, por exemplo, a URSS invadiu o Afeganistão, e os Estados Unidos invadiram o Iraque, o Panamá, Granada, o Vietnã, o Laos, sem dar confiança à ONU e em violação flagrante do direito internacional? Entre as nações dominantes, o direito internacional é matéria de transações. Acontece mais uma vez. E assim será, não se imagina até quando.
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