sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Paulo Henrique Machado (1967 - 2020): Morador do HC da USP desde os dois anos, faleceu aos 53

 “Uau! Olha! Vale muito a pena viver!” Era assim que Paulo Henrique Machado, 53, começava as suas lives no YouTube, sempre transmitidas do leito no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde viveu por 51 anos preso a um respirador artificial.

Paulinho, como era conhecido por amigos e seguidores, chegou ao HC em 1969, vítima da poliomielite, que paralisara seu sistema respiratório.

Mas ele tinha movimento em um dos braços. E uma cabeça cheia de projetos e sonhos. Na cama do hospital, aprendeu a ler e a escrever, concluiu o ensino médio e fez vários cursos de informática.

Em 1992, escreveu para uma empresa e recebeu a doação do seu primeiro computador, um MSX. Mais tarde, passou a montar computadores.

Era aficionado por jogos eletrônicos e, em 2013, criou uma animação 3D em que retratou as aventuras do personagem Léco, inspirado na sua própria história e na de amigos.

À época, tentava um financiamento coletivo para o projeto, mas enfrentava dificuldade. Após a Folha revelar a história, conseguiu R$ 120 mil, e o filme saiu no ano seguinte.

Na infância, Paulinho conviveu no HC com outras crianças vítimas da pólio, doença erradicada no Brasil há mais de 25 nos, mas que enfrenta hoje baixa taxa de vacinação.

De todos aqueles amigos, a artista plástica Eliana Zagui, autora do livro “Pulmão de Aço - Uma Vida no Maior Hospital do Brasil” (Belaletra Editora), é a única sobrevivente. Ela não vive mais no HC.

Paulinho morreu na quarta (18) em consequência do agravamento dos problemas respiratórios que tinha. Seu corpo será cremado nesta sexta (20).

Nas redes sociais, centenas de amigos de todo o país recordaram seu bom humor, otimismo, alegria e motivação.

“Meu verdadeiro irmão, família, companheiro, confidente, meu fiel amigo. Obrigada por mostrar que mesmo em meio às circunstâncias VALE MUITO A PENA VIVER!!!”, escreveu Zagui no Facebook.

“A imagem que ficará do Paulinho é do seu sorriso de menino e do seu dom de levar com uma leveza de invejar a qualquer um”, escreveu a senadora Mara Gabrilli (PSDB). “Não é à toa que o Paulinho gostava de super-heróis. Ele se sentia em família.”

A Comic Con Experience também lamentou a morte. “O mundo perdeu um herói. Paulo Henrique Machado nos deixou hoje, mas sua história viverá para sempre em nós. Porque não existe nada mais poderoso do que uma boa história e a dele foi incrível.”


Por Claudia Collucci, na Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário