Sítio do pica-pau racista?
O dia 11 de setembro não traz lembranças boas para os americanos. Pode ficar marcado também para os brasileiros. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Fux, fixou para hoje uma audiência de conciliação a respeito do racismo do Pedrinho. Quer dizer, do racismo do escritor Monteiro Lobato, criador do famoso “Sítio do pica-pau amarelo”, em “Caçadas de Pedrinho”. Estão convocados o procurador-geral da República, Roberto Gurgel (será que ele vai pedir a condenação do guri, pois o autor deixou rastros?), o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a presidente do Conselho Nacional de Educação, Ana Maria Bettencourt, o ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a relatora do caso no CNE. Além do denunciante, membro do Instituto de Advocacia Racial (IARA), que pediu a exclusão de “Caçadas de Pedrinho” do Programa Nacional Biblioteca na Escola.
Acontece que no livro aparecem frases do tipo “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”. A turma do sítio não parece mais racista do que qualquer outro personagem daquela época. Qualquer professor pode usar a obra até para mostrar o preconceito em determinada situação histórica. Pedrinho e seus amigos não representam grande perigo para as crianças de hoje. Mas, como quase tudo nesta vida deliciosamente complexa, há outro buraco nessa polêmica. Monteiro Lobato era um baita racista. Pesquisadores localizaram algumas cartas escritas por ele que o colocam direto na galeria da infâmia regional. É dele este coice na inteligência alheia: “Um dia se fará justiça ao Ku Klux Klan; tivéssemos uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva”. Burrice branca.
Nada de relativismo. Isso não se explica pelos valores da época. Lobato defecou essa declaração em 1938. Alguns professores de literatura querem tapar o sol com a peneira. Sugerem que Lobato falava cruamente do negro para denunciar o preconceito. Na na ninha não. Ele era racista mesmo. Tinha um Hitler dentro dele. Queria a eliminação dos negros por branqueamento e eugenia. No romance “O presidente negro”, ambientado nos Estados Unidos, em 2028, o conflito racial termina com a exterminação dos negros pela esterilização em massa. Indignado por não encontrar editor americano para o livro, Monteiro Lobato esbravejou em carta a Godofredo Rangel: “Acham-no ofensivo à dignidade americana (…) Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros”. O Brasil, no entender do iluminado nacionalista, sofria com a herança africana: “Mulatada, em suma (…) País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Klux-Klan é país perdido para altos destinos”. Que modelo para crianças!
Texto de Juremir Machado da Silva.
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