quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Mundo de Imposturas - uma ficção sobre a mais recente ditadura militar na Argentina


Mundo de imposturas
Os governos ditatoriais criaram inúmeras vezes a ilusão de que a violência não acontecia no verso de suas imagens oficiais. A reconstrução discursiva desse mundo de imposturas tem sido feita pelo realismo cortante dos testemunhos, que descortinam a brutalidade das torturas e dos traumas dos sobreviventes e também pela ficção, que cria um cenário propício para os desvendamentos e as reflexões históricas. Nesse sentido, o romance A Quem de Direito, do escritor argentino Martín Caparrós, lança outro olhar sobre a história da ditadura argentina, levando em conta a perspectiva dos militantes “não desaparecidos”, daqueles que sobreviveram e necessitam de um heroísmo póstumo para suportar as perdas e as desilusões.
O personagem Carlos, que na juventude foi um militante, carrega o fardo do desaparecimento de sua esposa grávida. Ao longo da narrativa, tenta recuperar os fios desatados de sua vida por meio de diálogos, encontros e lembranças entrecortadas. No emaranhado da sua memória, surgem inúmeros questionamentos sobre as vozes, no contexto atual, dos sujeitos que viveram os anos da militância e parecem estar suspensos na ordem da história. Todos merecem ser ouvidos? Até mesmo o antigo torturador que hoje acumula traumas e vive em um mundo repleto de fantasmas? Há lugar para a voz da geração dos filhos e netos dos militantes, que vive hoje mergulhada na arrogância e no niilismo? Tais perguntas encontram respostas na articulação ficcional de Caparrós e apontam atalhos para a construção de um período histórico obscuro, que possui como legado a necessidade da memória. – ANA LÚCIA TREVISAN
A quem de direito, de Martín Caparrós, Companhia das Letras, 336 páginas, 49 reais


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