sábado, 6 de agosto de 2011

Dependência não é questão de escolha


Dependência não é questão de escolha
Quando hesitei em assistir ao show de Amy Winehouse em janeiro deste ano, em Florianópolis, um amigo que ia junto me alertou: "Vá, sim, que essa pode ser sua última chance de vê-la viva". Não acreditei!
Durante o show, Amy errou a letra, perdeu o ritmo, cambaleou, saiu diversas vezes do palco e ainda "confundiu" a garrafinha de água com o microfone. O que parecia engraçado e patético, para mim, soou muito triste.
Essa tristeza vem, em parte, da percepção concreta da dificuldade que muitas pessoas enfrentam, diariamente, para se livrar da dependência dos diversos tipos de droga. O que acompanhamos no caso de Amy foi o retrato de alguém que precisava de mais ajuda. As suas "rehabs", ao contrário da música, não foram bem-sucedidas!
Uma imagem que chamou a atenção foi ver gente colocando bebida na porta da casa da cantora ou celebrando com um "brinde" no Facebook sua morte, como se houvesse uma aprovação ao "destino" que ela escolheu. Não convence!
A morte de uma artista brilhante aos 27 não é nem romântica nem libertária. É triste! Aquela história de que mais vale viver dez anos a cem do que cem anos a dez, usada para justificar a partida precoce de tantos gênios, para mim, não cola! Não quando você não tem opção de escolher! E, na dependência, você não escolhe. A droga fala mais alto. A fissura, o desejo de repetir a experiência prazerosa, é soberana. Nesse processo, as escolhas são bem poucas.
Apesar de escrever esta coluna antes do laudo oficial dizer qual foi a causa da morte de Amy Winehouse, a gente imagina que um erro acidental ou voluntário na quantidade ou na combinação de substâncias parece ter selado o destino da cantora que mais chacoalhou o cenário da música inglesa neste século.
E para quem acha que dependência é uma questão de caráter ou de escolha artística, a verdade não é bem essa. Dependência é doença! E gênios também ficam doentes e morrem por causa da sua doença!



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