Clima ajudou queda de Império Romano
Estudo mostra que, a partir do século 3, esfriou e parou de chover no Império, e a agricultura entrou em colapso
Publicação de livro sobre o tema, em 2005, aumentou o interesse na relação entre história e ambiente
Estudo mostra que, a partir do século 3, esfriou e parou de chover no Império, e a agricultura entrou em colapso
Publicação de livro sobre o tema, em 2005, aumentou o interesse na relação entre história e ambiente
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Não é a resposta que quem corrige vestibulares espera, mas um novo estudo diz que, entre os fatores que levaram o Império Romano ao fim, está uma mudança climática.
Pesquisadores da Universidade Harvard e de várias instituições europeias mostraram que, no auge da expansão de Roma, o clima era quente e chuvoso. Isso fortalece a agricultura e, assim, ajuda a alimentar grandes exércitos, além de permitir uma economia pujante, evitando insatisfações internas.
Isso aconteceu por volta do ano 100 d.C., quando o Mediterrâneo virou um "lago romano", e o Império chegou a colocar os pés até no Norte da atual Inglaterra, onde concluiu, em 126 d.C., a muralha de Adriano, para manter os inimigos afastados.
Uma hora, porém, a prosperidade acabou. A partir do meio do século 3, mudanças climáticas tornaram o Império Romano mais seco e frio.
Segundo o grupo internacional de pesquisadores, que publicou suas conclusões na "Science", isso certamente afetou a produção de alimentos e pode ter estimulado causas tradicionalmente relacionadas à decadência de Roma, como a inflação.
Certamente políticas monetárias erradas colaboraram para piorar o cenário de crise econômica, dizem, mas não é por isso que se deve, nas palavras de Jan Esper, da Universidade Johannes Gutenberg (Alemanha), "seguir a crença comum de que civilizações estão isoladas de variações ambientais".
Para saber como era o clima há tanto tempo, os cientistas analisaram 9.000 pedaços grandes de madeira antiga. A maioria veio de restos de construções e artefatos de madeira na Europa.
Cada ano cria um anel único no tronco da árvore. Pacientemente, os cientistas foram retrocedendo, comparando pedaços de madeira cada vez mais antigos.
O desafio era ir criando uma sequência história de troncos: quando não havia mais como retroceder nos anéis de um, ter um novo pedaço de madeira, mais antigo, para seguir.
Conforme a grossura desses anéis, é possível saber quanto choveu e se fez frio ou calor naquele ano.
Os cientistas destacam que a existência de mudanças climáticas em um período pré-Revolução Industrial não significa que o aquecimento global contemporâneo seja natural. "O que está acontecendo agora não tem precedentes, é muito mais rápido", dizem os cientistas.
A ideia de que fatores ambientais, mais do que políticos, levam sociedades ao colapso ganhou força em 2005, quando o biogeógrafo americano Jared Diamond lançou o livro "Colapso". Nele, Diamond mostra como coisas como a exploração excessiva da madeira ou da pesca levaram sociedades à crise.
Não existia grande material científico, em 2005, sobre como o ambiente tinha atingido Roma. Os romanos, ao menos, não tiveram culpa pelas mudanças no clima que atingiram seu Império.
DE SÃO PAULO
Não é a resposta que quem corrige vestibulares espera, mas um novo estudo diz que, entre os fatores que levaram o Império Romano ao fim, está uma mudança climática.
Pesquisadores da Universidade Harvard e de várias instituições europeias mostraram que, no auge da expansão de Roma, o clima era quente e chuvoso. Isso fortalece a agricultura e, assim, ajuda a alimentar grandes exércitos, além de permitir uma economia pujante, evitando insatisfações internas.
Isso aconteceu por volta do ano 100 d.C., quando o Mediterrâneo virou um "lago romano", e o Império chegou a colocar os pés até no Norte da atual Inglaterra, onde concluiu, em 126 d.C., a muralha de Adriano, para manter os inimigos afastados.
Uma hora, porém, a prosperidade acabou. A partir do meio do século 3, mudanças climáticas tornaram o Império Romano mais seco e frio.
Segundo o grupo internacional de pesquisadores, que publicou suas conclusões na "Science", isso certamente afetou a produção de alimentos e pode ter estimulado causas tradicionalmente relacionadas à decadência de Roma, como a inflação.
Certamente políticas monetárias erradas colaboraram para piorar o cenário de crise econômica, dizem, mas não é por isso que se deve, nas palavras de Jan Esper, da Universidade Johannes Gutenberg (Alemanha), "seguir a crença comum de que civilizações estão isoladas de variações ambientais".
Para saber como era o clima há tanto tempo, os cientistas analisaram 9.000 pedaços grandes de madeira antiga. A maioria veio de restos de construções e artefatos de madeira na Europa.
Cada ano cria um anel único no tronco da árvore. Pacientemente, os cientistas foram retrocedendo, comparando pedaços de madeira cada vez mais antigos.
O desafio era ir criando uma sequência história de troncos: quando não havia mais como retroceder nos anéis de um, ter um novo pedaço de madeira, mais antigo, para seguir.
Conforme a grossura desses anéis, é possível saber quanto choveu e se fez frio ou calor naquele ano.
Os cientistas destacam que a existência de mudanças climáticas em um período pré-Revolução Industrial não significa que o aquecimento global contemporâneo seja natural. "O que está acontecendo agora não tem precedentes, é muito mais rápido", dizem os cientistas.
A ideia de que fatores ambientais, mais do que políticos, levam sociedades ao colapso ganhou força em 2005, quando o biogeógrafo americano Jared Diamond lançou o livro "Colapso". Nele, Diamond mostra como coisas como a exploração excessiva da madeira ou da pesca levaram sociedades à crise.
Não existia grande material científico, em 2005, sobre como o ambiente tinha atingido Roma. Os romanos, ao menos, não tiveram culpa pelas mudanças no clima que atingiram seu Império.
Texto publicado na Folha de São Paulo, de 14/01/2011.
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