Com o título “Velho não quer trepar e usar drogas, quer ser dono de casa”, matéria do Uol, repercutindo uma declaração dada no programa "Saia Justa", do canal GNT, mostrou que Rita Lee descobriu novos prazeres na velhice. Aos 72 anos, ela disse que “trepou a vida inteira” e que agora tem vontade de ler mais, aprender coisas novas, pintar. Passou a gostar de lavar louça, arrumar a cama e outras tarefas “fantásticas”. “E hoje estou aqui, velha e dona de casa”, já que “fazer sexo e usar drogas” não lhe interessam mais.
A roqueira mais famosa do Brasil, que revolucionou comportamentos no século passado, não é a única que se aposentou do sexo.
Na minha pesquisa sobre envelhecimento e felicidade, muitos homens e mulheres confessam que o sexo deixou de ser uma prioridade em suas vidas e que descobriram novos prazeres na velhice. Ser “dono de casa” é um deles, principalmente para os homens que passaram a maior parte da vida mergulhados no trabalho.
Quando se aposentam, além de buscarem um novo propósito que dê significado às suas vidas, querem ter mais tempo com a família, esposa, filhos e netos. Muitos estão descobrindo que gostam de cozinhar, e aprenderam a lavar louça, passar aspirador e outras atividades domésticas.
Já as mulheres querem ter mais tempo com as amigas, fazer cursos, ir ao cinema e teatro, viajar, passear, rir e conversar. Querem ter tempo para cuidar de si, pois passaram a vida inteira cuidando dos outros. Mais velhas, descobrem que o tempo é um bem precioso e buscam aproveitar a liberdade tardiamente conquistada.
Há uma inversão interessante. Quando envelhecem, muitos homens ganham o mundo do afeto, da família e da casa, que não puderam usufruir antes pois se dedicaram integralmente ao trabalho. As mulheres ganham o mundo da liberdade e da amizade, que não puderam aproveitar quando mais jovens já que priorizaram o cuidado da família e da casa.
Apesar das perdas inevitáveis, eles demonstram que existem ganhos importantes com o envelhecimento. Sentem-se mais livres para escolher como usar o tempo com atividades e projetos que consideram mais significativos. O lema deles poderia ser: “Eu não preciso mais, mas eu quero!”
Por que tanta dificuldade para aceitar que “velho não quer trepar” ou melhor que nem todos querem? Será que é porque não conseguimos enxergar outros aprendizados e propósitos tão ou mais gratificantes do que o sexo?
Texto de Mirian Goldenberg, na Folha de São Paulo.
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