Jovem, aperte seu cinto de castidade: o governo não quer que você transe. Em pleno 2020, o Brasil quer promover políticas de abstinência sexual. “Escolhi esperar”, diz o movimento, que ironicamente faz muito sucesso em países atrasados, onde esperar virou um hábito. Afinal, pra quem espera há 500 anos por reforma agrária, o que é que custa esperar uns aninhos por um boquete?
Não é a primeira vez que esse governo quer controlar seus órgãos. Primeiro, Bolsonaro tentou controlar seu intestino, pedindo que você fizesse cocô dia sim, dia não. Bolsonaro propôs uma alternativa mais barata ao saneamento básico: a abstinência de cocô. Agora é a vez da abstinência de pinto e de pepeca, uma alternativa barata às aulas de educação sexual.
O argumento, devo admitir, faz algum sentido: “A única maneira realmente segura de não engravidar é não transar”. Devo alertar, no entanto, que há controvérsias sobre a eficácia do método. Maria, por exemplo: não transou. Olha no que deu.
Todo cristão deveria saber que a abstinência não funciona. Se funcionasse, a gente não estaria em 2020, mas em 5780, sem comer porco e fazendo babyliss no cabelo ao redor das têmporas. Todo o cristianismo deve sua existência ao fato de que Deus não respeita o hímen de ninguém. Se ele quiser te engravidar, amigo, babau. Não precisa nem ter útero. “Me dá aqui uma costela. Pronto.”
Damares, se você quiser que o povo não transe, talvez seja melhor parar de falar em Deus. Os países que têm menos gravidez na adolescência são, também, os mais laicos. Esse papo de pecado dá uma vontade danada de cometer. Abstinência gera desejo. Pra quem tá de jejum, farinata é Amandita. Pra quem tá com sede, água da Cedae é cerveja.
Dizer que “Deus tá vendo”, de alguma maneira, atiça o pessoal —todo mundo capricha mais quando tem uma webcam. Pior ainda é a ideia de que Ele “está no meio de nós”. Qualquer rapidinha vira um ménage.
Tem coisas, no entanto, que broxam. O Estado devia investir em fomentá-las. Por exemplo: longas horas de estudo. A escolaridade de um povo é inversamente proporcional à taxa de gravidez na adolescência.
Quer que o pessoal pare de transar? Põe todo mundo na faculdade. Mas vai ter que conversar com o Weintraub. Com o fiasco do Enem, não sobrou alternativa a essa juventude senão transar o ano inteiro.
Texto de Gregório Duvivier, na Folha de São Paulo.
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