Em dezembro do ano passado, o professor Brito Cruz, diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apresentou a uma plateia de colegas, reunidos pela Academia Brasileira de Ciências, dados pouco conhecidos sobre o sistema brasileiro de ciência e tecnologia e sobre o lugar que nele ocupam as universidades públicas de pesquisa. Da fala do professor destaco quatro coisas que, se não fosse tão primitivo, o governo deveria saber.
As universidades são o habitat natural de todos quantos se dedicam a produzir conhecimentos no Brasil. Nelas trabalham, em valores arredondados, 80% dos 330.670 pesquisadores ativos no país; 18% atuam em empresas e 2% no governo.
Por outro lado, 2/3 do pessoal em carreiras de pesquisa e desenvolvimento nas empresas se formou em oito universidades públicas, entre as quais se destacam as três estaduais e uma federal localizadas no estado de São Paulo.
Ao contrário do que sustenta a sabedoria convencional, aqui a colaboração entre universidades e empresas é importante e se expande. Entre 1980 e 2018, cresceu em média 14% ao ano o número de artigos científicos publicados em coautoria por pesquisadores sediados em empresas e universidades. A colaboração é especialmente estreita e significativa entre oito universidades públicas e 25 empresas brasileiras e multinacionais, entre as quais a Petrobras, a Novartis, a Vale do Rio Doce, a Pfizer, a IBM e a Embraer.
Finalmente, em toda parte, o avanço da pesquisa nas universidades depende de financiamento público. Isso é verdade tanto para o Brasil quanto para países mais ricos e desenvolvidos. Segundo Brito Cruz, a porcentagem de recursos privados investidos nas três universidades públicas paulistas é pequena —nem sequer alcança 6% de seus orçamentos—, mas semelhante ao valor observado em um conjunto de universidades norte-americanas de importância equivalente.
Aquelas oito universidades são a vanguarda de um sistema público bem maior e heterogêneo do ponto de vista da vocação para desempenhar funções normalmente atribuídas às instituições universitárias: educação de cidadãos, formação profissional qualificada, produção de conhecimentos novos e sua utilização para melhorar a vida das pessoas.
Para florescer, o sistema universitário público precisa de recursos e de autonomia acadêmica e administrativa, que hoje lhe faltam, para que cada instituição possa escolher e seguir sua vocação. Tudo que um governo que desdenha a ciência e se compraz com sua estrepitosa ignorância não é capaz de prover. Só quer controlar —e destruir.
Texto de Maria Hermínia Tavares, na Folha de São Paulo.
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