Acredito na teoria de que existe uma grande sociedade secreta de grávidas plenas que finge que a gestação é um momento pleno e maravilhoso. É um golpe sujo para convencer outras mulheres a
engravidar, porque, se elas soubessem o que viria pela frente, desistiriam da ideia.
engravidar, porque, se elas soubessem o que viria pela frente, desistiriam da ideia.
Eu caí nessa lorota e engravidei. Por isso, resolvi usar essa coluna para mostrar a real. Ao contrário do que vendem, gravidez é fome, sofrimento, hemorroidas e flatulências involuntárias.
Esqueça as imagens de futuras mães comendo frutas e saladinha. A gestação te transforma em uma zumbi sem educação em busca de comida. Você passa a filar comida alheia, comer sobras e pegar o último croquete da porção sem perguntar.
A criatividade gastronômica fica extremamente aguçada. Você tem ideias como jogar leite condensado no amendoim, queijo ralado no requeijão, Bis moído no sorvete ou, como estou fazendo agora, mergulhar Doritos no iogurte.
Para a gestante, não existe “meu corpo, minhas regras”. É “meu corpo, as regras da minha mãe, da minha sogra, dos parentes e dos passantes na rua”. Tudo o que você faz, come, respira é julgado por terceiros.
“Tem certeza que pode comer sushi?”
“Como seu marido deixa (?) você andar de bicicleta?”
Seu físico também vira objeto de análise. Opinam sobre sua barriga —que nunca está do tamanho certo—, seu rosto, seu umbigo. E o tamanho dos seus seios é debatido no cafezinho do escritório.
Os toques na barriga e comentários de estranhos perdem a importância quando seu organismo começa a se comportar de forma constrangedora. Não é raro você sair correndo de jantares e reuniões para urinar.
Espirrar é uma grande roleta-russa, na qual as únicas opções são xixi nas calças, pum ou sabe-se lá o que mais.
Uma das melhores coisas da gravidez é, justamente, passar por constrangimentos sem se constranger.
Poder compartilhar intimidade intestinal com o chefe. Culpar o cachorro por barulhos estranhos (mesmo que seu marido saiba que vieram de você). Andar com a camisa aberta, coçando a barriga, como o personagem Nazareno do Chico Anysio. E ainda, de brinde, gerar um ser humano. Ou, como eu, dois.
As grávidas plenas não sabem o que estão perdendo.
Texto de Flávia Boggio, na Folha de São Paulo.
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