As causas da morte não são conhecidas. Shenuda III tinha problemas de
saúde há vários anos – a agência estatal MENA refere que sofria de
insuficiência hepática e de um tumor nos pulmões – e na semana passada
já fora obrigado a anular a sua celebração semanal.
A morte do
carismático líder da Igreja copta, cargo que ocupava desde 1971, como
117.º sucessor do evangelista S. Marcos, acontece numa altura em que o
frágil processo democrático no Egipto continua ameaçado depois de um ano
de sucessivos ataques violentos contra os coptas e de confrontos
confessionais, após a queda do antigo Presidente Hosni Mubarak.
Líder
carismático, mas também polémico, Shenuda III conduziu com mão-de-ferro
a comunidade copta no país, que hoje representa 10% da população, e foi
uma voz a favor da unidade entre as igrejas e os fiéis.
Nazeer
Gayed nasceu a 3 de Agosto de 1923. Licenciou-se em História na
Universidade do Cairo em 1947, foi professor de Ciências Sociais e
Inglês, e falava com fluência árabe, copta e francês.
Apelidado o
“papa de Alexandria e patriarca da Sé de S. Marcos”, viria a ser o
primeiro papa copta a visitar os Estados Unidos e, no interior do
Egipto, passaria do confronto à conciliação com o poder, num país
maioritariamente islâmico.
Nos últimos anos teve de enfrentar uma
escalada de violência contra os seus fiéis. A sua morte acontece num
momento de particular tensão sobre a transição política.
Em
Outubro, a poucas semanas do início das eleições, uma manifestação
pacífica de coptas, que protestavam contra o incêndio de uma igreja no
Sul do país, foi reprimida a tiro pela polícia militar. Morreram 24
pessoas. Activistas coptas e muçulmanos acusaram o Exército de ter
disparado a matar contra manifestantes pacíficos para criar divisões
entre os egípcios.
A queda de Hosni Mubarak, em Fevereiro de
2011, veio agravar o sentimento de marginalização da comunidade copta e,
com isso, aumentar a insegurança no país. Antes, em Janeiro do ano
passado, um atentado matou 23 pessoas e deixou feridas 79, a maioria das
quais cristãs que saíam de um igreja copta em Alexandria, depois da
missa de Ano Novo.
Já depois de a revolução popular fazer cair
Mubarak, 13 pessoas foram mortas, a 8 de Março do ano passado, em
confrontos entre muçulmanos e coptas no Cairo, onde cerca de mil
cristãos protestavam contra um incêndio no Sul da capital. Em Maio,
confrontos entre muçulmanos e coptas resultaram em 12 mortos e mais de
200 feridos na capital, depois de um ataque a uma igreja e o novo
incêndio.
Shenuda III incentivou a comunidade copta a votar em
massa nas primeiras eleições legislativas pós-Mubarak. Os resultados
preocuparam alguns coptas, com o partido da Irmandade Muçulmana a sair
vencedor - seguidos dos islamistas radicais salafistas. Em terceiro
lugar ficou o Bloco Egípcio, que reúne vários liberais e conta com muito
apoio entre os cristãos coptas.
Notícia do Público.
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