quarta-feira, 7 de março de 2012

Uma mãe de luto combate os cartéis


Uma mãe de luto combate os cartéis

Por JAVIER C. HERNÁNDEZ

TEGUCIGALPA, Honduras - Há não muito tempo, Julieta Castellanos podia ir e voltar a pé até o mercado da esquina sem que atraísse qualquer olhar ou comentário.
Atualmente Castellanos, que dirige desde 2009 a maior universidade hondurenha, está sob constante observação de guarda-costas, e com frequência é abordada por desconhecidos.
"A senhora é a esperança do povo", disse um taxista recentemente. "Estamos com a senhora na sua luta", falou um garçom.
Desde os assassinatos de seu filho mais novo, Rafael Alejandro Vargas, 22, e de um amigo dele, Carlos Pineda, 24, cometidos em outubro pela polícia nacional de Honduras, Castellanos, 57, emergiu como uma improvável heroína: uma civil disposta a travar uma guerra pública contra os cartéis de drogas e o seu controle sobre as instituições do país.
Suas críticas mordazes são matéria-prima frequente dos jornais. Ela chama a polícia de monstro e diz que será culpa do chefe da corporação se ela for assassinada.
O presidente Porfirio Lobo deve sancionar em breve uma revisão completa da força policial, com base numa proposta moldada por Castellanos.
A recente repressão ao narcotráfico no México e na Colômbia levou os criminosos para Honduras, um país com 8 milhões de habitantes, que rapidamente se transformou em uma das áreas mais violentas do mundo, com 85,9 homicídios por 100 mil habitantes (para efeito de comparação, nos EUA são 5 por 100 mil, no Brasil são 25 e no México são 18).
Os aliados de Honduras, na esperança de que a crescente indignação popular altere a situação, recentemente intervieram. O Chile e a Colômbia ajudaram a avaliar os policiais.
Os políticos americanos, temerosos de que Honduras desestabilize a América Central, tomaram a excepcional medida de enviar um ex-embaixador na Nicarágua, Oliver Garza, para trabalhar como consultor em tempo integral no palácio presidencial hondurenho.
Criada nos canaviais de Honduras, Castellanos se formou em sociologia e trilhou a carreira acadêmica, mas prometeu aos pais que não se esqueceria dos problemas da vida cotidiana. "Conheço os direitos das pessoas e sei o que o governo deve ou não fazer."
Há 13 anos ela escreve uma coluna de jornal e, em 2004, fundou um centro de estatísticas criminais na Universidade Nacional Autônoma de Honduras. Na sua atual luta contra a violência policial, sua voz estridente e seu estilo intransigente incomodam alguns líderes, que a acusam de politicagem (ela nega ter interesse em cargos públicos). Ela se tornou uma defensora incansável da criação de uma comissão internacional para supervisionar uma faxina na polícia e o Congresso Nacional afinal aprovou a ideia.
Muitas forças de segurança na região estão infiltradas pelo narcotráfico. Analistas acham que o problema é particularmente grave em Honduras por causa da sua pobreza, da proximidade com o México e do golpe de 2009.
Numa noite de outubro, Castellanos discutia com seu filho por causa do carro da família. Ela precisaria dele na manhã seguinte, às 8h da manhã.
"Sí, mamá", disse ele, de um jeito obediente, mas desafiador. Ele havia enchido o tanque? "Sí, mamá." Na manhã seguinte, o carro não apareceu e o filho não atendia o celular. Castellanos pressentiu que havia algo de errado.
Nos dias seguintes, ela soube de muita coisa que não gostaria de saber: Rafael morreu primeiro, com um tiro nas costas. Oito policiais estariam envolvidos, vários deles desapareceram depois daquela noite e alguns continuam na folha de pagamento do governo.
Uma noite, centenas de estudantes se reuniram na universidade, segurando velas, para homenagear seus colegas. Castellanos disse que, vendo aquele mar de chamas, teve esperança de que a geração deles possa viver livremente, sem medo. "Nada disso acaba com o sofrimento", disse ela, "mas o sofrimento nos dá força".



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