Na primeira tentativa de aproximação, tinha que ter ficado bem claro para a biofarmacêutica Pfizer que o ilustríssimo senhor presidente não queria papinho. Mas vai que a mensagem foi parar no spam, deu problema no servidor ou a internet do crush não estava funcionando?
Pfizer, eu te entendo. Quantas vezes não deletei o número do cara só pra não mandar um “me nota ou vou morrer” na madrugada? Agora meter no subject: “Me nota ou meio milhão de pessoas vão morrer”, eu achei pesado. Esse tipo de drama não funciona com esse tipo de homem. Se você tivesse lido Capricho na adolescência, saberia.
Olha… um email, depois outro, até uns cinco a gente perdoa —ninguém manda nas coisas do coração. Mas 53? Tá louca? Daí ainda liga e insiste? Manda amiguinho da Casa Branca, do Reino Unido e da União Europeia falar bem de você?
Seu analista nunca te falou que isso é o clássico complexo materno “preciso cuidar dele”? Você viu como ele insultou a Coronavac e mesmo assim pensou “comigo vai ser diferente”? Você não tem uma prima pra avisar que ninguém muda ou salva alguém se a pessoa não quiser mudar ou ser salva (ou, mais especificamente, se for um belzebu sanguinário)?
Frete grátis e chaveirinho de arma de brinde? Viu que foi bloqueada e ligou de um número não identificado? Mandou avião com faixa no Valentine’s Day com os dizeres “aceita que tá quase ‘na faixa’”? Passou com carro de som em frente à casa dele: “Só hoje, vacina e vergonha pela metade do preço”?
Ficou cobrando resposta, no estilo ansiosa com atitude: “diz logo que não me quer, porque tem quem queira?”.
Eu fiquei emocionada quando soube que até cartinha você mandou, Pfizer. Tão anos 90! Eu ainda borrifava meu perfume e enchia de marcas de batom. Não conhece a música “Some que Ele Vem Atrás”, da Anitta com a Marília Mendonça? Só faltou curtir fotos antigas no Instagram.
Eu lamento demais que o presidente tenha sido perseguido dessa maneira. Mulher está acostumada a sofrer assédio desde que a história começou a ser narrada em pedra. Mas um homem branco de olhos azuis sofrer qualquer forma de infortúnio choca a sociedade. Ainda mais um digníssimo tão ocupado, dividindo seu precioso tempo entre decorar mesas de café da manhã com desafetação e desprovimento; proferir sujidades para uma dúzia de psicopatas robóticos que odeiam a imprensa (justamente porque se submetem ao não remunerado ofício de digitador de surrealismo criminoso em grupos de zap e redes sociais); administrar a dicotomia complexa entre adestrar cães de guarda para babarem e cagarem em todos os lugares e limpar a baba e a merda desses animais; transformar estádios em campos-santos; e dar cargos, afagos e prêmios a milicianos.
Pfizer, AstraZeneca, Coronavac, me doeu demais vê-las escarnecidas e rejeitadas pelo pior dos homens. Ainda assim, por favor, não desistam! Somos a maioria e amamos a ciência.
Texto de Tati Bernardi, na Folha de São Paulo.
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