Stanley Donen, morto na quinta (21) em Nova York, foi mais do que codiretor (com Gene Kelly) de “Cantando na Chuva” (1952). Está entre os cineastas que tornaram o mundo melhor pelo tempo de duração de muitos de seus filmes. Foi também, dos diretores de musicais, o que melhor usou recursos exclusivos do cinema para apresentar números de dança —e olhe que, tendo Gene Kelly ou Fred Astaire à frente da câmera, ninguém precisaria desses recursos. Mas Donen era um diretor de Hollywood, não da Broadway.
Em “Modelos”, de 1944, ele tornou Gene Kelly parceiro de si mesmo —um Gene imaginário salta de repente diante do verdadeiro e os dois dançam pelas calçadas de Nova York. Em “Marujos do Amor” (1945), botou Kelly para dançar com Jerry, o rato da dupla Tom e Jerry. E, em “Um Dia em Nova York” (1950), o primeiro musical filmado nas ruas, Donen transgrediu a cláusula da dança contínua, sem cortes, tornada pétrea por Astaire em 1935, e mostrou que, em certos casos, os cortes podem emprestar grande dinamismo à cena.
Mas, se fosse para filmar em sequência, sem cortar, isso também podia ser feito à maneira do cinema, como o número de Fred Astaire em “Núpcias Reais”, de 1951, em que Astaire parece dançar nas paredes e no teto da sala —a “sala” era uma caixa presa a um eixo, que Fred fazia girar com seu próprio peso ao mudar de posição. E, no surpreendente “Procura-se uma Estrela” (1953), há o incrível número dos balões, em que Debbie Reynolds e Bob Fosse dançam de trás para a frente.
Donen usou também truques de cinema em “Cinderela em Paris” (1956), com Astaire e Audrey Hepburn, “Um Pijama para Dois” (1957), com Doris Day, e “O Parceiro de Satanás” (1958), com Gwen Verdon, todos ótimos.
Mas nada supera “Cantando na Chuva”, não? Por causa da famosa sequência, faltou água e ninguém pôde tomar banho em Hollywood naquele dia. Culpa dele.
Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo.
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