terça-feira, 8 de novembro de 2011

Violência da política do filho único continua sendo tabu na China


Violência da política do filho único continua sendo tabu na China


Brice Pedroletti

As medidas draconianas do planejamento familiar, uma mistura de persuasão com coerção, foram na China fonte de diversos conflitos desde que entrou em vigor a política do filho único em 1980. Sobretudo quando os dirigentes locais, preocupados em não serem penalizados – os resultados do planejamento familiar são um grande critério de promoção dentro do partido – lançaram campanhas de retificação das estatísticas que levaram aos piores atos de violência.

Em Linyi, na província de Shandong, o militante cego Chen Guangcheng reuniu em 2005, com a ajuda de dois juristas de Pequim, Teng Biao e Guo Yushan, dezenas de depoimentos sobre os atos de violência sofridos pelas famílias nas quais uma mulher tentasse dar à luz fora da cota, muitas vezes indo até outra região. Jurista autodidata, Chen Guangcheng era uma figura local com quem os camponeses iam se aconselhar quando acreditavam estar sendo vítimas de alguma injustiça. Jogado por quatro anos na prisão em 2006 sob pretexto de ter “perturbado a circulação” e “prejudicado a manutenção da ordem pública”, ele foi libertado em 2010, mas hoje ainda está em prisão domiciliar, com sua família, em represália a seu papel de denunciador.

A investigação da qual participou Chen Guangcheng, intitulada “Notas de investigação sobre o planejamento familiar em Linyi”, de Teng Biao, está disponível on-line, em chinês. Eis a tradução de alguns dos depoimentos reunidos pelos investigadores: Fang Zhongxia mora no vilarejo de Xiajiagou (burgo de Liangqiu, condado de Feixian, cidade de Linyi). Ela teve duas filhas, e depois passou a usar um anel contraceptivo. Ela foi trabalhar em outra região. Durante esse tempo, engravidou novamente. Os agentes do planejamento familiar saíram à sua procura.

Para trazê-la de volta, eles prenderam no total 22 pessoas, entre elas três crianças, uma mulher grávida e uma senhora de 70 anos. Elas foram espancados e tiveram de pagar pelo menos mil yuans para serem libertados (R$ 274). No final, Fang Zhongxia voltou ao vilarejo quando estava em seu sétimo mês de gestação. Ela sofreu um aborto, e depois teve suas trompas ligadas. Foi somente nesse momento que sua tia, que havia sido sequestrada, foi libertada.

Song Houhua, 60, mora no vilarejo de Maxiagou, também em Liangqiu. Sua nora teve um filho e não tinha direito de ter um segundo filho. Mas ela descobriu que estava grávida de 5 meses, em novembro de 2004. Liu Shanhua diz não ter tomado nenhum medicamento e os check-ups não a detectaram antes. Ela se escondeu, mas sua sogra Song Houhua foi presa em pleno inverno. Exigiram-lhe que pagasse 3 mil yuans para sair, mas ela tinha somente 500. Ela seria sequestrada mais uma vez durante 26 dias, com seu irmão de 65 anos, sua cunhada e seus vizinhos. Os agentes do planejamento familiar lhe mandaram bater em seu irmão. Ela se recusou. Eles mandaram seu irmão bater nela. Seu irmão perdeu vários de seus animais por causa do sequestro. Ele ficou com raiva de sua irmã e quis que ela lhe pagasse os 3 mil yuans de volta.

Hu Bingmei, 34, mora no vilarejo de Nanjiashi (burgo de Sunzu, condado de Yinan). Ela foi obrigada a ligar as trompas. Ela se recusou e levaram-na à força para o hospital. Mas os médicos disseram que ela sofria de hipertensão e que não deveria ser feita a operação. A vice-diretora do serviço de planejamento familiar do condado decretou que não havia problema. Hu Bingmei foi forçada a passar pela operação, e foi obrigada a assinar um documento atestando que ela a fez de sua própria vontade. Ela diz que, desde essa cirurgia, passou a ter dores no abdômen.

Os slogans do planejamento familiar são extremamente violentos em Linyi: “Coloque um anel contraceptivo após o primeiro filho. Ligue as trompas depois do segundo filho. Senão, a lei será aplicada”; “Faça-o sair batendo e abortando-o. Impeça, por todos os meios, que ele nasça”; “Sem a ligadura, a casa cai. Sem o aborto, os animais vão embora”; “Mais valem dez túmulos frescos do que uma criança a mais...”

Tradução: Lana Lim





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