Por DAMIEN CAVE
CIUDAD JUÁREZ, México - Anjos não são uma visão comum aqui na mais violenta cidade fronteiriça do México, onde o cemitério público é pútrido e transbordante, e onde algumas igrejas veneram a esquelética Santa Muerte.
Mas recentemente, em cenários de crimes e em esquinas movimentadas, mais de uma dúzia de anjos apareceu -com 3 metros de altura, túnicas brancas e amplas asas emplumadas. O fato de esses anjos serem principalmente adolescentes ligados a uma pequena igreja evangélica de uma rua de terra não torna sua presença menos notável. Eles levam aos locais de homicídios cartazes que dizem: "Assassinos, arrependam-se".
"É incrível, uma das coisas mais espetaculares que eu já vi", disse Jesús Nuñez, diretor da Tocando Puertas, uma agência local de serviço social. "É perigoso, mas eles continuam fazendo isso."
Ciudad Juárez, é bom que se diga, está acostumada a se posicionar.
Passeatas contra a violência são mais comuns aqui, e os moradores têm menos medo de serem identificados nominalmente -talvez por causa da vasta experiência desta cidade com tragédias e horrores.
Mas os autointitulados Anjos Mensageiros estão entre os mais ousados. Eles começaram no ano passado, após conversas na Salmo 100, uma igreja cristã da periferia local. Carlos Mayorga, 33, líder do grupo, disse que os jovens fiéis estavam frustrados com a implacável violência.
Por isso convenceram as autoridades municipais a doarem cortinas velhas, que se tornariam as túnicas angelicais. Angariaram dinheiro para a maquiagem e recolheram penas para as asas.
Em seguida, escreveram cartazes que se dirigem de modo geral a criminosos e autoridades corruptas. "Queríamos cutucar as consciências das pessoas que têm causado tanta dor a esta cidade", disse Mayorga.
No início, os anjos se concentravam em esquinas movimentadas. Para se destacaram, subiam em cadeiras metálicas dobráveis, e suas túnicas cobriam as cadeiras e iam até o chão. Depois, para terem certeza de atingirem seu público-alvo, começaram a frequentar locais de crimes, onde suas angelicais mensagens costumavam ser recebidas com olhares de estranhamento e eventualmente com lágrimas e tristeza.
Há algumas semanas, o grupo se postou diante da sede da polícia, desafiando o seu renomado chefe, Julián Leyzaola, um ex-militar que é amado e odiado pela linha-dura que adotou aqui e anteriormente em Tijuana.
Não demorou para que as autoridades mandassem os anjos saírem. Eles se negaram, e Mayorga e outro líder adulto do grupo foram temporariamente detidos pela polícia.
"Eles se sentiram ameaçados", disse Mayorga. "Sabíamos do risco."
Alguns dos jovens anjos se disseram orgulhosos com a visibilidade da operação.
E, numa sexta-feira recente, se preparavam para outra noite pregando a penitência, e poucos se preocupavam com a própria segurança.
Uma menina queria um recado para a polícia, e outro para os criminosos de plantão.
"Talvez os sicários [pistoleiros] vejam isso e achem que Deus está indo atrás deles", disse Karen Olguín Rivas, 14. "As pessoas aqui precisam mudar."
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