terça-feira, 29 de novembro de 2011

Contabilizando cadáveres

Contabilizando cadáveres

Por JENNIFER SCHUESSLER

Com seus gráficos estilosos e coloridos, "The Great Big Book of Horrible Things: The Definitive Chronicle of History's 100 Worst Atrocities" (O grande livro de coisas horríveis: a crônica definitiva das cem piores atrocidades da história) pode parecer mais com um candidato a clássico de leitura macabra de banheiro que com um esforço sério de pesquisa.
Mas o livro de Matthew White, de Richmond, Virgínia, louco por números e que se descreve como "atrocitologista", chega acompanhado de recomendações de estudiosos diversos, incluindo um prefácio do psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard.
White, 54 anos, não tem diploma universitário nem formação em história ou estatística. Ele compila números de fontes secundárias diversas durante as horas livres de seu trabalho de bibliotecário.
Os números são estarrecedores e vão desde os conhecidos (1,67 milhão de vítimas do Khmer Vermelho, a atrocidade n° 39 na lista de White) até os quase esquecidos (13 milhões de mortos na rebelião de An Lushan, na China do século 8, 13° no ranking).
Quinze anos atrás, White desenhou um mapa ilustrando o colapso da União Soviética e o postou na internet. Mais mapas se seguiram e assim nasceu seu "Historical Atlas of the 20th Century".
A obsessão por contabilizar mortos começou mais tarde, acompanhada de um acúmulo constante de citações por acadêmicos reconhecidos: 377 livros publicados e 183 artigos.
A metodologia usada por White é simples. Ele reúne todas as estimativas que consegue encontrar. Rejeita os números maiores e menores e calcula a média, chegando a um número que ele reconhece que não passa de um palpite fundamentado. As mortes de fomes generalizadas e doenças decorrentes de conflitos armados são levadas em conta, mas não os desastres naturais e eventos econômicos ("é preciso haver uma base de violência", ele explicou).
Nem todos os acadêmicos confiam tão plenamente nos números de White. Benedict F. Kiernan, diretor do Programa de Estudos de Genocídio da Universidade Yale e especialista no Khmer Vermelho, disse em e-mail que fazer palpites sobre médias pode ser enganoso.
E White pode deslanchar discussões com as equivalências que traça, como, por exemplo, incluir as vítimas do Holocausto no total de 66 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, que, em seu livro, é o n° 1 entre as coisas mais horríveis de todos os tempos.
Para Pinker, as estimativas feitas por White "ficam do lado superior da escala". A questão de qual governante ou regime é o pior, segundo Charles Maier, historiador da Universidade Harvard, "ainda é uma pergunta muito natural", embora a maioria dos historiadores resista a focar os números.
"Ele (White) é um sujeito que não tem medo de sujar as mãos," observou Maier.

Texto do New York Times, republicado na Folha de São Paulo, de 21 de novembro de 2011

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