Meses antes do terremoto de Junho de 2013, havia gente na rua gritando "fora, Renan". O senador era símbolo da política fisiológica. Manifestantes de direita viam Calheiros como ícone da corrupção e amigo do governo de esquerda, enquanto a esquerda acreditava que ele puxava o governo Dilma Rousseff para a direita.
Renan Calheiros e seu PMDB faziam parte do centrão da época. Protagonizavam os arranjos de Brasília que seriam alvo do sentimento antipolítica que se tornou dominante nos megaprotestos de junho e se fortaleceu nos anos seguintes.
O papel de Calheiros e o tamanho do PMDB mudaram, mas o centrão continuou fazendo sua política às claras. Apesar de acomodações internas, o grupo não apenas sobreviveu a 2013 como se tornou, nas palavras de Celso Rocha de Barros, "o grande vencedor desses dez anos de contestação sistêmica".
O centrão resistiu à onda da antipolítica dobrando a aposta na velha política. Depois que a fúria das ruas drenou a popularidade presidencial, cardeais do Congresso aproveitaram para reforçar seu poder de barganha, ampliar o acesso aos cofres do governo e despejar dinheiro em suas bases eleitorais para facilitar a preservação de seus cargos.
Os agentes do centrão também foram poupados porque seriam úteis para a turma da antipolítica. Sem base social, o grupo foi adotado pela direita que prevaleceu nos protestos. Eduardo Cunha ganhou força, liderou o impeachment de Dilma, foi tratado como herói e só acabou descartado após a queda da petista.
O ocaso do ex-presidente da Câmara oferece uma explicação extra para a resistência do centrão. O grupo foi favorecido por um sistema eleitoral personalista, que fez com que as jornadas causassem danos a figuras específicas. Presidente, governadores e prefeitos tiveram prejuízo imediato. No Legislativo, a conta demorou a chegar e abateu velhos líderes com imagens já desgastadas.
O centrão de 2013 manteve e aperfeiçoou seus métodos. Seus sucessores dão as cartas até hoje.
Texto de Bruno Boghossian, na Folha de São Paulo.
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