Um novo distúrbio mental tem intrigado médicos e psiquiatras. Conhecida como Transtorno da Opinião Simplista Compulsiva Obsessiva —na sigla, Tosco—, a síndrome é marcada pela necessidade incontrolável de dar opiniões equivocadas sobre tudo, mesmo que ninguém tenha requisitado.
“Não posso ver uma pessoa reclamando que, sem que eu perceba, já mando um ‘é tudo mimimi’”, disse Antônio Marcondes, diagnosticado com Tosco há dez anos. Enquanto falava, o comerciante digitou “mimimi” três vezes para um funcionário que pedia o pagamento de 13º.
Carlos Duarte sofre de uma variante comum, o Tosco Tudo Culpa do PT. “Outro dia eu machuquei o dedo com martelo. Como martelo é comunista, o sangue é vermelho e eu vi estrelas de tanta dor, ficou claro que a culpa era do PT”, disse o engenheiro, que também culpou o PT pelo diagnóstico.
Familiares e amigos são os mais atingidos portadores da síndrome. É o caso da jovem Mirela Alves. Sua mãe, dona Dulce, sofre da versão Tosco Feminina Não Feminista, conhecida como Tosca. “É só minha depilação não estar em dia, que ela me chama de ‘feminazi peluda abortista’”, lamentou a jovem de 16 anos. Seu pai também sofre do distúrbio, mas na versão Tosco Lulinha Roubou o Nosso Nióbio. “E ele nem sabe o que é nióbio”, completou Mirela.
Embora sejam muitas as categorias, cientistas já catalogaram outras variantes como Tosco Blackface Não É Racismo, o Tosco Contra a Ditadura Gayzista, o Tosco Ninguém Mandou Deixar o Moleque Andar de Wakeboard e o mais recente Tosco Greta Thunberg é um Produto de Marketing.
Se engana quem pensa que o distúrbio atinge apenas integrantes da extrema direita. Já foram encontrados exemplares do outro extremo ideológico, como o Tosco Eu Avisei, o Tosco Nunca Perdoarei pelo Golpe e o Tosco Ninguém Mandou Votar no Ciro.
Cientistas estudam as melhores formas de tratamento, já que a psicanálise e o diálogo se mostraram ineficientes.
Por enquanto, o único remédio vem dos tempos antigos. Trata-se de um composto feito com o extrato da própria opinião da vítima, aplicado em forma de supositório.
Texto de Flávia Boggio, na Folha de São Paulo.
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