Em poucas horas, seis jovens morreram no Rio. Morreram porque eram pobres. Da favela da Grota, da Maré, de Água Santa, da Tijuca, de Bangu. Não há nenhum indício até agora, no entanto alguns foram enterrados acusados de serem traficantes. Mas, aqui do outro lado do túnel, a vida continua igual e o Rio continua lindo.
É um resultado indesejado, disse uma das autoridades. O porta-voz da PM não vê fracasso em operações que terminam com a morte de inocentes. O governador lamenta todas essas perdas e as futuras que possam acontecer. Cara de visão, já nos antecipa que é assim, tragédia diária na parte feia e esquecida da cidade. Mas o Rio continua lindo.
A av. Niemeyer, que liga a zona oeste e sul, está fechada por causa de risco de deslizamento, o que só piora o trânsito caótico. Mesmo assim o carro do prefeito Marcelo Crivella já foi flagrado algumas vezes passando pelo local com batedores. Para que ficar no congestionamento se você pode dar uma carteirada na fiscalização e fazer o trajeto em 10 minutos? A gestão de Crivella é mais uma calamidade, mas o Rio continua lindo.
Fabio, 13, passa os dias em frente a uma agência bancária no Leblon. Fez amizade com a vizinhança, que leva livros e lanches para o garoto. Desde os nove, vende panos de prato e balas. É o único responsável pelo sustento da casa. O que ele faz no bairro mais rico da cidade é trabalho infantil. Mas o Rio continua lindo.
Crianças da Maré entregaram 1.500 cartas à Justiça pedindo menos violência na comunidade. Uma delas diz: “O ruim das operações nas favelas é que não dá para brincar muito. E também morrem moradores nas comunidades”.
Parte o coração, todo mundo se indigna, não falamos em outra coisa por dias, rende assunto nos jornais. Mas logo essas tragédias são digeridas e esquecidas, assim como tantas outras, começa o verão, chega o Carnaval, afinal, o Rio continua lindo.
Texto de Mariliz Pereira Jorge, na Folha de São Paulo.
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