Começou o processo que pode afastar Michel Temer do poder. Nesta quinta, a segunda-secretária da Câmara leu a denúncia contra o presidente da República. O momento era grave, mas poucos deputados deram as caras. Durante uma hora e 36 minutos, a tucana Mariana Carvalho recitou as acusações para um mar de poltronas vazias.
O plenário às moscas resume o clima de apatia geral diante do processo contra Temer. A indignação com o presidente domina as redes sociais, mas não tem produzido mobilizações de massa. A maioria governista aproveita a indiferença da rua para evitar o assunto no Congresso.
O Planalto conta com essa inércia para segurar Temer na cadeira. A fidelidade ficou mais cara, mas ainda parece possível comprá-la com a distribuição de cargos e emendas.
Se é difícil convencer 172 deputados a defender Temer no microfone, a solução pode estar no plenário vazio. É por isso que o governo passou a apostar nas ausências para barrar a denúncia. A ideia é manter os parlamentares longe de Brasília ou bem escondidos, como aconteceu na primeira leitura da acusação.
Nesta terça, a oposição pediu ao presidente da Câmara que anuncie logo o rito do processo. O objetivo da reunião foi pressionar Rodrigo Maia a seguir o mesmo roteiro do impeachment de Dilma Rousseff. "A regra não pode mudar de acordo com o grau de amizade entre o presidente da Câmara e o governante", diz o deputado Alessandro Molon, da Rede.
Se Maia respeitar o rito de 2016, a denúncia contra Temer será votada num domingo, com milhões de eleitores colados na TV. Os parlamentares ausentes serão chamados três vezes no microfone, para deixar claro que eles resolveram se omitir.
"Se não for assim, a votação vai começar numa quinta à noite e terminar de madrugada, quando o povo já estiver dormindo", diz o deputado Júlio Delgado, do PSB. Seria o ambiente ideal para salvar um presidente com 7% de aprovação.
Texto de Bernardo Mello Franco, na Folha de São Paulo.
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