quarta-feira, 24 de maio de 2017

Roger Moore não fracassou nem foi um 007 extraordinário

Sim, Roger Moore, que morreu nesta terça (23) na Suíça, em decorrência de um câncer, como anunciou a família, era um homem bonito. E é preciso ser um pouco apressado para imaginar que isso, necessariamente, facilita a vida dos atores.
Moore, por exemplo, foi considerado bonito demais para o papel 007, quando o primeiro filme da série foi produzido, em 1962 ("O Satânico Dr. No"). O papel foi para o escocês Sean Connery. Roger teve de se contentar em ser Simon Templar, o aventureiro "O Santo" da série de TV britânica.
E séries de TV não gozavam, na época, do prestígio que têm hoje: era coisa para atores de segunda linha vista por adolescentes e crianças. Ponto. Já era esse o destino que se anunciava para Roger Moore como o intrépido "Ivanhoé", uma espécie de vice de Robin Hood, em que despontou pelo menos como galãzinho carismático ao longo dos anos 1958 e 1959.
Seguiram-se séries de TV, papéis em filmes nem tão conhecidos assim: tudo o credenciava a uma carreira mais que discreta até 1973, quando surgiu a oportunidade de se tornar James Bond, depois que Sean Connery pulou fora e George Lazenby não emplacou no papel.
Ao longo de sete filmes em 12 anos, Moore acabou tornando-se sinônimo de James Bond. Ninguém pense que ficou amargurado com a identidade. A vida do ator nascido em Stockwell não foi fácil. Depois que deixou os estudos regulares, aos 18 anos, fez sua primeira figuração em cinema em "César e Cleópatra" (1944) e estudou na Royal Academy of Dramatic Arts.
Tudo mais promissor do que proveitoso. Entre tentativas de emplacar em Hollywood e retornos à Inglaterra, parecia destinado ao anonimato. Já maduro, com seus 45 anos (nasceu em 10 de outubro de 1927) foi finalmente aceito como James Bond: o estigma da beleza de galã de matinê estava vencido.
Seria tão injusto dizer que fracassou quanto que foi um 007 extraordinário. Moore não tinha as qualidades necessárias a fazer a série emplacar em 1962. Era preciso um tipo mais maduro, mais cínico, mais desenvolto: Connery era o tipo certo. Também não seria hoje em dia, quando Daniel Craig relança o personagem e adapta-o ao gosto do novo século.
Mas Moore deu sequência ao personagem com correção e ânimo. Mais que isso, sua passagem pelo papel marca pela resistência. Ninguém até hoje durou tanto no papel quanto ele (verdade seja dita: Daniel Craig está chegando lá, mas com míseros quatro filmes).
Ninguém escapou mais da morte quanto o ator que estreou no papel no sintomático "Com 007 Viva e Deixe Morrer". Moore, que teve carreira sem brilho depois do papel, notabilizou-se sobretudo pelo trabalho humanitário. E, na vida real, escapara da morte em 2003, quando sofreu uma parada cardíaca em Nova York.
Desta vez teve, conforme os familiares, uma batalha dura porém curta contra o câncer.


Texto de Inácio Araújo, na Folha de São Paulo

terça-feira, 23 de maio de 2017

Não dá para pensar em acabar com o crack sem atacar pobreza e violência

Enquanto mais uma vez, a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado disputam os holofotes em mais uma operação policial na cracolândia, a questão principal, como tratar esses dependentes químicos, segue em aberto.
O programa "Redenção", anunciado pela gestão de João Doria (PSDB), ainda não passa de uma carta de intenções, mas já recebe críticas. Para o Ministério Público Estadual,o projeto apresenta "inconsistências", "falta de referencial teórico" e precisa de "modificação bastante profunda".
Mais de 20 anos depois de o crack se instalar na capital paulista e em outras regiões do país e atingir mais de 1 milhão de pessoas, ainda não existem programas consistentes para enfrentá-lo.
A questão é que não dá para pensar em resolver o problema da droga em si sem olhar para um outro bem maior: a pobreza e todos os problemas associados a ela.
A vasta maioria dos dependentes de crack tem histórico de discriminação, violência doméstica, abuso sexual e frágeis vínculos familiares.
Atacar apenas a substância química (no caso, o crack) não fará desaparecer os problemas associados a ela.
Muitos dos usuários estão tão absurdamente à margem da sociedade que o crack (assim como a bebida e outras drogas) servem de "remédios" para encararem a brutalidade do cotidiano.
Ao mesmo tempo, programas de assistência social não devem ser encarados como sinônimos de tratamento da dependência química.
Abrigo e alimentação são muito importantes para os usuários de crack em situação de rua, mas abordagens psicossociais, remédios para casos específicos (como depressão e ansiedade), e eventuais internações para situações de risco (surtos psicóticos) são igualmente fundamentais nesse processo.
Ter a abstinência como único indicador de sucesso do tratamento do usuário de crack é um outro equívoco.
Segundo estudos em saúde mental, para muitos dependentes do crack, especialmente os que vivem nas ruas, programas de redução de danos podem ser efetivos.
É possível que as pessoas não parem de usar drogas completamente, mas conseguem estabilizar suas vidas. Isso traz mais segurança para elas e para a comunidade onde vivem.
Em Vancouver (Canadá), por exemplo, são considerados indicadores de sucesso desses programas a redução de pequenos delitos e de internações por problemas ligados à droga, assim como a estabilidade na moradia.
Em entrevista à Folha no ano passado, a enfermeira canadense Liz Evans disse que qualquer serviço de redução de danos estará fadado ao fracasso se não ouvir os usuários.
"Porque será aquilo que nós queremos, e não o que eles precisam. A redução de danos é sobre aceitar as pessoas, e não ajudá-las a ser aquilo que você quer que sejam."
*
documentário "Hotel Laide", que conta a história de Angélica, 24, dependente de crack e que foi para as ruas aos sete anos, é um bom exemplo do que significa redução de danos. O vídeo está disponível no YouTube. 


Texto de Cláudia Collucci, na Folha de São Paulo

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Não estamos sós

No fim de semana passado, passei o dia sozinho em casa, tomando notas que serviriam para uma espécie de livro de memórias.
No meio da manhã, fiz um café na cozinha e, por causa de um título no jornal, lembrei-me de que era Dia das Mães. Minha mãe morreu em 1994, minha avó, antes disso; de qualquer forma, o Dia das Mães, na Itália, é em outra data.
Não havia ninguém que eu quisesse ou precisasse festejar.
No momento de voltar para a sala, tive uma experiência bizarra. Por um curto instante, pareceu-me óbvio que minha mãe estava viva, e quis lhe dizer o que eu acabava de ler no jornal, que era o Dia das Mães, e eu chamei "mamma", em voz alta, no meio do corredor da minha casa. Minha própria voz me acordou, e voltei para os dias de hoje.
Não fiquei preocupado; apenas feliz ao constatar que, depois de tantos anos, ela está presente na minha vida. Não preciso acreditar em espíritos ou fantasmas para desejar que eles existam e se manifestem.
Somos 7 bilhões hoje na Terra. Desde o começo da humanidade, calcula-se que aqui viveram 107 bilhões de humanos. Há por volta de 15 mortos por cada vivo.
Não são tantos. E aposto que a presença deles melhoraria nossa vida e nossa convivência. Eles são nosso passado, a história que nos produziu, e nós somos o futuro deles, a razão de eles terem vivido.
No sábado antes do Dia das Mães, eu li, encantado, em poucas horas, "A Cena Interior", de Marcel Cohen (editora 34, tradução de S. Titan Jr.). O livro talvez seja responsável pelo episódio bizarro do domingo.
Num tom direto e simples, Marcel Cohen evoca seus mortos (dos que ele se lembra e dos que ele soube por outros). Todos sumiram no genocídio, e cada capítulo se abre com o nome da pessoa e o número e a data do comboio que a levou de Paris (a dos anos 1930 e 1940, tão parecida com a de hoje) para o extermínio.
Na capa, Jacques Cohen toca um violino; é o pai de Marcel, nascido em Istambul em 1902 e sumido no Comboio nº 59, em setembro de 1943.
Os mortos deixaram alguns objetos, o violino, um porta-ovo, uma pulseirinha de prata"¦ Eles funcionam como a madeleine de Proust: abrem a porta da memória.
A extraordinária força do livro está no fato de que não se trata de lembranças ou de saudades; o que importa não são os sentimentos de Marcel, que escreve, mas são eles, os mortos, com suas vidas, longas ou breves, que persistem nestas páginas, sem idealizações, numa grandeza feita de pequenos nadas.
Numa hora em que tento escrever sobre minha infância e meus antepassados também descubro que, para a ciência contemporânea, os antepassados não estão apenas nos porta-retratos. Explico.
As girafas têm pescoço comprido. Cinquenta anos antes de Darwin, para Lamarck, cada girafa, vendo que a comida estava no alto, estendia seu pescoço; com isso, os filhotes nasceriam de pescoço mais comprido. Com Darwin, o entendimento da evolução mudou de rumo: os esforços dos indivíduos girafas para alongar seu pescoço não passariam pelos genes, e as girafas têm pescoço comprido porque as de pescoço curto morreram de fome, enquanto sobreviveram e se reproduziram apenas as que, por acaso, eram mais pescoçudas.
Cresci darwiniano, acreditando que cada geração transmite para a seguinte o mesmo genoma que ela recebeu de seus pais etc. Mas hoje hoje já se descobriu que não é bem assim.
Sem alterar a sequência do DNA, variações adquiridas durante a vida de um indivíduo (a girafa que fez o esforço de alongar seu pescoço) podem chegar aos seus descendentes.
Essas variações são ditas epigenéticas porque acontecem nas proteínas que envolvem o DNA ("epí" significa em cima, em grego).
Em suma, nossos hábitos e nossa maneira de viver afetam as gerações futuras, e pelo genoma –não só por serem eventualmente transmitidas como lendas familiares.
Não sei se nosso legado epigenético inclui só os hábitos de nosso corpo (se você comer muito chocolate, fumar, beber e não fizer exercício, então seus filhos etc.). Talvez ele inclua também nossas covardias, nossa coragem, nossa estupidez.
Sempre pensei que o passado está dentro da gente –até o passado do qual preferiríamos não nos lembrar. Agora parece que nossos mortos estão presentes ao redor de cada um de nossos genes. E que nós estaremos, com eles, ao redor dos genes de nossos filhos e filhas. Responsabilidade, hein?


Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo

Chris Cornell, vocalista do Audioslave e do Soundgarden, morre aos 52 anos

Chris Cornell, conhecido vocalista das bandas Soundgarden e Audioslave, morreu na noite desta quarta (17) em Detroit (EUA) aos 52 anos.
A autópsia do médico legista confirmou a hipótese já levantada pela polícia de que o músico se suicidou.
De acordo com nota divulgada, família e equipe gostariam de agradecer aos fãs pelo amor e pela lealdade e pedir privacidade e respeito neste momento.
Segundo a agência de notícias "Associated Press", a polícia afirma que um amigo da família teve que forçar a entrada no quarto de Cornell e o encontrou morto com uma faixa ao redor do seu pescoço. A publicação alega que a polícia suspeita que o cantor se suicidou.
Chris Cornell teve problemas com álcool e outras drogas durante a carreira. Em 2003, ao passar por um tratamento de reabilitação, ele disse em entrevista que gostava daquele processo. "É como uma escola, é interessante. Estou vendo que posso aprender aos 38 anos."
Cornell era um dos ícones do grunge com a banda Soundgarden, formada em Seattle no início dos anos 1980, e ganhou destaque no início da década de 1990, ao lado de grupos como Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam.
Após uma pausa com o Soundgarden, ele alternou carreira solo e outros projetos.
Em 2001, ele se juntou aos ex-integrantes do Rage Against the Machine —Tom Morello, Brad Wilk e Tim Commeford— e formou no Audioslave em 2001. A banda lançou três álbuns e se manteve até 2007.
Em 2010, o Soundgarden se reuniu para novos trabalhos e turnê. Neste mês, o grupo tem shows marcados em diversas cidades dos EUA.
A última passagem do músico pelo Brasil foi em dezembro do ano passado em turnê solo, após shows em 2007, no Citiback Hall, em 2011, no SWU, em 2013 no Festival Best of Blues e 2014, com o Soundgarden, no Lollapalooza.
Em março, ele divulgou um novo single solo, "The Promise".
Ele deixa a mulher e os filhos.


Notícia de Amon Borges, na Folha de São Paulo

Com 310 mil palavras de cinco países, VOC é um monumento da lusofonia

Depois de uma coluna cética sobre a promessa de futuro lusofônico corporificada no Acordo Ortográfico de 1990, semana passada, aqui vai uma com o sinal oposto. Não que eu seja ciclotímico: a realidade é que é.
Na última sexta-feira (12), na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, foi apresentada a primeira versão realmente abrangente do VOC (Vocabulário Ortográfico Comum) da língua portuguesa, com cerca de 310 mil palavras de cinco países submetidas a critérios lexicográficos unificados: Brasil, Portugal, Moçambique, Cabo Verde e Timor Leste.
A falta de perspectiva histórica que, por definição, caracteriza o noticiário convencional e o burburinho das redes sociais pode explicar a repercussão pífia de um fato cultural tão relevante.
A cargo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que tem representantes dos principais membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o VOC é uma obra em andamento há alguns anos –e ainda aberta.
O vocabulário nacional de São Tomé e Príncipe está pronto, mas depende da aprovação das autoridades locais para se somar à base comum. O de Angola deve estar disponível ano que vem e o da Guiné-Bissau mal começou a ser elaborado.
A Guiné Equatorial não conta como desfalque. O país aderiu à CPLP em 2014, depois de instituir por decreto o português como idioma oficial (ao lado de espanhol e francês), mas não fala nossa língua. Sua lusofonia é uma aspiração.
Disponível no endereço voc.cplp.org, o VOC é um instrumento de trabalho e um parque de diversões para amantes do português. Clicando na bandeira de cada país, direcionamos a busca ao seu vocabulário nacional. O símbolo do instituto leva à base comum.
E como fica o Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) da ABL (Academia Brasileira de Letras), o primeiro a consolidar um repertório de palavras em conformidade com o Acordo de 1990?
Revisado, o Volp está incorporado ao Vocabulário Ortográfico Comum e ganhou com isso. Submetido aos critérios rigorosos de um corpo técnico que a ABL não tem, foi purgado de deslizes embaraçosos.
Entre estes está o vocábulo "elefoa", absurdo feminino de "elefante" que nenhum lexicógrafo reconhece e que, além do território dos erros infantis, só existia no Volp.
Outro exemplo de bobagem –esta mais grave, por ter arrastado nossos principais dicionários– é a interpretação de certas palavras compostas como locuções, o que lhes subtrairia os hifens.
Com uma leitura idiossincrática do texto do Acordo, o Volp criou pesadelos em frases como "Maria vai com as outras porque é maria vai com as outras". Aleluia: o Vocabulário Ortográfico Comum devolve os hifens a "maria-vai-com-as-outras", "bumba-meu-boi", "deus-nos-acuda" etc.
Um dos representantes brasileiros no Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o linguista Carlos Alberto Faraco divide em duas partes a relevância do trabalho: a união das bases brasileira e portuguesa e a constituição de vocabulários nacionais que não existiam –de Moçambique, Cabo Verde e Timor Leste.
"Esse vasto acervo poderá servir de base para a escrita de um novo dicionário geral da língua, o que será um passo fundamental", comemora. "Aos poucos vai se consolidando o conceito de língua pluricêntrica para o português."


Texto de Sergio Rodrigues, na Folha de São Paulo

sábado, 13 de maio de 2017

Por você, meu futuro filho, tive que falar em espermograma

Por você, meu filho, mudei totalmente a minha vida. Há exatos oito meses tenho uma dor horrível no primeiro molar inferior esquerdo, mas achei melhor não fazer raio-x. Vai que te faz mal. Amo ansiolítico mais do que minha própria existência, mas nunca mais encostei em um. Por você, que nem existe, que ainda é só uma promessa de um amontoadinho de células todo dia 20 de cada mês, deixei de lado uma das coisas mais maravilhosas que pode acontecer na vida de uma mulher: ser solteira.
Por você, pequeno Felipe ou pequena Joana. Pequena Marieta ou Rita ou Anita. Meu pequeno João ou Nuno. Pequena Olímpia? Por você, minha gaveta de joias virou depósito de exames de gravidez. Minha espontânea vida sexual virou dia e hora certos (certos pra você, nunca pra mim). Por você fui capaz do maior milagre de todos: sou uma taurina histérica, carente e com pouca autoestima que aprendeu a guardar dinheiro. Sim, uso blusas com um pequeno furo remendado no sovaco e calças com a bunda puída. Você insiste em adiar nosso amor e eu já garanti parte do seu futuro.
Por você tive que falar em espermograma com um homem que estava há mais de 20 anos sem chegar perto de um laboratório. Por você enfiei um troço fosforescente no meu útero (ou era ovário?). Por você fiz um exame estranho que mede a idade do meu ovário (ou era útero?). Por você tomo Endofolim como se fosse 7Belo.
Já orcei a transformação do meu escritório em seu quarto. Já aumentei pra três vezes por semana as sessões de terapia (pra garantir que eu não surte e precise de ansiolíticos quando você aparecer dentro de mim). Por você eu parei de contar parceiros e desencantos e passei a contar óvulos e metros quadrados.
Parei de levar choques no fisioterapeuta, parei de fazer laser nas manchas de sol, parei de fazer botox, preenchimento, luzes, corrente russa, clareamento nos dentes e progressivas. Parei de fazer intrigas, divórcios e DSTs. Você ainda nem existe, mas eu sempre penso "e se ele já existe há dois segundos?". Ainda não.
Todo dia 20 você me pede mais um tempo. E eu sigo babando nos 784 filhos de amigos. O Instagram inteiro tem filhos. O Facebook inteiro tem filhos. Os vizinhos, as pessoas nas ruas, nas lojas, nas filas duplas. O mundo inteiro está grávido, meu filho, menos mamãe.
Por você eu perdi o medo de avião (não quero te passar nenhum trauma), estou estudando psicanálise (não quero te passar nenhum trauma) e joguei fora minha coleção de pênis de pelúcia (não quero te passar nenhum trauma). Eu levo a minha cachorra para brincar no parquinho do prédio e coloco ela sentadinha no gira-gira. Sim, ela já aprendeu a descer sozinha no escorregador. Eu sei, dá medo me conhecer, mas vai valer a pena.
Por você, meu filho, parei de ver graça em toda a sorte de piores espécimes masculinos do universo. Casados, misóginos, mitômanos, mendigos, publicitários. E passei a amar alguém que fica pra dormir por uma noite e também por quatro anos.
Até os 37 anos eu tive 17 anos. Por você, pela primeira vez na vida, ao fazer 38 anos, eu fiz 38 anos. Você esqueceu de aparecer no dia do meu aniversário, não tem problema. Faltará também nesse Dia das Mães, te perdoo. Mas Natal é Natal.


Tati Bernardi, na Folha de São Paulo