Artistas são barrados pelos EUA
Por LARRY ROHTER
Em março, tudo parecia estar pronto para a estreia americana de Pitingo, um jovem artista em ascensão, cantor de flamenco: o grande salão do Manhattan Center estava reservado, ingressos e programa tinham sido preparados, o orçamento de divulgação já tinha sido gasto. Mas, quando Pitingo foi à embaixada dos EUA em Madri para buscar seu visto de entrada, descobriu que seu nome estava na lista "no fly", de pessoas cuja entrada no país foi proibida.
Funcionários da embaixada sabiam que Pitingo, cujo nome real é Antonio Manuel Álvarez Vélez, não é terrorista e que o alvo verdadeiro era outra pessoa que compartilha com ele seu nome muito comum. Mas os procedimentos são os procedimentos e, quando a confusão foi resolvida, já era tarde para Pitingo embarcar para Nova York. Seus empresários e os promotores do concerto amargaram prejuízo de quase US$ 25 mil.
Nos dez anos passados desde os ataques de 11 de setembro de 2001, os procedimentos para a obtenção de visto americano por artistas estrangeiros vêm se tornando cada vez mais complicados, caros e arbitrários, e o sistema um empecilho sério aos intercâmbios culturais, dizem promotores de artes e advogados de imigração.
Alguns artistas estrangeiros, como a orquestra britânica Hallé, decidiram que já não vale a pena se apresentar nos EUA. Outros foram simplesmente rejeitados, caso de duas bandas convidadas para o festival South by Southwest, em Austin, no Texas, em março.
Ao todo, segundo os registros do Departamento de Segurança Interna, os pedidos de visto para artistas estrangeiros diminuíram quase 25% entre 2006 e 2010. O número de rejeições desses pedidos aumentou em mais de dois terços.
"Tudo está muito mais difícil", disse Palma R. Yanni, ex-presidente da Associação Americana de Advogados de Imigração e que também trabalha com vistos para artistas. "Não pensei que pudesse ficar pior do que estava depois do 11 de Setembro, mas os últimos dois anos têm sido terríveis. Parece que você precisa lutar por tudo, mesmo no caso de artistas renomados. Os padrões não mudaram, mas a agência não pára de instituir novas restrições sem aviso prévio, tornando tudo mais restritivo. Chamamos isso de cultura do não."
Um artista estrangeiro que busque autorização para se apresentar nos Estados Unidos precisa passar por um processo que envolve dois departamentos governamentais. O Departamento de Segurança Interna avalia o pedido inicial de visto e o Departamento de Estado, após uma entrevista com o artista, emite o visto.
O Congresso requer que o processo seja financeiramente sustentável, o que significa que as taxas cobradas são mais altas que as dos outros países. O Departamento de Segurança Interna chega a oferecer uma "taxa de processamento premium", mais acelerado, de US$ 1.225 por pedido -além da taxa padrão de US$ 325 pela abertura do processo-, o que supostamente garante uma resposta em 15 dias, mas administradores de artes reclamam que o departamento não cumpre seu próprio prazo e que demoras de até seis meses são comuns.
As agências governamentais alegam que os procedimentos detalhados protegem os americanos. "Queremos facilitar as viagens legítimas aos EUA, mas precisamos manter a segurança como nossa prioridade máxima", disse um representante do Departamento de Estado.
Em muitos casos, as demoras são resultantes de uma burocracia lenta e pesada. Mas os administradores de artes apontam para outros casos, especialmente os que envolvem artistas com nomes árabes ou muçulmanos.
As agências governamentais negam que exista alguma política discriminatória. Chris Bentley, porta-voz dos Serviços de Cidadania e Imigração do Departamento de Segurança Interna, diz que o departamento "segue estritamente uma política de tolerância zero que proíbe a discriminação com base em religião, raça ou etnia".
Houve problemas quando o diretor britânico Tim Supple levou um conjunto árabe a Toronto para apresentar a aclamada nova versão de "One Thousand and One Nights" ("As Mil e Uma Noites"), que reflete os acontecimentos da Primavera Árabe. A companhia não teve dificuldade em obter vistos para o Canadá e o Reino Unido, mas suas apresentações no Festival Shakespeare de Chicago foram canceladas quando 9 dos 40 membros da trupe foram sujeitos a escrutínio adicional e o prazo para viajarem se esgotou.
"Temos que respeitar o direito de cada um a sua própria segurança", disse Roy Luxford, o produtor do espetáculo. "Mas, se queremos acreditar em todo o discurso sobre sociedades abertas e intercâmbios culturais, as agências envolvidas no processo precisam reconhecer isso."
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