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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Um acordão nacional para desarmar a bomba da dívida do governo


No último ano, o governo federal pagou o equivalente a 6,7% do PIB em juros da dívida. Em valores corrigidos pela inflação, são R$ 787,2 bilhões.

Essa conta jamais foi tão alta, desde 1997, a não ser em cinco meses de 2015 e 2016, quando o país passava pela Grande Recessão. De 1997 a 2014, a média foi de 4,1% do PIB. De 2015 a 2019, de 5,2%. A série de dados do Tesouro começa em 1997.

A conta de juros recente é uma aberração, mesmo para padrões brasileiros. Os motivos imediatos são dívida maior, com juros costumeiramente altos, e a perspectiva de crescimento sem limite da dívida pública, dados os grandes déficits primários.

A receita do governo é ora de 17,92% do PIB. A despesa primária, que não inclui a conta de juros, é de 19,81% do PIB. Mesmo sem a conta de juros, a receita, pois, não dá para cobrir a despesa primária (Previdência, servidores, saúde, educação, Bolsa Família etc.). A conta de juros é paga com mais dívida. A dívida que vence é também paga com dívida nova.

A despesa primária decerto anda inflada por umas contas extraordinárias recentes. O déficit primário de 2% do PIB deve ficar em breve perto de 1% do PIB. O problema ainda será enorme.

Dada a presente situação, a dívida crescerá sem limite, até se tornar quase ingovernável ou governável de modo sinistro (grande inflação, um "ajuste Milei"), a não ser que cresçamos no antigo ritmo chinês. Não é viável.

A solução parece ser reduzir a taxa de juros. É possível fazê-lo, na marra, causando grande inflação ou também fuga e retranca do capital, o que reduzirá o crescimento —uma "solução argentina". Ou pode ser que alguém tenha na gaveta uma grande inovação prática e teórica.

Resta a "alternativa Haddad", fazer com que a "direita" (ricos) aceite pagar mais impostos e a esquerda aceite contenção de despesa. Qual proporção de impostos e de contenção de despesa depende de embate político, viabilidade econômica e da natureza do crescimento das despesas.

Algumas despesas crescem tanto ou mais que receita e PIB. Sem aumento de carga tributária, digamos que a receita cresce no ritmo do PIB.

Por exemplo, a despesa com Previdência era de 5,9% do PIB ao fim de FHC 2 (2002). Atualmente, de 8,2% do PIB. Ora é necessário que a economia cresça uns 4% para que a despesa com Previdência não cresça mais do que PIB e receita (vai piorar). Não é viável.

A "dívida bruta do governo geral" (federal, quase toda, estadual e municipal) equivalia a 71,7% do PIB antes do início de Lula 3. Está em 77,3%.

A dívida foi em média de 55% do PIB entre 2006 e 2014. Deu um salto na Grande Recessão, para 69,8% (final de 2016), chegando ao pico anterior de 77,1% em abril de 2019 (descontada a epidemia). Cresceu por causa de anos de PIB abaixo do nível de 2013, mais déficit, mais juros. Agora, a dívida aumenta como nunca e em anos de bom crescimento do PIB. Não é viável.

Dívidas podem ser reduzidas com grande inflação e miséria social. Ou com um plano crível de longo prazo que combine mais impostos com contenção de aumento de despesa primária. No Brasil de hoje, isso depende de profunda reforma previdenciária, de vinculações de despesa e receita, de revisão gigante do meio trilhão de benefícios tributários e de aumento de tributação de mais ricos.

É quase uma revolução social-fiscal. Depende de acordão nacional. Por ora, há apenas sabotagem nacional.


Texto de Vinicius Torres Freire na Folha de São Paulo

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Bela jogada de Sartori ao dar calote

A política é um tabuleiro de xadrez ocupado por jogadores que, muitas vezes, não conhecem as regras do jogo nem se interessam pelas estratégias possíveis. Na maior parte do tempo, porém, é um jogo que só serve para aprimorar a capacidade de jogar. Contam que um gênio do xadrez era incapaz de saber quem foi pior: Hitler ou Stalin? O governador José Ivo Sartori jogou bem ao dar calote na União. Pagou o funcionalismo deixando de pagar o que o Estado deve ao país.
Repassou o ônus da falta de recursos.
Ficou assim: vai faltar dinheiro na Saúde. Culpa da União, que bloqueia repasses para o Estado por causa do calote.
O governador tem outra solução para o curto prazer: aumentar o uso dos depósitos judiciais.
No seu xadrez, não é uma boa jogada. Sem calote na União e com o funcionalismo pago em dia, como aprovar aumento de impostos, extinções de fundações, privatizações de Estatais e outros lances supostamente de longo alcance?
O xadrez da dívida pública é assim: a União cobra juros exorbitantes dos Estados, pois precisa fazer caixa para pagar os juros exorbitantes devidos aos banqueiros internacionais. Se não fizer isso, recebe nota baixa das agências dos banqueiros.
Disso resulta uma definição. País confiável: aquele que ferra a sua população no dia a dia para fazer economias e pagar juros abusivos de dívidas pagas várias vezes. A isso se chama respeito aos contratos e responsabilidade fiscal.
Uma sugestão para ajudar o governador Sartori a diminuir os gastos do Estado: privatizar totalmente a organização da Expointer. Chegar de botar dinheiro público anualmente na festa privada de negócios da Farsul.
Seria uma jogada ousada no seu tabuleiro de xadrez.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

É oficial: pela primeira vez na história, Porto Rico entra em default

É oficial: pela primeira vez na história, Porto Rico entra em default


A agência governamental porto-riquenha Public Finance Corporation entregou apenas 628 mil dólares dos 58 milhões que teria de pagar. É a primeira vez que Porto Rico entra em incumprimento.

Era quase inevitável. Pela primeira vez na história do país, Porto Rico falhou o pagamento da dívida aos credores. Esta segunda-feira, e depois de as obrigações terem atingido a maturidade no primeiro dia de agosto, a agência governamental porto-riquenha Public Finance Corporation entregou apenas 628 mil dólares dos 58 milhões que teria de pagar.
A notícia, avançada por vários órgãos de comunicação social internacionais, que citam um comunicado assinado por Melba Acosta, presidente do Banco de Desenvolvimento do Governo [de Porto Rico], acaba por confirmar o que o governador Alejandro Garcia Padillo já tinha dito em abril: “A dívida [porto-riquenha] não é pagável” e não havia “outra opção” ou uma “opção mais fácil” que não fosse o incumprimento. “Isto não é política, é matemática”, reforçou, na altura em entrevista ao New York Times. A dívida de Porto Rico equivale a 72 mil milhões de dólares, 62 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual.
Como recupera o jornal britânico The Guardian, o arquipélago de Porto Rico, cuja soberania está sob responsabilidade dos Estados Unidos da América – apesar de ser um país autónomo – tem uma taxa de desemprego de 12% , mais do dobro da média dos EUA que se cifra nos 5,3%. Com uma população de 3,6 milhões de habitantes, os porto-riquenhos têm uma dívida que ultrapassa a dos Estados da Califórnia ou de Nova Iorque.
Na altura, e apesar de todos os apelos de Garcia Padillo, a Casa Branca foi taxativa ao dizer que um resgate federal estava fora de questão. “Não há ninguém na administração ou em Washington que esteja a considerar uma ajuda federal a Porto Rico”, garantiu então o porta-voz do governo norte-americano, Josh Earnest. “Mas continuamos empenhados em trabalhar com Porto Rico e com os seus líderes, dado que eles enfrentam desafios sérios”.
Entretanto, o governo porto-riquenho já contratou uma equipa para encontrar a solução possível. Liderada por uma ex-dirigente do FMI, Anne Krueger, o grupo de especialistas já traçou duas prioridades: reestruturação da dívida e a redução drástica de salários, prestações sociais e despesa pública.
Nos últimos meses, conta ainda o Guardian, mais de 100 escolas já fecharam e a situação pode tornar-se ainda mais dramática nas próximas semanas: o país está a passar por uma grave seca que já obrigou ao racionamento de água, explica a CNN.

Reprodução do Observador, via Jornal GGN

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Em valores de hoje, dívida externa deixada pela ditadura militar atingiria US$ 1,2 tri, quatro vezes a atual

Iniciado há exatos 50 anos, o regime militar deixou como herança uma dívida externa que permaneceu impagável ao longo da primeira década da redemocratização.
Ao final de 1984, último ano completo sob a ditadura, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto, ou seja, de toda a renda gerada no país.
Eram US$ 102,1 bilhões para um PIB -que indica a capacidade nacional de pagamento- de US$ 189,7 bilhões.
Em proporções de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, o quádruplo da dívida externa atual.
Mas a situação era ainda mais dramática porque, na época, dois terços do endividamento externo era de responsabilidade do governo federal, principalmente, dos Estados e dos municípios.
Hoje, a dívida externa pública, na casa dos US$ 120 bilhões, representa pouco menos de 40% da dívida externa total, enquanto as reservas em dólar do Banco Central superam os US$ 370 bilhões.
No governo militar, a dívida começou a crescer nos anos do crescimento econômico recorde que alimentava o poder político do regime. O desempenho do país, porém, começou a decrescer, como mostram os resultados dos ministros da Fazenda mais longevos desde o golpe de 1964.
Do “milagre econômico” de Delfim Netto à derrocada gerida por Ernane Galvêas, a escalada da riqueza deu lugar à disparada da inflação, e a multiplicação da dívida foi decisiva no processo.
A dívida rondava os 25% do PIB até 1979, quando deu um salto impulsionado pela elevação brusca das taxas de juros internacionais. Na época, o preço do petróleo havia subido muito, e os países ricos tentavam conter a inflação.
O Brasil teve de estimular as exportações para gerar os dólares necessários para o pagamento da dívida. Para isso, deixou as cotações da moeda americana subirem, o que tornava as exportações mais baratas -mas, em compensação, encarecia os produtos importados.
O resultado foi estagflação, a rara e temida combinação de economia estagnada e inflação acelerada, e ajudou a apressar a retirada dos militares.
Os pagamentos da dívida só foram regularizados em 1994, após acordo com os credores para reduzir o montante devido e os juros.

Reprodução parcial do blog Dinheiro Público, na Folha de São Paulo.

domingo, 18 de agosto de 2013

Gastos fixos fazem corte de impostos ser utopia

Gastos fixos fazem corte de impostos ser utopia
Custos administrativos representam fatia pequena dos gastos federais
INSS equivale a R$ 1.630 ao ano por brasileiro; despesas administrativas representam R$ 304
RICARDO MIOTODE SÃO PAULO

Não há, hoje, como reduzir significantemente impostos sem levar o país a deficit.
Isso porque o grosso dos gastos públicos não está na área administrativa. Ou seja, por maior que seja o choque de gestão, a redução no número de ministérios ou a economia em coisas como voos ou papelada, os gastos públicos continuarão altos.
Entre os vilões da despesa pública, destaca-se o gasto previdenciário. Em 2012, foram R$ 246 bilhões com aposentadorias urbanas e R$ 71 bilhões com aposentadoria rural, somando R$ 317 bilhões.
Em comparação, todas as universidades federais juntas levaram R$ 2 bilhões. No mesmo ano, o governo federal gastou no ano "apenas" R$ 800 milhões com passagens.
Veja o caso das passagens. Pode até existir espaço para reduzir desperdícios. Mas, mesmo se um decreto determinar que todo mundo sossegue na repartição, e nunca mais ninguém viajar pelo governo, esse gasto zero poderia ser arruinado por um mero aumento de 0,25% nos gastos previdenciários.
O cenário é especialmente preocupante porque a população brasileira vai deixar de ser jovem em breve. Hoje, cerca de 11% dos brasileiros têm mais de 60 anos. Em 2030, eles serão 19%. Em 2050, 30%.
Segundo o Balanço do Setor Público Nacional, União, Estados e cidades gastam 10,9% do PIB em previdência.
A Espanha gasta menos que o Brasil (10,7%) e tem 23% da população com mais de 60 anos. A Alemanha gasta 12,8% do PIB e a sua fatia de idosos é de 27%. O Brasil tem uma população jovem, mas já gasta como um país velho.
Segundo cálculos do professor da FGV Kaizô Iwakami Beltrão, estatístico especializado em seguridade social, no ritmo atual e se não houver nenhuma mudança, o custo da Previdência Social chegará a 46% do PIB já em 2030, valor claramente insustentável.
Somando a previdência a outros gastos engessados da área social, como o seguro-desemprego (R$ 39 bilhões) e a assistência a deficientes e idosos (R$ 29 bilhões), o desembolso do governo federal chega a R$ 405 bilhões --metade das despesas federais em 2012, que foram de cerca de R$ 800 bilhões.
Há ainda os salários do funcionalismo, também pouco flexíveis no curto prazo. No nível federal, os gastos foram de R$ 186 bilhões.
Embora também representem fatia significativa da despesa, o peso dos salários, ao contrário dos gastos previdenciários, tem diminuído.
Em 2000, eles representavam 4,57% do PIB. No ano passado, 4,22%. O custeio administrativo federal também caiu, de 1,50% para 1,34%.
Se os tributos repassados ao INSS fossem divididos pela população, cada brasileiro, na média, arcaria com R$ 1.630 ao ano, ante R$ 304 para despesas administrativas federais.

ESTADOS

As aposentadorias também representam um peso alto para os Estados, especialmente no que se refere a servidores públicos inativos.
Em São Paulo, o relatório elaborado pela Secretaria da Fazenda, comandada por Andrea Calabi, sobre o exercício de 2012, comenta o tema.
"Parte importante das despesas com pessoal é destinada a aposentadorias. O Regime Próprio de Previdência do Servidor, malgrado as contribuições que recebe dos servidores, não dispõe de recursos suficientes para fazer face às necessidades de desembolso. O Tesouro até hoje é chamado a cobrir o deficit."
O custeio administrativo leva R$ 330 de cada paulista ao ano, ante R$ 912 em aposentadorias e R$ 839 em pessoal --aí incluídos os mais de 200 mil professores e 100 mil PMs do Estado.


Reprodução da Folha de São Paulo

sábado, 3 de setembro de 2011

O muro das lamentações dos rentistas


Daqui a algumas décadas, quando se voltar os olhos para esse fim de ciclo financista, o escândalo que armaram com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de baixar em meio ponto a taxa Selic será um dos pontos centrais do anedotário malicioso nacional. O país tem disparado a mais alta taxa de juros do planeta – 12,5% ao ano. O Copom decidiu reduzi-la em meio (0,5!) ponto. Permaneceu uma taxa imensa, de 12% ao ano, contra praticamente zero dos Bancos Centrais de países avançados.

e o mundo iria acabar. O estardalhaço foi inacreditável. Economistas ouvidos meia hora depois já ensaiavam o muro das lamentações, sustentando que a decisão marcava o fim da autonomia do Banco Central.  Comentaristas que dias atrás admitiam que o câmbio estava excessivamente apreciado, e que os juros poderiam ser baixados, de repente revisaram suas opiniões e dispararam a metralhadora vesga contra a decisão.
E todos absolutamente incapazes de traçar correlação mais sofisticadas sobre os efeitos da crise internacional na economia brasileira – inclusive para rebater os argumentos do BC.
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Depois de anos e anos de cantilena mercadista, depois do fracasso mundial do modelo de desregulamentação do mercado, das reações universais contra essa visão estreita de mercado, depois dos inúmeros levantamentos sobre a forma de atuação do lobby financeiro, o mise-en-scène desses atores serve apenas como material didático, para comprovar como a economia – pelo menos na discussão pública – é apenas uma ferramenta visando legitimar interesses de grupos específicos, através de um linguajar pretensamente técnico.
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Quando se critica essa visão financista, não se pense no sistema bancário, os fundos de investimento em geral. Trata-se de um segmento restrito de rentistas que só sabem viver das benesses dos juros altos e do câmbio baixo.
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O mercado financeiro e de capitais são peças relevantes para o desenvolvimento do país. E ambos ficaram por anos atrofiados pela política de juros altos.
Bancos comerciais têm a importante tarefa de emprestar dinheiro. Quanto maior a taxa de juros, menos útil será sua função de emprestar. Não se empresta a longo prazo e se restringe a financiamento ao consumo e ao crédito consignado.
Já o mercado de capitais é fundamental para reciclar a poupança, aplicar em novos setores que surgem, em infraestrutura, na reestruturação da economia. Mas com taxas de juros elevados, a poupança se concentra no financiamento da dívida pública e se torna preguiçosa, mesquinha, ilegítima.
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No curto período em que a taxa Selic caiu abaixo de dois dígitos, houve um frenesi em muitos gestores de fundos, pela brecha que se abrir para que o capital privado migrasse dos títulos públicos para outras formas de aplicação, inclusive em investimentos de risco em infraestrutura.
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Os pretensos porta-vozes mercadistas não representam o lado mais dinâmico e moderno do mercado. Representam apenas o lado viciado do rentista, do sujeito que aprendeu a viver de juros e não tem ânimo sequer para correr riscos em atividades mais úteis.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Selic e dívida pública

Selic e dívida

Comparada à da maioria dos países, a situação fiscal brasileira pode ser avaliada como relativamente confortável, a despeito do esforço feito para manter a demanda global na crise de 2008-2009.
O crescimento nominal da dívida pública federal entre dezembro de 2008 e dezembro de 2010 foi de 21,4%, praticamente o mesmo crescimento do PIB nominal, o que deixou inalterada a relação dívida pública federal/PIB.
De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o governo federal terminou 2010 com uma dívida em poder do público de R$ 1,694 trilhão, com um prazo médio de vencimento de três anos e meio. Os compromissos vincendos em 2011 somam R$ 422,9 bilhões, sendo R$ 333,6 bilhões de amortização da dívida e R$ 89,3 bilhões de juros sobre o seu estoque.
A isso devem se somar os juros dos papéis do Tesouro em poder do Banco Central, que somam R$ 41,4 bilhões, o que exigirá R$ 464,3 bilhões para seu financiamento.
Como os recursos orçamentários aprovados para honrar a dívida federal são de R$ 98,7 bilhões, a necessidade líquida de financiamento pelo mercado em 2011 será de R$ 365,6 bilhões (R$ 464,3 bilhões - R$ 98,7 bilhões).
A STN, que tem feito um ótimo trabalho, deverá administrar o acréscimo de endividamento com algumas diretrizes gerais: 1) tentar aumentar o seu prazo médio; 2) diminuir a dívida de curto prazo; 3) substituir, gradualmente, sem perturbar o mercado de títulos públicos, os papéis remunerados pela Selic por outros com rentabilidade pré-fixada ou vinculada a índices de preços; e 4) continuar a construir uma estrutura a termo das taxas de juros nos mercados interno e externo para ampliar a liquidez de seus papéis.
O grande passo para melhorar a organização do estoque da dívida pública é reduzir a participação dos papéis indexados à Selic, que representam pouco menos de 1/3 do total (qualquer coisa em torno de R$ 550 bilhões), o que aumentará a "potência" da política monetária do Banco Central (a manobra com a taxa de juros real).
A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento da STN para 2011 é que essa possibilidade existe, desde que se reforce a coordenação entre as políticas monetária e fiscal.
Durante o mandato da presidente Dilma Rousseff vencem 80% do estoque da dívida financiada à taxa Selic. Com aquele suporte, a STN terá musculatura para promover um lento, cuidadoso e oportunístico ajustamento na direção de reduzir substancialmente o financiamento à taxa Selic e, assim, aumentar a "potência" da manipulação dos juros reais no controle da demanda global.



Assustador isso de cerca de ¼ da dívida pública vencer em um ano...
 

sábado, 23 de abril de 2011

Valor gasto com juros pagaria 15 programas como o Bolsa Família

Valor gasto com juros pagaria 15 programas como o Bolsa Família

Sergio Lamucci | De São Paulo
19/04/2011 

Os gastos com juros do setor público devem atingir cerca de R$ 230 bilhões neste ano, o equivalente a 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quase 15 vezes os R$ 15,5 bilhões que o governo federal deve destinar ao Bolsa Família em 2011. É um aumento considerável em relação aos R$ 195 bilhões de 2010, ou 5,3% do PIB. Neste ano, ciclo de aumento da taxa Selic e a inflação em alta contribuem para elevar os gastos financeiros do setor público.
O custo efetivo do endividamento líquido do setor público - que inclui, além da União, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobras e da Eletrobrás - também tem sido puxado para cima pela forte acumulação de reservas internacionais e pelas operações de capitalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo Tesouro. 
Para comparar com outra despesa pública importante, os R$ 230 bilhões de juros equivalem a pouco menos de seis vezes os R$ 40,1 bilhões de gastos que foram autorizados para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No começo do ano, os gastos com juros superaram pela primeira vez os R$ 200 bilhões no acumulado em 12 meses, somando R$ 205 bilhões em fevereiro, nessa base de comparação.
A alta da taxa Selic, que corrige 35% da dívida interna em títulos do Tesouro, ajuda a elevar esse custo em 2011, diz o economista Maurício Oreng, do Itaú Unibanco. Em 2011, os juros básicos já subiram 1 ponto percentual, devendo aumentar mais 0,5 ponto na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de amanhã, para 12,25% ao ano, segundo a maior parte dos analistas. Há também as operações compromissadas, pelas quais o Banco Central vende papéis ao mercado e os recompra depois de um determinado prazo, cujo custo é ligado à Selic. No fim de fevereiro, o saldo dessas operações era de R$ 360 bilhões.
Além dos juros em alta, a inflação ascendente também aumenta os gastos financeiros do setor público, lembra o economista Marcos Fantinatti, da MCM Consultores. Da dívida em títulos do governo federal, 30% são indexadas a índices de preços. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou 2010 em 5,9%, já acumula alta de 6,3% nos 12 meses até fevereiro. Nessa base de comparação, deve superar os 7% no começo do terceiro trimestre. "A elevação do juro implícito [o custo efetivo da dívida] do ano passado para 2011 será mais explicado por Selic e inflação em alta", afirma Fantinatti.
Ele projeta despesas com juros de R$ 236 bilhões neste ano, ou 5,8% do PIB. Há quem espere gastos mais modestos, mais próximos de 5% do PIB (cerca de R$ 205 bilhões) e quem veja despesas na casa de 6% do PIB R$ 246 bilhões). Se ficarem neste ano acima de 5,3% do PIB, o nível registrado em 2010, será a primeira vez desde 2005 que as despesas com juros vão subir nessa base de comparação.
O economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, projeta elevação dessas despesas neste ano, para 5,6% do PIB, chamando atenção para os custos salgados da acumulação de reservas.
O Brasil gasta tanto com juros porque tem uma dívida líquida ainda elevada, embora sua trajetória seja cadente e não haja risco de insolvência do setor público. Em fevereiro, por exemplo, ela estava em 39,9% do PIB, patamar maior que o de outros emergentes, como os cerca de 16% do PIB da China, 22% do PIB da Tailândia ou 34% do PIB do México, segundo números da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) para 2010. Sobre essa dívida, incide um juro bastante elevado, como lembra Oreng.
Nos últimos meses, o custo efetivo sobre a dívida líquida, dado pela chamada taxa implícita, subiu consideravelmente. No acumulado em 12 meses, passou de 14,4% em setembro do ano passado para 15,5% ao ano em fevereiro de 2011. É um patamar bem superior ao da taxa Selic, hoje em 11,75%.
O processo de forte acumulação de reservas internacionais, hoje acima de US$ 300 bilhões, e a maciça injeção de dinheiro do Tesouro no BNDES são dois dos principais motivos para o fenômeno de descolamento da taxa implícita e da Selic, diz o economista José Roberto Afonso, consultor técnico do Senado.
O aumento das reservas e a capitalização do BNDES elevaram o descompasso entre as taxas que corrigem os créditos e os débitos públicos, nota Afonso. Um ponto importante é que os gastos com juros são o saldo líquido entre o que o setor público gasta e o que recebe de juros.
No caso das capitalizações do BNDES, o Tesouro fica com crédito atrelados à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em 6% ao ano, enquanto seus débitos são vinculados à Selic.
Os créditos do governo federal junto ao BNDES, que eram de R$ 35 bilhões no fim de 2008, totalizavam R$ 236,7 bilhões em fevereiro deste ano.
A acumulação de reservas também tem custos elevados. Ao comprar dólares, o BC injeta reais na economia, que são retirados de circulação por meio das operações compromissadas. As reservas são aplicadas no exterior, a taxas baixíssimas, enquanto o custo para o setor público está ligado ao juro básico. 




Notícia do Valor Econômico, disponível no blog do Luís Nassif.