“Minhas filhas querem controlar tudo, desde minha forma de vestir até o meu dinheiro. Elas me xingam de velha maluca, ameaçam pedir a minha interdição por acharem que estou dilapidando o patrimônio da família. Dinheiro que eu ganhei trabalhando a vida inteira. Não aceitam que eu esteja feliz e namorando um homem mais jovem. Querem que eu fique trancada em casa cuidando dos netos.”
O que mais me surpreende é perceber que as próprias mulheres demonstram preconceito e intolerância com as mais velhas, como mostra uma dona de casa, de 74 anos.
“Minha neta diz que eu sou uma velha ridícula e que não tenho mais idade para usar legging, camiseta e tênis o tempo todo. Ela tem vergonha de sair comigo, quer que eu me comporte como uma senhorinha. Mas o que deve vestir uma mulher da minha idade para fazer ginástica? Ela me critica tanto que estou acreditando que sou uma velha ridícula.”
Em inúmeras entrevistas, encontrei o mesmo tom cruel e desrespeitoso com o envelhecimento feminino.
“Tenho 61 anos e fui comprar um jeans de uma grife famosa e a vendedora me tratou com total desprezo. Seu olhar de nojo gritava: ‘Você não se enxerga sua velha baranga? Não quero a etiqueta da minha loja desfilando na bunda de uma velha decrépita’. Fiquei chocada, já que as jovens falam tanto de sororidade, feminismo, empoderamento. Como ela não percebe que está sendo cúmplice da violência contra as mulheres e que está alimentando o preconceito contra si mesma no futuro?.”
Cada mulher brasileira, principalmente as mais jovens, deveria lutar contra os preconceitos sociais associados ao envelhecimento feminino e se reconhecer na velha que é hoje ou na velha que será amanhã.
Afinal, velha não é a outra, velha sou eu!
Texto de Mirian Goldenberg, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário