quinta-feira, 5 de julho de 2018

Nem sempre a tatuagem é para sempre

As duas novas amigas nunca tinham ido à praia juntas. Foi aí que uma delas notou as tatuagens. "Você fez essa em homenagem ao Neymar?", perguntou. A outra explicou que tinha sido uma homenagem a um namorado, que era homônimo do jogador, mas que infelizmente o relacionamento acabou. "Sabe como é, tirar uma tatuagem não é fácil", ela disse, "dói muito, e eu ia ter que gastar uma grana...Tentar cobrir com outro desenho não fica legal. Preferi deixar como está. Agora a tatuagem é uma homenagem ao Neymar da seleção".
"E esse Jesus?", quis saber a amiga, "É o Gabriel Jesus?". A outra explicou que não. Aquela tatuagem tinha sido uma homenagem a Jesus mesmo, aquele que foi crucificado de verdade, não pelos comentaristas esportivos. Mas que, há algum tempo, ela tinha abandonado a religião e não queria mais saber disso. "Felizmente, agora arranjei um namorado com o nome de Jesus, um venezuelano que veio pro Brasil há pouco tempo. Resolvi deixar a tatuagem aí, em homenagem a ele."
Mas pintou uma dúvida na mente da amiga curiosa. "E se o Brasil perder a Copa, o que você vai fazer?", perguntou. "Eu já pensei nisso", a outra respondeu, "se o Brasil perder, vou comprar um cachorrinho bem fofo e dar o nome de Neymar. Aí a tatuagem fica sendo em homenagem ao bichinho". Ela fez uma pausa e ficou pensativa, com o olhar perdido no horizonte. "O pior é que, na verdade, o meu namoro com o Jesus não tá legal, não sei se vai rolar..." A amiga prontamente deu uma sugestão: "Não tem problema, você compra um gatinho e bota o nome de Jesus. E a tatuagem continua valendo". A outra gostou da solução e ficou mais tranquila.
Nesse momento, a amiga notou uma tatuagem menor, que ainda não tinha visto. "E essa aí, na panturrilha: Paulão do Delivery?". A outra explicou: "Ah, isso é só uma tatuagem temporária, feita com henna. Daqui a três semanas já sumiu".

Crônica de Reinaldo Figueiredo,na Folha de São Paulo

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