quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Diante do interrogador


Diante do interrogador

Marido e mulher, dispostos a voltar a Nova York depois de anos sem ir lá, foram renovar seus vistos. Contrataram um despachante para apressar o processo, pagaram a taxa que os EUA cobram pelo visto e ficaram à espera da "entrevista" -que determina que brasileiros podem ou não entrar no país. Tudo pelo figurino.
Dois meses depois, viram-se diante do funcionário encarregado de interrogá-los -digo, entrevistá-los-, mas separados por um vidro, comunicando-se com ele por um microfone e tendo atrás de si uma arfante fila de outros brasileirinhos aspirantes ao visto. E, então, o interrogador perguntou ao homem quanto ele ganhava.
O homem hesitou. O que se dizia ali era ouvido por todo mundo ao redor. Se respondesse a verdade - que faturava, em média, US$ 50 mil por mês-, pareceria estar se gabando ou tentando humilhar as pessoas na fila. Sua hesitação foi tida como suspeita. O interrogador repetiu a pergunta, em tom áspero, como quem diz, "Ande logo, não me faça perder tempo".
O casal tinha cerca de 60 anos; o interrogador, idem. Pessoas nessa idade tendem a se conhecer por um olhar. E, por seus passaportes -cheios de carimbos europeus-, roupas e postura, nada sugeria que o casal pretendia estabelecer-se ilegalmente e vender pentes na rua 46. Mas o interrogador reincidiu na aspereza e, em seu pândego português com sotaque, ameaçou negar o visto.
Constrangido e se sentindo um criminoso, o homem decidiu mentir. Abateu pela metade a declaração de seus rendimentos. O interrogador pareceu satisfeito e mandou o carimbo. Isto foi há um ano. Outro dia, o presidente Obama, interessado em que mais turistas brasileiros ajudem a combalida economia americana, prometeu coibir as exigências de seus consulados. Veremos se coíbe também a arrogância.


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