Vida, tempo e aniversário
O que é uma vida produtiva? Trabalhar muito. Trabalhar sempre. Acumular bens supérfluos. Nunca tirar férias.
E se trabalhar demais tornasse a vida improdutiva?
Michel Houellebecq, em “O mapa e o território”, pensando em gente como Bill Gates e Steve Jobs, faz a pergunta que considera essencial a partir de um certo estágio existencial: por que o homem trabalha?
Minha resposta: porque não sabe brincar. Meu amigo Philippe Joron publicou um livro intitulado “A vida improdutiva”. Não é de hoje que o culto ao produtivismo encontra oposição intelectual de peso. Paul Lafargue, genro de Karl Marx, era a favor do direito à preguiça. Atenção, nada de preconceitos com o cara. Era uma tese.
Tentar definir o homem é uma velha ambição. Já se disse que o homem era antes de tudo “faber”, “homo faber”.
Homem da produção, do trabalho, da labuta. O historiador holandês Johan Huizinga saiu por outro caminho. Para ele o homem é “ludens”. Homem do jogo, do lúdico, da brincadeira, da festa. Passamos a vida esperando as horas livres do trabalho para gozar. Daí nossa paixão pelos jogos e pelos que trabalham jogando.
Alguns fazem do trabalho o seu jogo. Mas aí pode ser um jogo perverso, um jogo que devora o jogador. Edgar Morin meteu o pé na porta: o homem nunca é uma coisa só. Nem “faber” nem “ludens”. Mas “faber”, “ludens” e “demens”. Como já diz Caetano Veloso, de perto ninguém é normal. Foi isso que ele disse, não? Não venham me dizer, por favor, que estão achando esta conversa difícil por causa de umas palavrinhas em latim e uns nomes de pensadores.
É barbada. Até os eleitores do Tiririca podem entender.
Faça o teste para saber se você é “faber”, “ludens” ou “demens”.
Você vive para trabalhar ou trabalha para viver?
Sente taquicardia domingo à tarde de saudade do escritório? Sente falta de preencher formulários e de fazer reuniões de trabalho sábados à tarde? Vibra quando o despertador toca na segunda às seis da manhã?
Sente-se nu quando está sem o seu crachá? Define-se pela sua posição socioprofissional?
Vê no seu chefe um modelo a ser seguido? Inventa desculpas para não tirar férias?
Leva trabalho para fazer na praia? Pensa nas suas planilhas quando está folheando a Playboy com a Cléo Pires nua? Considera que trabalhar menos de 12 horas por dia é coisa de preguiçoso? Veste a camisa da empresa?
A resposta é definitiva e cristalina. Se respondeu sim a todas as questões acima, você não é “ludens”. Nem será. Caso perdido. Divertimento para você é perda de tempo. Salvo como negócio. Você é daqueles que só leram um romance na vida e viram alguns filmes porque caía no vestibular. Tudo precisa ser útil. Sexo só para reprodução ou para recuperar a energia produtiva. Aposto que está pensando que é “faber”. Não. O diagnóstico é irrefutável. Você é “demens”. Uma vida só pode ser produtiva se tiver muitos momentos de “improdutividade”. É preciso saber consumir. Mais importante ainda é saber “se consumir”. Seja produtivo na vida: caia na gandaia.
Dia de aniversário é dia de refletir, repensar, fazer balanço e tocar em frente.
E se trabalhar demais tornasse a vida improdutiva?
Michel Houellebecq, em “O mapa e o território”, pensando em gente como Bill Gates e Steve Jobs, faz a pergunta que considera essencial a partir de um certo estágio existencial: por que o homem trabalha?
Minha resposta: porque não sabe brincar. Meu amigo Philippe Joron publicou um livro intitulado “A vida improdutiva”. Não é de hoje que o culto ao produtivismo encontra oposição intelectual de peso. Paul Lafargue, genro de Karl Marx, era a favor do direito à preguiça. Atenção, nada de preconceitos com o cara. Era uma tese.
Tentar definir o homem é uma velha ambição. Já se disse que o homem era antes de tudo “faber”, “homo faber”.
Homem da produção, do trabalho, da labuta. O historiador holandês Johan Huizinga saiu por outro caminho. Para ele o homem é “ludens”. Homem do jogo, do lúdico, da brincadeira, da festa. Passamos a vida esperando as horas livres do trabalho para gozar. Daí nossa paixão pelos jogos e pelos que trabalham jogando.
Alguns fazem do trabalho o seu jogo. Mas aí pode ser um jogo perverso, um jogo que devora o jogador. Edgar Morin meteu o pé na porta: o homem nunca é uma coisa só. Nem “faber” nem “ludens”. Mas “faber”, “ludens” e “demens”. Como já diz Caetano Veloso, de perto ninguém é normal. Foi isso que ele disse, não? Não venham me dizer, por favor, que estão achando esta conversa difícil por causa de umas palavrinhas em latim e uns nomes de pensadores.
É barbada. Até os eleitores do Tiririca podem entender.
Faça o teste para saber se você é “faber”, “ludens” ou “demens”.
Você vive para trabalhar ou trabalha para viver?
Sente taquicardia domingo à tarde de saudade do escritório? Sente falta de preencher formulários e de fazer reuniões de trabalho sábados à tarde? Vibra quando o despertador toca na segunda às seis da manhã?
Sente-se nu quando está sem o seu crachá? Define-se pela sua posição socioprofissional?
Vê no seu chefe um modelo a ser seguido? Inventa desculpas para não tirar férias?
Leva trabalho para fazer na praia? Pensa nas suas planilhas quando está folheando a Playboy com a Cléo Pires nua? Considera que trabalhar menos de 12 horas por dia é coisa de preguiçoso? Veste a camisa da empresa?
A resposta é definitiva e cristalina. Se respondeu sim a todas as questões acima, você não é “ludens”. Nem será. Caso perdido. Divertimento para você é perda de tempo. Salvo como negócio. Você é daqueles que só leram um romance na vida e viram alguns filmes porque caía no vestibular. Tudo precisa ser útil. Sexo só para reprodução ou para recuperar a energia produtiva. Aposto que está pensando que é “faber”. Não. O diagnóstico é irrefutável. Você é “demens”. Uma vida só pode ser produtiva se tiver muitos momentos de “improdutividade”. É preciso saber consumir. Mais importante ainda é saber “se consumir”. Seja produtivo na vida: caia na gandaia.
Dia de aniversário é dia de refletir, repensar, fazer balanço e tocar em frente.
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