Uma amiga andou perdendo o sono por causa do Natal. Nada a ver com compras ou presentes. Mas porque, noites em seguida e até de manhã, o tec-tec de uma bolinha de pingue-pongue no andar de cima não a deixava dormir. Ele se perguntava como o casal seu vizinho conseguia jogar pingue-pongue a noite inteira e sair cedo para trabalhar. Mas o mistério acaba de se resolver. Ninguém estava jogando pingue-pongue. Era a gatinha do casal brincando com uma bola que subtraíra à árvore de Natal de seus donos. Essas bolas não são mais de vidro, mas de plástico, como as de pingue-pongue, e fazem o mesmo tec-tec.
Minha amiga atribuiu o equívoco à sua imaginação, que às vezes se mistura com a realidade a ponto de se confundirem. Ela é daquelas que fazem sinal para o metrô na estação, tentam abrir a roleta com a chave de casa e, ao volante, abaixam a cabeça ao entrar no túnel. Um dia, numa loja, esbarrou num manequim e pediu-lhe desculpas pensando que era o vendedor. Já lhe aconteceu de, ao tomar um ônibus, esquecer o filho no ponto e só se dar conta disso no ponto seguinte. E, fã de jazz, passou uma noite conversando comigo sobre o baterista Gene Krupa. Só que ela o chamava de Frank Capra, que, como se sabe, foi um diretor de cinema.
Eu próprio vivo dando foras. Há anos, fui apresentado num aeroporto ao cearense Ciro Gomes. Conversamos por alguns minutos e pedi licença: “Bem, tenho de tomar um avião. Tchau, Tasso” —e saí, confundindo Ciro com seu arqui-inimigo na política do Ceará, Tasso Jereissati.
Às vezes, a confusão é coletiva. Estava eu num botequim com o escritor baiano Marcos Santarrita quando entra um sujeito e me pergunta: “O senhor é o João Ubaldo Ribeiro?”. E eu: “Não. Eu sou o Rubem Fonseca”. Apontei para o Santarrita: “Ele é que é o João Ubaldo Ribeiro”.
O homem nos abraçou, empolgado. Era fã do Zé Rubem e do João Ubaldo.
Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário